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A insustentável leveza de empreender

Marco Roza

Colunista do UOL

08/07/2015 06h00

Às vezes, confundimos empreender com uma vida permeada por decisões arriscadas, sujeita a ganhos e perdas e a disputas acirradas com concorrentes egoístas. Como se participássemos de um jogo com gladiadores implacáveis, dispostos a ganhar da gente de qualquer maneira. Em alguns ambientes de negócios (talvez na Bolsa de Valores), quem sabe esse jogo implacável prevaleça.

Mas, na imensa maioria dos negócios, quando dependemos das decisões e avaliações dos clientes, a disputa é de outra ordem. Porque dependemos de nos manter presentes numa sequência de comparações emocionais, associadas às nuances comportamentais, de postura social e pessoal que reforçam, amadurecem ou descartam a decisão de compra.

Estabelecer a argumentação de venda com os corações, mentes e bolsos dos fregueses que emergem do caldo consumidor e se apresentam na sua loja, site ou ponto de prestação de serviços requer muito mais do que os tradicionais discursos convencionais de vendedor.

E as abordagens clichês não colam mais, porque quem chega até seu negócio já é gato escaldado. Já captou todas as nuances e boas intenções, nem sempre realizáveis, que esse discurso de venda tradicional tenta nos impor.

É necessário aprender a praticar a insustentável leveza de empreender. Querer vender, mas não forçar a barra. Querer seduzir, mas não exagerar nas tintas. Querer servir, mas agir com elegância.

Se conseguirmos seduzir o cliente, a ponto de arrancá-lo da massa difusa do mercado consumidor, a ponto de ele ou ela se materializar diante de nosso balcão ou site, de corpo e alma, é nossa obrigação aproveitar a oportunidade de bailar com suas emoções, que na imensa maioria das vezes, acompanham aquele consumidor de corpo presente.

Temos que lembrar, se quisermos mesmo exercitar a insustentável leveza de empreender, que o freguês ou freguesa é muito mais que um bolso disposto. É uma existência abstrata que representa uma imensa parcela de consumidores, que nos ungiu à condição de fornecedor.

Se soubermos bailar com suas dúvidas, dialogar com seus sotaques culturais, raciais e regionais seremos levados em conta naquele instante mágico que confirma a compra, que se realiza a venda.

E as chances de se repetir para aquele cliente e para os que estão sempre emocional e culturalmente vinculados com ele ou com ela talvez se ampliem. Isso é o prêmio que ganhamos se nos dedicarmos a praticar a insustentável leveza de empreender. Desde que, claro, sejamos bem-sucedidos.