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Gente que empreende antecipa erros e se arrisca sem medo de levar tombo

Marco Roza

Colunista do UOL

12/08/2015 06h00

Para os que não dão bola para as crises (que são cíclicas e passageiras) todo dia é dia de abrir uma nova empresa, um novo projeto, uma nova maneira de gerar valor e resgatar alguns trocados para sua conta bancária. Ou pelo menos, passar o dia e a noite tentando.

Esses empreendedores geralmente se desenganaram com o holerite. Seus talentos são tão maleáveis, sua vontade de buscar o novo tão intensa, que não se encaixam mais, por mais que tentem, nos empregos convencionais. Ou são demitidos. Ou demitem seus patrões.

Foram excluídos, por falta de afinidade, das corporações convencionais e se conscientizaram que só sobreviverão se associando com talentos como os seus e se partirem para a construção do novo, do surpreendente, do magnífico.

Um novo que nem sempre sairá nas páginas dos jornais econômicos ou nos programas especializados de TV. Mas, mesmo assim, consolidará realidades paralelas que garantirão a sobrevivência deles (ou delas) e de suas famílias.

Gente que empreende aprende, em primeiro lugar, a confiar no próprio taco. E a medir através do próprio talento as competências dos que naturalmente atraem para seus projetos.

De tanto arriscar, sem medo de serem infelizes, de tomar tombo e renascer da poeira, se tornam sábios práticos. Antecipam erros, porque erraram antes. E se associam sem medo, porque também já percorreram várias alternativas que nos levam às desconfianças bobas e improdutivas.

Gente que empreende tem sede de resultados. Porque depois de tanto tentar, as reservas se foram. E sabem que só podem contar com o que arrancarem do futuro. Por isso, se dedicam com fé inabalável a qualquer projeto.

Atravessam noites e fins de semana. Abandonam feriados. Queimam o resto das energias e dos afetos circundantes na garimpagem do próximo produto ou na otimização do serviço. Pois sabem que encontrarão o pote de ouro, ou pelo menos, alguns cobres a mais, na base do arco-íris de sua busca incessante.

Gente que empreende às vezes tem um papo chato. São focados demais, interessados demais nos detalhes de quaisquer ideias, que exaurem na busca de viabilidades ou de impossibilidades.

Mas são sempre pessoas com as quais podemos sempre contar com a companhia, com o bom humor, com o apoio sincero nas vitórias e nos momentos difíceis. Pois são parceiros dispostos a recitar, com o poeta espanhol António Machado: “Caminhante não há caminho,/se faz caminho ao andar.”