Arranjo empreendedor nos bastidores do Lollapalooza
Acabamos de testemunhar a terceira edição do Festival Internacional Lollapalooza no Brasil. Em versão mais grandiosa, em nova locação. Desta feita no autódromo de Interlagos. Conseguiu receber cerca de 80 mil pessoas no primeiro dia e, no segundo, 60 mil.
Atrair este público, parte vindo de outras regiões do país, para se mover e gastar dinheiro na cidade de São Paulo, durante um fim de semana, já seria um grande feito.
Mais ainda ao se pensar que o setor de shows ao vivo parece passar por uma fase de mais risco que anteriormente. Isto devido a fatores como crescimento menor da economia, desvalorização cambial, competitividade maior e pulverização de verbas de patrocínio devido à Copa do Mundo.
Shows individuais de Madonna e Lady Gaga, em 2012 e 2013, respectivamente, não conseguiram vender todos os ingressos (eu mesma fui ao da Madonna e sou testemunha disto). E cachês mais caros levaram, por exemplo, a não se ter outra edição do Festival SWU.
Pelos prejuízos do Lollapalooza na edição de 2013, os direitos de organização passaram, ainda no ano passado, da Geo Eventos (empresa da Globo) para a Time For Fun, da T4F Entretenimento S.A.
Ainda não se sabe dos resultados financeiros da edição deste ano. Mas, o que gostaria de destacar tem a ver com as diversas ações que os empreendedores têm que tomar na organização de eventos deste porte.
Nem vou tentar abordar o que deva ser a etapa de negociação com os diferentes artistas e bandas, as dificuldades de acertos de contratos jurídicos que abordam até direitos de imagem e de transmissão direta dos shows.
Sem contar as providências de viagem, hotelaria, e transporte e as mais idiossincráticas listas de exigências com respeito ao que querem em seus quartos de hotel e em seus camarins.
Escolher um espaço –600 mil metros quadrados - para acomodar diversos palcos, prevenindo problemas como interferência de som entre eles, camarins para as bandas e artistas, espaços para alimentação, banheiros para o público, circulação entre os diversos palcos e atrações, não é tarefa fácil.
Ainda mais se pensar que há que acomodar os camarins. Neste ano eles foram adaptados nos boxes do autódromo, receberam projetos de adaptação com requintes de decoração de interiores, incluindo mobiliário, peças de arte, além da rouparia, bebidas e comidas.
Há que negociar e acertar as condições de uso de tal espaço. Planejar e providenciar a montagem de palcos, iluminação, equipamentos de som, telões, lounges, áreas de alimentação, espaço VIP, locais para venda de fichas (para bebidas e alimentos), postos médicos e áreas para ações dos patrocinadores.
Sem contar com acertos com inúmeros fornecedores para estes serviços. Nesta edição até uma tenda com renomados chefs de cozinha foi criada – a Chef Stage. Deste modo, se ampliou a oferta e a qualidade da comida.
Além disto, há as questões de assegurar energia elétrica, segurança, os arranjos de estacionamento, como acomodar o fluxo de ônibus fretados e o transporte público.
Este último envolve negociações com secretaria de transportes (SPTrans), DPT (Departamento de Transporte Público), CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), com a CPTM e o Metrô, além de ônibus. Todo um esquema de vias de acesso e de bloqueios tem que ser criado.
Obviamente, que não estou enfocando as vertentes de outros eventos como "after parties", shows paralelos, venda de ingressos e marketing – desde obtenção de patrocínios à divulgação do evento.
Enfim, para que um evento destes ocorra, uma mega constelação de empreendedores e de empresas é formada, num arranjo temporário que tem de funcionar para propiciar a melhor experiência possível para os fãs de música, o que incluiu neste ano até crianças, por meio do Kidzapalooza.
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