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Entenda o que é grau de investimento

Do UOL, em São Paulo

21/12/2019 20h11

O "rating", ou classificação de risco, é a nota dada a uma empresa, um país, um título ou uma operação financeira para medir o risco de crédito. Serve para indicar a capacidade de um país ou empresa pagar suas dívidas e as chances de não conseguir, atrasando o pagamento ou dando calote. O "rating" soberano refere-se especificamente à qualidade do crédito de um país ou estado ou de seu Banco Central.

Para que serve o "rating"?

Os investidores usam os "ratings" para tomar decisões na hora de aplicar seu dinheiro. Por exemplo, a nota ajuda a escolher onde investir ou quanto cobrar de juros para compensar riscos maiores.

Quem faz essa avaliação?

Essa avaliação é feita por agências de classificação de risco. As principais são Standard & Poor's, Moody's e Fitch Ratings, que controlam uma parcela de mais de três quartos do mercado global de avaliações de risco.

Cada uma tem seu sistema próprio de avaliação. No caso de um país, por exemplo, são levados em conta fatores como o índice de reservas internacionais, solidez da economia e estabilidade política, além de fatores sociais, como liberdade de imprensa e distribuição de renda entre a população.

Como são calculados os "ratings"?

As escalas usadas pelas agências podem ser representadas por letras, números e sinais matemáticos (+ ou -) e normalmente vão de 'D' (nota mais baixa) a 'AAA' (nota mais alta).

Para realizar uma classificação de risco de crédito, as agências recorrem tanto a técnicas quantitativas, como análise de balanço, fluxo de caixa e projeções estatísticas, quanto a análises de elementos qualitativos, como ambiente externo, questões jurídicas e percepções sobre o emissor da dívida e seus processos.

A classificação envolve ainda avaliação de garantias e proteções contra riscos. Ela também incorpora o fator tempo: maiores horizontes implicam em maior imprevisibilidade. Assim, uma mesma empresa pode apresentar títulos de dívida com diferentes notas, de acordo com as garantias oferecidas ou prazos estabelecidos, entre outras características.

Entenda como as agências de risco dão notas e fazem o "rating".

Quais os efeitos dessa avaliação?

Um governo ou empresa consegue dinheiro vendendo títulos no mercado. Os investidores compram esses papéis com a promessa de receberem o dinheiro de volta no futuro com juros. Quando o governo ou empresa tem avaliação ruim de uma agência, considera-se que há risco de dar calote e de os investidores ficarem de mãos abanando.

Se houver desconfiança sobre essa devolução, fica difícil conseguir vender esses títulos. Nesse caso, o país ou empresa tem que pagar juros mais altos aos investidores para compensar o risco maior.

Por outro lado, quando se tem uma avaliação positiva, fica mais fácil obter dinheiro para se financiar.

Portanto, quanto melhor a classificação de um governo ou empresa, menor o custo para obter financiamentos.

A classificação é revista periodicamente, já que a qualidade de crédito (ou risco de calote) de uma empresa ou país pode mudar de um período para outro.

O que é grau de investimento e grau especulativo?

As notas ou "ratings" das agências de classificação de risco se dividem em dois grandes grupos: grau de investimento (ou "investment grade") e grau especulativo ("speculative grade"). É como se fosse um boletim de uma escola, no qual a nota mínima aceita seja 5: de 0 até 5, a nota é vermelha; de 5 até 10, é azul.

No caso dos "ratings", ter o grau de investimento seria o equivalente a ter nota azul. Essa nota indica que um governo ou empresa tem boas condições de pagar suas dívidas e pouco risco de dar calote. Portanto, é um lugar recomendável para os investidores aplicarem seu dinheiro.

Por outro lado, ter o grau especulativo é como estar com a nota vermelha e indica mais chances de calote.

O que países ganham com o grau de investimento?

O chamado grau de investimento indica aos investidores que uma economia tem baixo risco de dar calote e que as aplicações financeiras feitas por investidores estrangeiros nesse país terão risco próximo a zero.

Com uma avaliação positiva, o governo e as empresas nacionais têm a possibilidade de obter empréstimos no exterior com melhores condições de juros e pagamento. É como um bom devedor que é compensado por pagar suas contas em dia.

Há ainda alguns fundos de investimento que só podem investir em países que tenham o grau de investimento. Portanto, um país ou empresa sem esse "selo" de bom pagador não poderá receber esses recursos.

Os recursos obtidos por empresas e governos costumam ser direcionados a investimentos e podem gerar emprego, elevar a renda e aumentar o desenvolvimento de um país a médio prazo.

E se o país não tem ou perde o grau de investimento?

A falta do grau de investimento dificulta a vida financeira do governo e de empresas locais porque indica um risco maior de inadimplência.

Assim, se um país perde o grau de investimento, também perde investimentos, e o custo dos financiamentos daí por diante ficará mais alto.

Agências de risco falharam na crise de 2008

Os "ratings" são supostamente opiniões independentes imparciais, mas há críticas em relação à credibilidade das agências e questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse.

As agências de classificação de risco foram muito criticadas por terem falhado na crise global de 2008/2009.

Elas deram boas notas para operações de vendas de hipotecas imobiliárias nos EUA que afundaram bancos e investidores e geraram a grande crise financeira global.

A agência Standard & Poor's concordou em pagar US$ 1,4 bilhão ao Tesouro dos Estados Unidos para encerrar um processo no qual era acusada de ter propositalmente ocultado dos investidores chances de prejuízos.

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