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Para analistas, rebaixamento de nota do Brasil é 'sinal amarelo'

25/03/2014 05h52

O rebaixamento da nota de crédito soberano do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's não deve ter grande impacto econômico imediato, já que era esperado por parte do mercado, mas aumenta a pressão sobre o governo para que melhore a gestão fiscal, dizem analistas consultados pela BBC Brasil.

"Acendeu o sinal amarelo", disse à BBC Brasil o analista Christopher Garman, diretor para mercados emergentes do Eurasia Group.

"O medo de perder o grau de investimento deve impactar na maneira como o governo gerencia sua política macroeconômica", afirma.

Para Otto Nogami, professor de economia do Insper, a decisão pega o Brasil em um momento crítico, de dependência elevada em relação ao capital estrangeiro e baixo desempenho da balança comercial no ano passado, que teve o pior saldo desde 2000.

"Agora mais do que nunca a pressão para que o governo ande na linha aumenta de maneira significativa, principalmente em ano eleitoral", disse Nogami à BBC Brasil.

De acordo Garman, a grande dúvida é sobre o que vai acontecer após as eleições.

"A decisão da Standard & Poor's de rebaixar o Brasil antes da eleição acaba aumentando a probabilidade de que, depois do pleito, um eventual segundo governo de Dilma Rousseff venha a fazer um ajuste um pouco mais construtivo e amigável ao mercado", avalia.

Críticas

As agências de classificação de risco já foram criticadas por não terem alertado sobre os riscos da crise econômica mundial, em 2008. Na época, elas atribuíram boas notas para operações de vendas de hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos que acabaram afundando bancos e investidores.

Ao justificar a decisão de rebaixar, na segunda-feira, a nota do Brasil de BBB para BBB-, a menor classificação do grau de investimento, a Standard & Poor's disse que "os sinais enviados pelo governo quanto às suas políticas ainda não são claros, gerando implicações negativas para as suas contas fiscais e para a credibilidade de sua política econômica".

"O rebaixamento reflete a combinação da deterioração fiscal, a perspectiva de que a execução fiscal continuará fraca diante de um baixo crescimento nos próximos anos, de uma capacidade reduzida para ajustar suas políticas antes das eleições presidenciais e do ligeiro enfraquecimento das contas externas do Brasil", afirmou a agência.

A perspectiva do ranking foi modificada de negativa para estável - indicativo de que não deve ocorrer novo rebaixamento nos próximos meses e, segundo a agência, reflexo dos "pontos fortes das instituições brasileiras e do balanço do país, tanto externo quanto interno, apesar da recente deterioração política".

A notícia não surpreendeu o mercado. Em junho do ano passado, a agência já havia sinalizado que poderia rebaixar a nota do Brasil, diante do aumento das despesas e do crescimento fraco.

Há duas semanas, representantes da Standard & Poor's vieram ao país coletar informações sobre a situação econômica e foram recebidos pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

"Era de alguma maneira uma nota esperada por alguns analistas, exatamente pelo fato de alguns indicadores macroeconômicos terem se deteriorado nos últimos meses", afirma Nogami.

Ao saber da decisão, porém, o Ministério da Fazenda divulgou nota oficial em que considera a redução "inconsistente com as condições da economia brasileira" e "contraditória com a solidez e os fundamentos do país".

Investidores

O grau de investimento significa que um país é seguro para investidores e considerado bom pagador de seus compromissos.

O Brasil conquistou o grau de investimento em 2008. No final de 2011, a Standard & Poor's subiu a classificação do Brasil de BBB- para BBB, um degrau acima dentro do grau de investimento.

As agências Fitch e Moody's também conferiram ao Brasil o grau de investimento.

Agora, com anota BBB-, o país está no limite. Um eventual novo rebaixamento significaria a perda desse grau na avaliação da Standard & Poor's.

Uma eventual perda do grau de investimento traria diversos impactos negativos à economia, como maior custo de captação de recursos, depreciação do câmbio, redução do fluxo de investimentos para o Brasil e dificuldades para controlar com a inflação.

Mas analistas afirmam que não há sinalização de que as agências pretendam retirar essa classificação do Brasil no curto prazo.

"A Moody's está dando sinais de que não deve rebaixar a nota. O mesmo com a Fitch", observa Garman.

"No curto prazo, acho que o governo não vai fazer grandes mudanças antes da eleição a respeito desse rebaixamento porque sabe que não vai perder o grau de investimento antes da eleição", afirma.