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Santander corteja geração perdida da Espanha com apoio do Podemos

Charles Penty e Macarena Muñoz

29/01/2015 15h06

(Bloomberg) -- Ana Botín está tentando alinhar o Banco Santander SA à descontente geração jovem da Espanha com o apoio de um aliado inesperado.

Em um momento em que o desemprego de mais de 50 por cento entre os jovens está levando milhares de espanhóis a buscarem oportunidades no exterior e em que o governo está reduzindo o financiamento à educação, a presidente do conselho do maior banco da Espanha está divulgando uma iniciativa para financiar estágios. O banco colocou anúncios de capa e contracapa nos jornais El País, El Mundo e ABC na quarta-feira anunciando 5.000 novas vagas de estágio para ajudar a construir uma "Geração Encontrada" de jovens espanhóis.

Os anúncios coincidiram com um artigo do El País sobre o Podemos, o partido político criado há um ano que chegou ao primeiro lugar nas pesquisas de opinião prometendo reverter a política de austeridade na Espanha e impor um imposto aos bancos. Na reportagem, o secretário do partido em Madri, Jesús Montero, disse estar convencido de que a família Botín gostaria de melhorar os padrões de vida da população e que a presidente do conselho do banco estaria preparada para se reunir com o líder do Podemos, Pablo Iglesias. Os comentários foram confirmados por um funcionário do partido.

A vitória do aliado antiausteridade do Podemos na Grécia, o Syriza, causou um impacto nas ações dos bancos porque as diferenças do novo governo com a chamada troika de credores oficiais se tornaram mais duras. O Santander, por sua vez, está tentando se aproximar dos jovens espanhóis, que deram apoio ao repentino surgimento do Podemos, com aquilo que poderia ser um esforço de Botín para reconstruir a reputação do banco depois que os conflitos provocaram danos nas relações com os clientes, disse Javier Del Rey Morato, professor de Comunicação Política da Universidade Complutense, de Madri.

"O Santander parece estar reconhecendo o poder do Podemos e de sua mensagem -- é um reconhecimento de como as coisas estão mudando na Espanha -- ", disse Del Rey Morato, por telefone. "Certamente faz sentido que Botín tente pintar o Santander como uma espécie de república moral separada do restante do sistema bancário".

Um porta-voz do Santander preferiu não se posicionar sobre os comentários dos políticos do Podemos a respeito de Botín, quando contatado por telefone.

Ao ser questionada sobre o Podemos em novembro, Botín disse que todos os partidos políticos e bancos têm o interesse comum de trabalhar pelo crescimento econômico da Espanha.

Geração perdida

A campanha sobre a "geração encontrada" do banco visa a divulgar o apoio do banco à educação e, especificamente, o programa por meio do qual serão pagos 600 euros por mês aos estagiários para que trabalhem em pequenas e médias empresas por três meses, disse o porta-voz do Santander.

É difícil analisar os reais motivos por trás dos esforços do Santander e de outras empresas espanholas para provarem suas credenciais sociais e se aproximarem dos jovens, disse Joan Fontrodona, professor de Ética Empresarial da Faculdade de Negócios IESE, de Barcelona.

"Nós deveríamos ser pragmáticos a respeito disso e provavelmente dar a eles o benefício da dúvida", disse ele por telefone. "O mais importante é que empresas ou indivíduos decidam fazer uma contribuição, mesmo que seus motivos para isso possam não ser totalmente altruístas".

Título em inglês: Santander Courts Spain's Lost Generation With Podemos's Backing

Para entrar em contato com os repórteres: Charles Penty, em Madri, cpenty@bloomberg.net; Macarena Muñoz, em Madri, mmunoz39@bloomberg.net.