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Torres de perfuração de petróleo ficam paradas no mar e transformam Caribe em estacionamento caro

David Wethe

23/07/2015 11h03

(Bloomberg) - Imagine deixar seu barco de US$ 300 milhões estacionado durante meses no mar aberto, com mecânicos bem pagos por perto e seu motor andando.

O Golfo do México e o Mar do Caribe se transformaram em uma garagem de navios de perfuração em águas profundas - com um custo diário de cerca de US$ 70.000 cada. Ou é isso ou enviar valiosas torres de perfuração para um ferro-velho.

O dilema ressalta a forma em que um setor offshore que se preparou para um boom do petróleo está lidando com um desmoronamento. Os donos de torres estão pondo equipamentos de lado em números sem precedente porque vários clientes, entre eles a ConocoPhillips, estão se abstendo da exploração em águas profundas, cujos custos são mais altos. Isto ajudou a converter a Transocean Ltd. e a Ensco Plc em duas das três empresas com os piores desempenhos no Índice Standard Poor's 500 nos últimos doze meses.

"A maioria dos contratantes nunca viu um ambiente como este, onde a demanda esteja caindo tão rapidamente quanto está agora", disse David Smith, analista da Heikkinen Energy Advisors em Houston, em entrevista por telefone. "Tem sido uma grande dor de cabeça, e o problema é que ainda não passamos por metade disso".

Uma crescente superabundância de navios de exploração recentemente construídos já parecia suficientemente preocupante antes da depressão do petróleo. Agora está começando a parecer desastrosa.

Os estaleiros continuam lançando novas unidades para atender pedidos feitos durante o boom, mas pode ser que os fornecedores das torres já não precisem mais delas. Quando os contratos expirarem, é possível que muitos produtores não os renovem, e alguns estão sendo cancelados.

Navios parados

O número de navios de perfuração parados mais do que se triplicou desde o começo do ano passado, para 31, ou cerca de um de cada quatro navios deste tipo no planeta, segundo dados em um relatório da Bloomberg Intelligence. Trata-se da maior quantidade desde pelo menos julho de 2008, mostram os dados. Cerca de um terço desses navios sem uso estão no Golfo do México e no Caribe.

O número de unidades paradas das plataformas para águas profundas conhecidas como semissubmergíveis também não é reconfortante. Quarenta e seis das 190 no mundo estão ociosas, frente a 39 no começo de 2014.

Os embarques de mais de 60 torres novas agendados até o fim de 2018 não farão mais do que piorar a perspectiva, já que o petróleo bruto é vendido a menos de metade do valor que tinha em meados de 2014, sem sinais de uma recuperação importante.

Poucos contratos novos estão sendo assinados e até mesmo os atuais aluguéis de torres estão em questão.

Contrato cancelado

A ConocoPhillips disse em 16 de julho que cancelará um contrato de três anos com a Ensco por um navio de perfuração que teria custado US$ 550.000 por dia para trabalhar no Golfo do México. Mesmo assim, a produtora terá que pagar uma penalização à Ensco equivalente a dois anos de taxas diárias, ou cerca de US$ 400 milhões, disse a Ensco.

Se não houver sinais de trabalho novo no horizonte, pagar para manter os navios talvez seja muito caro.

Ainda no ano passado, a Deepwater Expedition, um navio da Transocean capaz de perfurar em águas de até 2.600 metros de profundidade, estava sendo alugado por US$ 650.000 por dia, uma das diárias mais caras já assinadas.

Depois do fim do seu contrato em novembro, a torre custava à maior dona de torres offshore do mundo cerca de US$ 100.000 por dia, disse Smith da Heikkinen. A Transocean não demorou em colocá-la à venda.

"Não apenas houve torres que finalizaram seus contratos e foram enviadas para o ferro-velho", disse Smith. "O fato de que eles estejam fazendo isso agora é um sinal pouco apreciado de quão ruim as coisas vão ficar na opinião dos empreiteiros".