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Com estigma do grau especulativo à espreita, títulos podem cair ainda mais

David Biller

29/07/2015 11h55

(Bloomberg) -- Está ficando cada vez mais difícil para os investidores manter o otimismo em relação ao Brasil em meio à retração econômica e ao déficit crescente no orçamento, que estão empurrando o país para mais perto do grau especulativo.

Na terça-feira, a Standard Poor's reduziu para negativa sua perspectiva para a dívida do Brasil, uma decisão que coloca o grau de investimento do país sob risco. O anúncio é o mais recente de uma série de más notícias no Brasil, onde a inflação ascendente tem forçado o Banco Central a elevar as taxas de juros, mesmo que no momento a economia enfrente sua contração mais profunda em um quarto de século.

Cinco anos depois de o Brasil ter saído da crise financeira global como uma das potências emergentes do mundo, o potencial rebaixamento para junk (grau especulativo) mostra como as coisas se tornaram terríveis na maior economia da América Latina. No mercado de bonds (títulos), os custos dos empréstimos do Brasil estão perto do nível mais alto em mais de cinco anos. O real caiu mais do que qualquer outra moeda importante neste ano.

"Para investir no Brasil com base em uma perspectiva de médio prazo você precisa da confiança de que eles estão indo na direção certa e no momento essa confiança está muito, muito baixa", disse Pablo Cisilino, gestor de recursos da Stone Harbor Investment Partners LP, que supervisiona US$ 50 bilhões em dívidas de mercados emergentes.

O sentimento de crise apenas se aprofundou com a receita tributária menor e a relutância do Congresso em aprovar as medidas de austeridade propostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Perspectiva negativa

A S&P rebaixou a perspectiva para o rating de crédito do Brasil, citando entre seus motivos os desafios para equilibrar o orçamento. A empresa classifica o país como BBB-, um degrau acima do grau especulativo. A Moody's Investors Service, que classifica o Brasil um nível acima, colocou o país em perspectiva negativa em setembro.

Os yields (rendimentos) dos bonds de 10 anos do Brasil subiram para 5,21% após o anúncio da S&P, antes de fecharem em 5,05%. O real tocou o menor nível em 12 anos em relação ao dólar e depois registrou uma valorização.

Os bonds e o real afundaram na semana passada depois que Levy propôs, em 22 de julho, uma meta de superávit equivalente a 0,15% do produto interno bruto deste ano antes do pagamento de juros. A proporção é menor que seu objetivo original, de 1,1%. Ele também disse que o governo coletou menos impostos do que o previsto originalmente.

Desde o anúncio de Levy, os investidores começaram a exigir um yield ainda maior para manter dívidas denominadas em dólares do Brasil em vez de títulos do Tesouro dos EUA. Pela primeira vez em mais de cinco anos, a diferença entre a dívida brasileira e os títulos do Tesouro americano é maior do que a média do mercado emergente.

Contenção de gastos

Levy respondeu ao anúncio da S&P dizendo que o Brasil está realizando mudanças que ajudarão a conter os gastos e a aumentar a renda tributária. Ele já conseguiu a aprovação de projetos de lei que limitam os benefícios dos trabalhadores e de aposentadoria e aumentam os impostos sobre as importações.

O fato de os bonds em dólares do Brasil estarem sendo negociados a um nível equivalente às dívidas classificadas como junk da Sérvia e da Croácia os tornam atrativos, segundo Edwin Gutierrez, da Aberdeen Asset Management Plc, que ajuda a supervisionar US$ 13 bilhões como chefe de dívida soberana de mercados emergentes.

Contudo, muitos parlamentares estão relutantes em aprovar as medidas adicionais de austeridade promovidas pelo governo em um momento em que o desemprego está em ascensão, assim como os custos dos empréstimos. Os analistas consultados pela Bloomberg projetam que o Banco Central elevará sua taxa básica para 14,25% nesta quarta-feira, que seria o patamar mais alto visto desde 2006.

Há quem diga que o mal-estar econômico do país continuará travando os investidores em bonds.

"Eu tenho vários clientes, como, por exemplo, empresas institucionais da Colômbia e do Panamá, que já não entrarão, independentemente do nível", disse Klaus Spielkamp, chefe de vendas de renda fixa da Bulltick LLC, por telefone. "Eles pensam que pode cair ainda mais".