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Em quem confiar para o crescimento mundial? Em compradores do Nasdaq ou em vendedores de commodities?

Simon Kennedy

04/08/2015 16h31

(Bloomberg) - Estes dias estão tendo efeitos divisores na economia mundial.

O Federal Reserve (Fed) e o Banco da Inglaterra (BOE, na sigla em inglês) estão se preparando para subir as taxas de juros, ao passo que o Banco do Japão e o Banco Central Europeu mantêm a política monetária ultraliberal. As economias desenvolvidas, lideradas pelos EUA, estão exibindo sinais de fortaleza ou pelo menos de estabilidade, ao passo que os mercados emergentes sucumbem à depressão da China.

Tais forças também estão criando divergências nos mercados financeiros. Considere o Bloomberg Commodity Index, que atualmente apresenta uma queda de 13 por cento no que vai deste ano e beira seu menor valor desde 2002. Na segunda-feira, o petróleo bruto Brent caiu para menos de US$ 50 por barril pela primeira vez desde janeiro. Enquanto isso, o Nasdaq 100 Index subiu 8 por cento neste ano e não está longe do recorde do mês passado.

Para Stephen Jen, que fundou o hedge fund SLJ Macro Partners LLP, com sede em Londres, e previu corretamente o fim da festa de amor dos mercados emergentes, a corrida para venda no petróleo e em outras matérias-primas reflete as dificuldades das economias emergentes. Como bloco, elas se encaminham para seu ano mais fraco desde 2009, e a China está se expandindo a seu ritmo mais lento em 25 anos.

O lado negativo é que os mercados acionários são representativos das taxas de juros baixas e as compras de bonds feitas por bancos centrais nas economias ricas, segundo Jen, ex-economista do FMI.

A pergunta que ele está fazendo a outros investidores é se as duas tendências são sustentáveis. As commodities podem continuar baixando e as ações de empresas de tecnologia subindo ou haverá uma reconciliação?

Reavaliação de perspectivas

Jen antevê duas fases. Na primeira, que está em andamento hoje, os bancos centrais dos mercados desenvolvidos aproveitam a baixa inflação decorrente dos preços mais baratos dos alimentos e da energia para justificarem políticas monetárias estimulantes, dando aos investidores uma razão para comprar ações durante mais algum tempo. Mesmo se o Fed e o BOE subirem os custos de crédito neste ano, seus líderes estão se comprometendo a avançar unicamente de forma gradativa, deixando muito dinheiro no sistema.

A próxima fase é menos atraente, segundo Jen. É quando os investidores em ações repensem a perspectiva para a economia mundial, e o catalisador provavelmente será o momento em que o Fed finalmente comece a subir as taxas de juros, talvez logo no mês que vem.

Durante quatro décadas, os altos funcionários do Fed alinharam uma política mais estrita a um crescimento mundial superior à tendência, disseram economistas do JPMorgan Chase Co. em uma nota para clientes na semana passada. Dessa vez, os banqueiros centrais dos EUA estão se preparando para agir depois de uma expansão mundial de apenas 2 por cento em cada um dos últimos dois trimestres, segundo o relatório.

Quando o Fed iniciar mesmo a mudança, é provável que a alta resultante dos yields sobre os bonds dos EUA leve a uma revisão das avaliações das ações nos países ricos e a mais vendas de ações em grandes volumes nos mercados emergentes, disse Jen a clientes em um relatório publicado na semana passada.

"O risco de uma correção importante nas ações mundiais aumenta à medida que nos aproximamos do primeiro aumento de taxas do Fed", disse Jen. "O Fed arquitetou cuidadosamente uma recuperação econômica liderada pelo mercado de ativos. Por sua vez, isto lhe dificultou muito a saída da sua atual postura em matéria de política econômica. Mas quando o Fed abandonar essa postura, como precisará fazer em algum momento, haverá consequências".

Título em inglês: 'Who to Trust on Global Growth? Nasdaq Buyer or Commodity Seller'

Para entrar em contato com o repórter: Simon Kennedy, em Londres, skennedy4@bloomberg.net