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Duas bacias petrolíferas da Petrobras: uma é segura e decadente e a outra, uma aposta cara

Peter Millard e Sabrina Valle

11/08/2015 10h18

A Bacia de Campos, ao largo do litoral norte do Rio, produz mais petróleo que qualquer outra região do Brasil, mas sua produção está caindo rapidamente devido ao envelhecimento dos campos. A Bacia de Santos, mais ao sul, possui as maiores descobertas de petróleo da história do Brasil, mas seus depósitos massivos, localizados a até 6,5 km de profundidade, são caros de explorar. Ambas as bacias precisam de bilhões de dólares em investimento cada e a Petrobras não conta com tanto dinheiro.

O dilema mostra o tamanho da queda da gigante petrolífera estatal do Brasil após seu auge em 2010, quando levantou US$ 70 bilhões naquela que foi, à época, a maior venda de ações da história para o financiamento de projetos da África ao Golfo do México.

Desde então, o amplo escândalo de corrupção e a queda dos preços do petróleo forçaram a empresa a reduzir o tamanho de suas operações. Atualmente, a Petobras está tentando vender quase US$ 60 bilhões em ativos e cortou mais de um terço de um plano de investimento de cinco anos que chegou a ser o maior do mundo.

"Eles definitivamente se desconcentraram quando todos ficaram muito animados com o pré-sal", que é como a região com os maiores campos da Bacia de Santos é conhecida, disse Ruaraidh Montgomery, analista sênior para pesquisa corporativa de petróleo e gás da Wood Mackenzie em Houston, EUA. O desafio da Petrobras é equilibrar os "pesados investimentos iniciais" da Bacia de Santos e garantir que "os ativos geradores de um bom fluxo de caixa consigam os investimentos que eles necessitam" na Bacia de Campos.

Grande player do petróleo

A decisão de focar na Bacia de Santos ou na de Campos não se resume simplesmente em reforçar a produção ou o fluxo de caixa da Petrobras -- embora a empresa, em dificuldades, certamente precise do impulso para quitar a dívida mais pesada da indústria petrolífera global--. A Bacia de Santos, que possui até 100 bilhões de barris de petróleo recuperável, segundo algumas estimativas, é também o pilar do plano do Brasil para se tornar um grande player do petróleo no cenário mundial.

A Petrobras, que tem sede no Rio de Janeiro, não respondeu a um pedido de comentário.

A Petrobras vem reduzindo algumas operações em Campos e se desfazendo de alguns ativos mais antigos nos últimos anos para ampliar a produção na Bacia de Santos. Os dados mostram: a produção da Petrobras em Campos caiu para 1,4 milhão de barris por dia em junho, nível mais baixo em 16 meses.

Esse volume responde por 65% da produção nacional, abaixo dos 76% de 2012. Apesar de a Petrobras estar ampliando a extração de petróleo de seus deficitários campos do pré-sal, isso não é suficiente para compensar a queda na Bacia de Campos.

Corrupção

"Será difícil conseguir aumentos líquidos com esse tipo de declínio e com os cortes nas despesas de capital que estamos vendo", disse o analista de pesquisas sobre o setor petrolífero brasileiro da Medley Global Advisors, Bernardo Wjuniski.

A Petrobras também está envolvida em um escândalo de corrupção que contaminou as maiores construtoras do país e ajudou a empurrar o Brasil para sua pior recessão em 25 anos.

A queda dos preços do petróleo piora os problemas e poderia levar a Petrobras a reduzir ainda mais seus investimentos, disse o Deutsche Bank AG na segunda-feira, em um relatório. O petróleo caiu 52% nos últimos 12 meses e o Brent para entrega em setembro fechou a US$ 50,21 o barril na segunda-feira.

A empresa precisa dos preços do Brent a pelo menos US$ 85 o barril e de paridade com os preços internacionais dos combustíveis para financiar investimentos e pagamentos de juros no ano que vem, disse o Deutsche Bank. A Petrobras diz que os preços do Brent a US$ 60 o barril em 2015 e a US$ 70 de 2016 a 2019 são suficientes para financiar seu plano de investimento de cinco anos, de US$ 130 bilhões.

A queda no preço do petróleo "aumenta a pressão sobre o balanço" da empresa, disse Montgomery, o analista da Wood Mackenzie. "O negócio do pré-sal ainda não está dando nenhum retorno. E está sugando o capital da empresa".