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Para pegar traders, promotores apertam Ctrl+F em busca de siglas suspeitas

Keri Geiger e Sam Mamudi

02/09/2015 15h42

(Bloomberg) - Os criminosos sempre cometem um deslize. Eles deixam impressões digitais. Cabelo. Uma guimba de cigarro.

Siglas reveladoras.

TYOP (tell you on phone, "lhe digo por telefone"), TOL (talk offline, "fale off-line") e LDL (let's discuss live, "discutamos ao vivo") são sinais de alarme para os promotores públicos que analisam as transcrições de e-mails de traders de Wall Street suspeitos de atividade ilegal. Não é necessário um laboratório criminal. Uma simples busca - Control-F no teclado do computador - se transformou em uma das armas favoritas dos investigadores para revelar possíveis violações da lei, segundo fontes do setor que concordaram em falar sob condição de anonimato.

"Levar uma conversa para fora da internet fornece evidência de intenção porque se você estiver tentando apagar seu rastro, você provavelmente saiba que o que está fazendo é errado", disse Eugene Ingoglia, sócio da Morvillo LLP e ex-subprocurador do governo dos EUA para o Distrito Sul de Nova York.

Frases como "ligue para meu celular" e "saiamos do e-mail" continuam sendo populares entre as pessoas que tramam transações com informação privilegiada ou a manipulação de alguns dos maiores mercados do mundo. Novas expressões e siglas aparecem o tempo todo, e as autoridades dizem que elas armam listas de termos preferidos.

As técnicas de evasão podem se tornar criativas. Raj Rajaratnam, o gerente de fundos condenado em 2011 por fazer transações com informação privilegiada, escrevia "fon" em vez de "phone" (duas grafias com a mesma pronúncia em língua inglesa). Os promotores públicos disseram que eles suspeitaram que a escrita incorreta pretendia distrair o antenado Javert eletrônico do Control-F.

Frases sugestivas

Os investigadores da Comissão de Valores Mobiliários e do Departamento de Justiça recebem tantos e-mails que não têm possibilidade de revisar todos sem usar Control-F, disse Reed Brodsky, sócio da Gibson, Dunn Crutcher LLP que processou Rajaratnam quando trabalhava com o Distrito Sul dos EUA.

"Eles empregam termos para achar evidência de se alguém está tentando ocultar suas atividades porque com frequência a evidência de um encobrimento é mais potente do que a evidência do crime alegado", disse Brodsky.

É claro, só destacar frases sugestivas não basta. Em muitos casos, os traders têm uma necessidade sincera de falar sobre transações complicadas pessoalmente ou pelo telefone. E se concentrar em uma sugestão para sair do e-mail costuma ser apenas o começo. Depois, as autoridades têm que analisar horas de registros, no que uma fonte do setor descreveu como um processo minuciosamente laborioso para juntar evidências de que um crime foi cometido.

No entanto, às vezes o simples fato de continuar uma conversa fora da internet pode bastar para gerar a presunção de atividade suspeita. Em 2010, senadores dos EUA obtiveram e-mails internos do Goldman Sachs Group Inc. nos quais os banqueiros empregaram as siglas LDL ("discutamos ao vivo") quando surgiam temas delicados. As revelações surgiram durante uma campanha para banir a prática dos bancos com seguros do governo federal que faziam trading para suas próprias contas. Isto contribuiu para a inclusão da Norma Volcker, que limita a forma em que os bancos apostam seu dinheiro, na Lei Dodd-Frank naquele ano.

Título em inglês: 'To Nab Traders, Prosecutors Hit Ctrl-F for Suspicious Acronyms'

Para entrar em contato com os repórteres: Keri Geiger, em Nova York, kgeiger4@bloomberg.net;

Sam Mamudi, em Nova York, smamudi@bloomberg.net