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Deutsche Bank volta a atrapalhar Merkel em ano de eleição

Patrick Donahue e Birgit Jennen

27/09/2016 13h52

(Bloomberg) -- Em abril de 2008, enquanto a crise financeira global se armava, Angela Merkel ofereceu uma recepção em sua chancelaria em Berlim para comemorar o aniversário de 60 anos do então presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann. Oito anos depois, o governo dela faz o possível para manter o maior banco da Alemanha a uma distância segura.

Escaldada por diversos embates entre o governo e o Deutsche Bank nos últimos anos, os problemas financeiros do banco são tudo o que Merkel não precisa enquanto considera concorrer a um quarto mandato.

Após uma reportagem de revista alimentar especulações, o porta-voz de Merkel agiu decisivamente para acabar com a ideia de que o banco possa precisar de ajuda do governo porque os EUA querem impor à instituição uma multa de bilhões de dólares (as negociações começaram em US$ 14 bilhões).

"É inimaginável que ajudemos o Deutsche Bank com dinheiro dos contribuintes", afirmou Hans Michelbach, parlamentar sênior da base de Merkel, liderada pelos democratas cristãos. "Isso levaria a uma revolta pública. O sistema político perderia credibilidade se o governo entrasse nisso."

Para Merkel, qualquer sugestão de ação oficial seria tóxica do ponto de vista eleitoral, ainda mais no momento em que ela enfrenta críticas a sua política para refugiados, descontentamento em sua própria base e queda das intenções de voto nas pesquisas.

E com qualquer recuo após anos de mão pesada sobre os chamados bancos grandes demais para quebrar, seria quase impossível convencer um eleitorado insatisfeito a aceitar um imposto sobre transações financeiras ou medidas referentes aos bônus dos bancos.

Um recuo também divergiria das regras pós-crise para a Europa defendidas por Merkel e seu ministro das Finanças, Wolfgang Schaeuble, vendidas aos eleitores alemães como forma de evitar futuros resgates de instituições com dinheiro dos contribuintes.

"Qualquer coisa que aparentemente signifique dinheiro dado ao setor financeiro seria particularmente criticada em um ano eleitoral", disse Joerg Rocholl, responsável pela faculdade de Administração ESMT, em Berlim. Qualquer resgate "seria visto como exemplo do que as pessoas criticaram: os lucros são privatizados enquanto os prejuízos são socializados", acrescentou.

Merkel lapidou sua posição em relação ao setor financeiro durante a crise da dívida do continente. Embora tenha defendido que os resgates soberanos eram necessários para manter a zona do euro unida, ela contextualizou a crise como uma batalha entre os investidores -- "os chamados mercados", segundo ela - e os políticos com responsabilidades perante a população.

Merkel saiu com cicatrizes políticas em lutas anteriores com o Deutsche Bank. Ela foi alvo de uma tempestade de críticas após a comemoração do aniversário de Ackermann.

Naquele mesmo ano, o governo dela atacou Ackermann por declarar à publicação Spiegel Online que ficaria "envergonhado" de pegar dinheiro do governo. Três anos depois, eles discordaram no Fórum Econômico Mundial em Davos sobre a gestão da crise das dívidas soberanas.

Desde então, Merkel tem mantido distância. Após o banco nomear John Cryan para substituir os copresidentes Anshu Jain e Juergen Fitschen em junho de 2015, ela expressou ceticismo quando lhe perguntaram se a substituição poderia ajudar o banco a restaurar suas finanças.

"Não teve efeito de surpresa sobre mim", disse Merkel a repórteres durante a cúpula do Grupo dos Sete na Bavária. "Eu quero que o Deutsche Bank consiga trabalhar com sucesso. Suas decisões são suas, como em qualquer outra empresa na Alemanha."

O Deutsche Bank declarou na segunda-feira que está "determinado a enfrentar os desafios sozinho". Ainda assim, Merkel pode ser pressionada a intervir em meio às negociações entre o banco e o Departamento de Justiça dos EUA em torno da multa.

O Fundo Monetário Internacional afirmou em junho que os vínculos do Deutsche Bank com outras instituições talvez façam dele o maior contribuidor individual ao risco sistêmico entre os bancos globais.