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Opinião: Jovens precisam decidir referendo na Itália

Mohamed El-Erian

02/12/2016 16h06Atualizada em 02/12/2016 16h42

(Bloomberg) -- É compreensível a apreensão de jovens italianos às vésperas do referendo constitucional em 4 de dezembro. Processos políticos outrora considerados improváveis resultaram na decisão pela saída do Reino Unido da União Europeia e na conquista da Casa Branca por Donald Trump.

Será que o plebiscito na Itália pode produzir outra virada política? E como isso afetaria o futuro de jovens que já encaram desemprego elevado e menos esperanças de concretizar aspirações legítimas?

O contexto é importante. Na Itália, o crescimento econômico é lento demais, os níveis de endividamento são elevados, o desemprego é alto e persiste há muito tempo, especialmente para quem corre o risco de passar de desempregado a não empregável.

Sucessivos governos não conseguiram proporcionar a melhora econômica que o país precisa - e é capaz de atingir. A confiança na classe política minguou e o sistema se tornou mais rígido.

O primeiro-ministro Matteo Renzi busca mais flexibilidade para implantar reformas que trariam resultados econômicos melhores. Mas o referendo não está sendo interpretado por muitos como um passo nessa direção, mas como um veredito sobre o governo dele e, mais amplamente, sobre o poder dado ao "establishment".

Essa leitura vem com o risco de desfechos incertos. O voto pelo "Não" abre a possibilidade de abalar o sistema para que fique mais motivado a entregar mudança benéfica, mas traz o risco -- no extremo - de pedido de demissão do primeiro-ministro, eleições antecipadas, instabilidade dos mercados financeiros ou até questionamento da permanência da Itália na zona do euro e do uso apenas da moeda única. Por outro lado, o voto pelo "Sim" pode concentrar poder em uma classe política na qual a população não tem muita confiança.

O Brexit mostrou a muitos jovens que a pior decisão é não fazer nada e permitir que seu destino seja definido por gerações mais velhas ? especialmente por eleitores revoltados que se importam apenas com uma questão específica e demonstram influência desproporcional. A saída é participarem ativamente do processo democrático e fazerem uma avaliação bem fundamentada das questões, pesando riscos e benefícios e as implicações para o bem-estar de gerações futuras.

Há muito em jogo para os jovens e para o futuro deles. São eles que precisam ir às urnas em massa e decidir o resultado.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.