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Análise: Decepção na economia brasileira, resiliência nas reformas

Josué Leonel

14/12/2016 15h23

(Bloomberg) -- O governo vai chegando ao final do ano com a economia e a política em rumos opostos ao imaginado pelo mercado antes de começar o governo de Michel Temer. Na economia, imaginava-se que a retomada começaria neste trimestre e em 2017 o PIB cresceria mais de 1%.

Hoje, vê-se que esta retomada não veio e as expectativas para o próximo ano rumam para zero. Na política, ocorreu o contrário, pelo menos naquilo que é o foco dos investidores, que são as reformas. Apesar de toda turbulência, o governo vem aprovando suas propostas dentro do prazo esperado pelo mercado e sem alterações importantes.

A aprovação da PEC do teto na terça-feira (13) com placar mais apertado do que na votação anterior chegou a ser vista inicialmente como um resultado negativo, mas em um segundo momento prevaleceu a leitura favorável de que, apesar de toda a tensão, o governo venceu uma etapa importante.

"Nós conseguimos", diz Carlos Kawall, economista do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro, reproduzindo o sentimento de alívio dos investidores com a aprovação da lei que limita o aumento dos gastos do governo.

Além da PEC, governo ainda obteve outros avanços, como a lei sobre os Estados e a mudança na regulação do setor de petróleo. Por outro lado, a economia continua gerando decepção. O Banco Safra, que já vinha projetando um PIB abaixo da média do mercado em 2017, com expansão de apenas 0,5%, deve revisar a estimativa para mais perto de zero.

Kawall cita como evidência recente desta decepção econômica o dado de serviços do IBGE de outubro divulgado hoje, que mostrou queda de 7,6% no comparativo anual, pior do que o estimado. A "luz no fim do túnel" para a economia superar esta queda livre é a possibilidade de o BC intensificar o corte dos juros.

O cenário básico de Kawall ainda é corte de 0,50 ponto em janeiro, mas ele não descarta quedas maiores nos meses seguintes se a inflação e atividade continuarem surpreendendo para baixo.

Apesar das decepções na economia, o sucesso do governo na votação da PEC do teto ajuda a garantir a tranquilidade no câmbio. A aprovação representa um "fato histórico" em termos de controle de gastos, que se buscava desde o Plano Real, diz Olavo Souza, gerente de renda fixa da Mirae.

Reforma da Previdência

A Previdência, diz o profissional, é segundo round das reformas. Em conjunto com a PEC do teto, pode representar uma "mudança estrutural" do estado brasileiro.

O governo atribuiu o placar apertado no Senado ontem ao baixo quórum, pelo fato de a votação ter sido antecipada. Além disso, como o primeiro turno foi muito folgado, os líderes aliados de Temer podem ter mostrado menor esforço de mobilização.

Outro fator que pode ter pesado é a disputa pela presidência da Câmara, que opõe segmentos da base do governo. O mercado monitora para o risco de algum revés originado desta disputa, mas por ora se mostra compreensivo, diz Rogério Braga, diretor da Quantitas Gestão de Recursos.

A reforma da Previdência, que enfrenta o primeiro obstáculo nesta quarta-feira na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara, deve ser uma medida de aprovação mais difícil, e que deve mostrar mais claramente o quanto as turbulências recentes, das delações da Odebrecht ao caso Renan Calheiros, afetaram o governo Temer.

Kawall, do Safra, faz uma analogia com os jogos de videogame. Após aprovar a PEC dos gastos, o governo mudou de "level" e agora vai enfrentar um desafio ainda mais difícil, ao tentar aprovar uma reforma que mexe diretamente com o interesse das pessoas e que o mercado considera vital para o país reconquistar a confiança dos investidores.

(Com a colaboração de Patricia Lara)