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Leão Cecil e seca encerram boom da vida selvagem sul-africana

Kevin Crowley

22/02/2017 13h59

(Bloomberg) -- Os preços dos animais selvagens estão despencando na África do Sul porque os criadores estão sendo espremidos pelas restrições impostas à caça depois que a morte do leão Cecil, em 2015, e a pior seca da história do país os forçaram a vender seus animais.

O preço médio do búfalo macho caiu 71 por cento em 2016, para 95.704 rands (US$ 7.336), e atualmente representa uma fração do recorde de 2,1 milhões de rands alcançado em 2013, segundo a casa de leilões Vleissentraal. Os preços do gnu dourado, do impala negro e do kudu macho caíram 60 a 80 por cento.

"Tem havido um ataque à indústria de animais de caça e isso tem afetado os preços", disse Peet van der Merwe, professor de turismo e vida selvagem da Universidade North West, da África do Sul. "A seca também prejudicou os criadores e muitos deles tiveram que vender animais."

O colapso marca o fim de um período de quatro anos de disparadas nos valores dos animais selvagens sul-africanos, muitas vezes alimentados de forma especial para que desenvolvam chifres maiores ou pelagens coloridas. A prática é alvo de críticas de ambientalistas e até mesmo de alguns caçadores, que a encaram como uma adulteração artificial do fundo genético.

O aumento dos preços entre 2011 e 2014 foi impulsionado pelo crescimento da caça de animais e pelo investimento de indivíduos ricos, como o bilionário do ramo de produtos de luxo Johann Rupert e o vice-presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Alguns criadores também passaram do gado para os animais de caça no período.

A situação mudou em 2015. O país enfrentou sua pior seca desde o início dos registros, em 1904, o que encareceu a ração. Além disso, o dentista americano Walter Palmer provocou indignação internacional ao matar ilegalmente o leão Cecil, de 13 anos, no Zimbábue, animal que era conhecido por sua impressionante juba negra.

Após a morte de Cecil, que fazia parte de um projeto de pesquisa da Universidade de Oxford, EUA, França, Holanda e Austrália ampliaram as restrições à importação de carcaças de animais. As empresas aéreas United Airlines e Delta Air Lines, por sua vez, proibiram os clientes de transportarem troféus de caça.

Os preços das espécies coloridas devido a alimentação especial também caíram no ano passado. O gnu dourado macho foi vendido em média a 395.363 rands, queda de 61 por cento em relação ao preço de 2015, segundo a Vleissentraal. O preço do impala negro macho caiu 78 por cento, e até mesmo os chamados animais "plains game", que têm valor inferior, como o kudu, tiveram declínio de 64 por cento no valor. Os gnus normalmente são cinza escuros e a cor mais comum do impala é o marrom avermelhado.

Os preços estão sendo afetados também pela oferta maior de animais de caça criados. Diante dos preços elevados, muitos criadores de gado passaram para os animais de caça entre 2012 e 2014, o que elevou temporariamente a demanda por animais reprodutores antes de alguns criadores terem sido forçados a vendê-los durante a seca, segundo Van der Merwe.