Brasil terá 2016 catastrófico, diz revista - e as causas são profundas
SÃO PAULO - O Brasil volta mais uma vez a ser destaque na economia internacional, e não pelas melhores razões. Desta vez, o Brasil ganhou as páginas da revista norte-americana de relações internacionais "Foreign Policy", no artigo de Christopher Sabatini, professor da Universidade Columbia, diretor do Council of the Americas e editor chefe da publicação “Americas Quarterly''. O texto se chama " A putrefação no coração da economia brasileira" [em tradução livre].
Segundo Sabatini, o Brasil terá um ano de 2016 catastrófico, a não ser que aponte para uma correção no rumo de suas políticas econômicas fracassadas das últimas décadas. Ele ressalta que, se no final de 2014, o Brasil parecia estar em uma situação bastante complicada - com o PIB (Produto Interno Bruto) caindo 0,1%, o real em queda e a perda de confiança dos empresários e dos consumidores -, levando Dilma Rousseff a colocar Joaquim Levy na Fazenda, agora os desafios do ministério, sob o comando de Nelson Barbosa, são muito maiores.
Para o professor, o primeiro passo para que a economia brasileira seja consertada é o reconhecimento de que os problemas são mais profundos. Se os problemas começaram a aparecer em meio à desaceleração do boom de commodities global que impulsionou o País, a verdade é que as raízes do mal estar são muito mais profundas, afirma Sabatini.
Elas vão desde "um modelo econômico historicamente fechado ao exterior, um sistema político complicado e corrompido por partidos divididos e a política local, além de um carnaval constitucional de garantias dos direitos sociais''.
O Brasil, afirma o artigo, participou apenas parcialmente da onda neoliberal que a América Latina registrou nos anos 1980 e 1990, na sequência de uma crise da dívida regional e de aumento das taxas de juros na década de 1980.
"Comparados com os seus vizinhos, as reformas do Brasil foram bastante heterodoxas e limitadas. O Estado manteve uma participação majoritária em duas das maiores entidades do governo do país: a mineradora Vale e a Petrobras", ressalta.
Corrupção contribui para a crise
Com uma economia muito limitada e dependente do Estado, o Brasil sofre com corrupção, que contribui para a crise atual. Além disso, o mercado brasileiro é frágil, com uma economia interna dependente do cenário incerto do consumo doméstico.
“A combinação de crédito barato, alta das exportações, mercados protegidos e gastos públicos criou uma bolha que adiou o enfrentamento de problemas estruturais do país e alimentou expectativas de crescimento irreais. Essas esperanças também foram alimentadas pela mídia internacional, investidores e até a conferência de Davos (de 2012) que colocou o Brasil como o queridinho dos emergentes'', afirma o artigo.
E reforça a tese: "em 2014, quando [Dilma] Rousseff foi reeleita por uma margem muito pequena, ficou claro para muitos brasileiros e muitos observadores internacionais que o programa do governo do PT não era sustentável. Mas é importante reconhecer que a combinação das políticas desenvolvidas pelo governo do PT foi mais do que apenas os sonhos da esquerda do Brasil sendo realizados. Eles têm suas raízes profundas na história, na cultura e na Constituição do Brasil".
Sabatini reforça que, no final, os sete anos de milagre do crescimento dos preços das commodities do Brasil podem ter sido perfeitamente adequados para manter o modelo econômico falho do país, permitindo ignorar as ineficiências maiores que alimentaram o consumo e o esbanjamento fiscal.
Acerto das contas
Agora, o desafio exige um acerto das contas nacionais, com o país tendo que enfrentar questões que vêm afetando o país há décadas, além de um realinhamento político e econômico dramático. "Existem alguns problemas que mesmo um experiente ministro da Fazenda amigável ao mercado não é capaz de resolver", conclui.
Porém, há quem tenha visto um cenário mais positivo (ou menos negativo) para o Brasil. Em matéria que contou com a opinião de diversos economistas, a Agência Estado destacou que a confiança no País melhorou e pode indicar que o pior da crise ficou para trás.
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