Ex-detento cria loja para atender mercado carcerário e planeja franquias

A ideia que surgiu por causa de uma necessidade de Péricles Ribeiro, 45, virou um negócio que agora atende mais de 500 pessoas por mês: a Loja do Preso, que fica no centro de Belo Horizonte, é voltada para o nicho carcerário e vende dos mais diversos itens, que vai desde higiene pessoal, a biscoitos, rádio, chinelo e até mesmo roupas para os visitantes, tudo conforme a regra de cada presídio.

Oportunidade de negócio

A loja surgiu em 2018, após Péricles passar 83 dias detido. Assim que saiu do presídio, ele passou pelo que a maioria dos ex-presidiários passam: a dificuldade em conseguir emprego. Ao UOL, ele conta que cada presídio tem suas regras do que pode ou não entrar nas unidades prisionais e como algumas famílias não entendem a parte burocrática, ele passou a oferecer esses serviços enviando apenas itens permitidos.

A própria esposa de Péricles já sentiu dificuldades ao levar itens para o marido, no período em que esteve preso. "Minha esposa levava biscoito recheado, mas não era permitido. Shampoo também, na época só poderia ser em frasco transparente e ela levou um de embalagem normal, que não podia".

Foi nessa oportunidade de mercado, que Pericles e a esposa começaram a vender os itens na porta dos presídios e conforme aumenou a demanda, criaram a loja.

"Eu não encontrava emprego e ficava lembrando daquilo que passei, foi aí que eu e minha esposa tivemos a ideia da loja. Foi ela que abraçou a causa, que me apoiou e sempre esteve ao meu lado. Se não fosse por esse apoio, acho que as coisas teriam seguido até por outro rumo. Hoje o negócio está sendo formatado para franquia, estamos seguindo todos os trâmites burocráticos e a ideia é ajudar não apenas a população carcerária de Minas Gerais, mas de todo o Brasil", disse Péricles, que é casado há 22 anos, trabalha na loja com a esposa e é pai de um jovem de 18.

A Loja do Preso é discreta e lembra uma espécie de mercearia, que vende um pouco de tudo. Na lista dos mais vendidos estão itens de alimentação: biscoito, suco, achocolatado e higiene pessoal, como sabonete, barbeador, shampoo e condicionador.

"Minha loja é bem discreta, não tem o nome na fachada da loja para não expor a clientela, os familiares. E até isso nós procuramos zelar na minha franquia. Vai ter a minha logomarca na fachada, mas não vai ter o nome "A Loja do Preso". A gente preserva a imagem do cliente para não gerar nenhum tipo de constrangimento"

Pericles explica que os itens recebem gírias diferentes pelos presos, como o chinelo, que é chamado de táxi, o aparelho de barbear que é trator, a cueca é coruja, o suco em pó é conhecido como veneno e o rádio virou papagaio. As famílias dos detentos vão até a loja ou entram em contato por WhatsApp para fazer a compra dos itens que eles acham necessários para os parentes.

Já enviamos para detentos no Rio de Janeiro, que são daqui de BH, mas estavam presos lá. Enviamos também para pessoas de Minas que foram presas em São Paulo, mas não é comum, não temos tanta demanda fora daqui. Com a criação das franquias, conseguiremos atender separadamente cada estado.

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População carcerária em celas físicas no Brasil é de 663 mil pessoas

Os clientes da Loja do Preso têm a opção de comprar os itens de forma avulsa e direto no balcão. Segundo Péricles, cerca de 200 pessoas são atendidas todos os meses direto na loja. Já os outros quase 500 clientes optam pela compra dos jumbos, que são kits completos e enviados em sacos transparentes via Sedex, que variam de R$ 164 a R$ 342.

Como os dados na mão, Péricles mira na expansão e tem planos de levar a Loja do Preso por todo o país.

Se Deus quiser, vamos abrir lojas no Brasil todo. Já tem uma lista de pessoas interessadas em comprar uma franquia. Agora a meta é a melhor possível, queremos abrir de cinco a 10 unidades em 2025