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ENTREVISTA-Smiles prevê ano mais difícil para resgate devido à alta do dólar

18/03/2015 20h50

Por Luciana Bruno

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A empresa de programa de fidelidade de clientes Smiles espera ano mais difícil para os resgates de milhas aéreas por conta da alta do dólar e o consequente encarecimento das viagens ao exterior, disse à Reuters o presidente da companhia, Leonel Andrade.

O executivo prevê, no entanto, continuidade da alta do acúmulo de milhas pelos mais de 10 milhões de participantes do programa de fidelidade da Gol, uma vez que o consumo via cartões de crédito deve continuar subindo, sob ritmo menor.

"Vai ser ano difícil no resgate. Com o dólar do jeito que está, as pessoas vão viajar menos, e usar menos milhas", disse Andrade. "Isso não é nenhum problema, na medida em que (as milhas) continuam entrando, as pessoas vão resgatar em algum momento", completou.

É somente no resgate que as milhas são contabilizadas como receita para a Smiles. Em 2014, o resgate de milhas da empresa subiu 9,4 por cento na comparação com 2013, para 33,6 bilhões, enquanto o acúmulo teve alta de 7,4 por cento, para 41,7 bilhões. Já a receita líquida foi de 808,1 milhões de reais, crescimento de 40,9 por cento ano contra ano.

Andrade não traçou projeções para 2015, mas declarou que a Smiles deve crescer margens de lucro acima do mercado, ganhando espaço de concorrentes como a Multiplus, programa de fidelidade da companhia aérea TAM e líder do segmento.

"Nosso foco é rentabilidade. Quando fizemos o IPO, o projeto era ter 'fair market share' em cinco anos", declarou, referindo-se a uma participação de mercado equivalente à dos concorrentes. A empresa realizou a oferta pública inicial de ações no fim de abril de 2013.

A estratégia da Smiles para crescer vai no sentido oposto à de concorrentes, privilegiando os resgates de passagens aéreas em detrimento do resgate de produtos e serviços. "Ninguém manda milha para a Smiles para trocar por telefone, manda porque quer voar", declarou Andrade.

Atualmente, produtos e serviços representam menos de 3 por cento do total de resgates da Smiles. Em concorrentes, essa porcentagem é superior a 10 por cento, disse Andrade. "O melhor valor percebido ainda é assento de avião", salientou.

Dessa forma, a empresa privilegia as parcerias com companhias aéreas, prevendo até o fim do ano fechar de dois a três novos contratos. Atualmente, a Smiles tem 12, entre os quais estão Delta, Air France, KLM, Qatar Airways, Aerolíneas Argentinas, Etihad, Alitalia e TAP. Em breve haverá parceria com Aeroméxico, Korean Air e Copa Airlines, enquanto também está finalizando tratativas com a Air Canada.

Outra frente estratégica é lançar novos produtos, na tentativa de repetir ações do passado que acabaram sendo copiadas por concorrentes, como o Smiles & Money, que permite ao cliente completar com dinheiro as milhas que faltam para resgatar as passagens. Lançado em 2013, esse produto responde hoje por 40 por cento da emissão de tíquetes da Smiles.

Sobre os acordos com varejistas, o executivo declarou que o objetivo não é ter alto volume de parceiros, mas apenas um líder de cada segmento. No ano passado, a Smiles fechou parceria com Cielo, FastShop, Magazine Luiza, Localiza, B2W, entre outros. Em 2015, assinou ainda acordo com Accor Hotels.

O relacionamento com os varejistas está agora fortalecido com a Netpoints, empresa de fidelidade voltada para o setor que recebeu aporte de 25 milhões de reais da Smiles no ano passado. O negócio foi aprovado em janeiro de 2014 pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

"As companhias aéreas são mais importantes para nós, mas o varejo é importante para criar engajamento. Quanto mais milha acumular, mais vai se engajar no programa", disse. "O foco são empresas que tenham algum alinhamento com o nosso core business, como é o caso da Localiza e Accor Hotels", completou.

Há ainda aposta em serviços "inusitados" ligados a viagens. No Carnaval, a Smiles permitiu a compra de abadás em Salvador, cidade natal de Andrade, com o uso de milhas. "Vamos fazer isso de novo no ano que vem."

Localizada em Alphavile, zona oeste da Grande São Paulo, a Smiles tem apenas 93 funcionários, enquanto seu faturamento bruto anual chega a mais de 1 bilhão de reais. Por ter pequena estrutura física, a empresa tem baixa necessidade de investimentos, distribuindo 100 por cento do lucro em dividendos, declarou o executivo.

Andrade disse que, "no momento", a Smiles não tem intenção de adquirir outras companhias. "Fizemos redução de capital e agora vamos reconstruir caixa", afirmou. A companhia promoveu em julho redução de capital social de 1 bilhão de reais por meio da restituição de 8,17 reais por ação aos acionistas, sem alteração do número de ações.

(Edição Alberto Alerigi Jr.)