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Menor aversão ao risco marca negócios; Bovespa avança e dólar cai

22/07/2014 14h10

Os mercados globais vivem um dia de arrefecimento da aversão ao risco, com diminuição das tensões geopolíticas entre o Ocidente e a Rússia em torno da Ucrânia. Com esse pano de fundo, as principais bolsas internacionais têm um dia positivo, com várias ações se recuperando das perdas de ontem.

No Brasil, a Bovespa também avança, mas sem a mesma firmeza vista no exterior. O principal termômetro da bolsa local sofre com a volatilidade dos papéis da Petrobras, em meio a especulações motivadas pelos resultados de pesquisas sobre a corrida à Presidência da República.

Com o ambiente externo positivo e a queda do dólar ante as divisas de emergentes, após dados de inflação nos Estados Unidos, o real se fortalece. Com o tombo do dólar e a falta de fôlego do retorno dos títulos do Tesouro americano, os juros futuros têm mais um dia de queda na BM&F.

Bolsa

O Ibovespa opera em alta nesta tarde, mas já registrou volatilidade e muita movimentação entre ações e predominância de Petrobras no volume financeiro. O índice subia 0,37%, para 57.850 pontos, ao redor de 14 horas. Dentro desse desempenho mais fraco na comparação com as bolsas internacionais, está uma possibilidade de correção, já que ontem, enquanto todos os mercados fecharam em queda, o Ibovespa, movido por questões eleitorais, voltou a subir.

Petrobras PN ganhava 0,19%. As ações mostram muita volatilidade. Para operadores, trata-se de correção, pois o papel ficou valorizado após os últimos resultados de pesquisas eleitorais. O mercado aguarda para hoje a pesquisa Ibope. "Na dúvida em relação a essa próxima pesquisa, o investidor realiza", diz um profissional.

Eletrobras está entre as quedas, com recuo de 1% nos papéis ON, depois de ter iniciado os negócios liderando as altas. As ações da Eletrobras chegaram a subir com a notícia de que a empresa anunciou um empréstimo de R$ 6,5 bilhões, com garantia da União, com a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Instituições privadas vinham negociando há cerca de um mês a concessão de empréstimos para a companhia, que precisa de recursos para realizar uma série de investimentos, mas desistiram de operação devido à falta de garantias apresentadas pela estatal federal.

Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da Órama Investimentos, a tendência de hoje para o mercado em geral ainda é positiva. Segundo ele, além da melhoria do humor no exterior, há expectativa em relação à pesquisa Ibope para a Presidência da República, que pode sair hoje, e o resultado do IPCA-15, divulgado nesta manhã. O índice de inflação veio abaixo do esperado e, segundo Bandeira, projeta um cenário mais tranquilo de juros, o que alivia o Ibovespa.

Câmbio

Um fluxo mais intenso direcionado à taxa Ptax garante um viés de baixa do dólar frente ao real nesta terça-feira, levando a moeda americana a romper o suporte de R$ 2,21.

A cerca de uma semana do vencimento de derivativos cambiais na BM&F previsto para agosto, operadores acreditam que a tradicional "briga" entre comprados e vendidos por uma Ptax mais conveniente a suas operações tende a ser vencida pelos vendedores de dólares. "Mas em uma semana muita coisa pode mudar", diz um operador.

Às 14 horas, o dólar comercial caía 0,52%, para R$ 2,2120, depois de ter batido R$ 2,2075 na mínima - menor patamar intradia desde 2 de julho (R$ 2,2060). O dólar para agosto recuava 0,45%, a R$ 2,2185.

O dólar vinha se mantendo perto da estabilidade na primeira meia hora de negócios, mas a divulgação de que o núcleo da inflação ao consumidor dos EUA em junho veio um pouco abaixo do esperado estimulou um apetite mais vendedor da moeda americana, na esteira da reversão dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano.

"O CPI [índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês] mostrou que a inflação nos Estados Unidos ainda deve aumentar muito lentamente. Isso dá espaço para que o juro continue perto de zero por lá por mais um tempo", diz o profissional da área de câmbio de uma gestora.

De volta ao plano doméstico, a questão eleitoral segue no radar. Investidores aguardam a divulgação de resultados de uma pesquisa do Ibope sobre a corrida à Presidência da República. Sondagens do Sensus e Datafolha divulgadas recentemente mostraram queda nas intenções de voto à presidente Dilma Rousseff (PT) e uma aproximação do candidato tucano Aécio Neves. A queda de Dilma é saudada pelo mercado, que considera o atual governo intervencionista.

As intervenções do Banco Central (BC) também ajudam a sustentar a queda do dólar.

Juros

A dobradinha formada por inflação comportada no Brasil e nos Estados Unidos derruba os juros futuros na BM&F. As taxas dos principais contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) já iniciaram os negócios sem força, sob o impacto do IPCA-15 de julho, e murcharam de vez ? acompanhando o dólar e o rendimento dos títulos do Tesouro americano ? com a divulgação da inflação de junho nos EUA.

Do lado interno, as leituras de inflação corrente, o fantasma da recessão técnica e as especulações em torno da corrida presidencial deprimem os prêmios de risco. Passado o efeito Copa do Mundo, que havia turbinado os preços dos serviços, o IPCA-15 desacelerou de 0,47% em junho para 0,17% em julho, variação inferior à média de 0,21% apurada pelo Valor Data com 19 consultorias e instituições financeiras.

Embora o índice acumulado em 12 meses tenha subido de 6,41% para 6,51%, furando o teto da meta de inflação (6,5%), é patente a desaceleração da inflação na margem.

Se a rigidez das expectativas e a inflação em 12 meses acima do teto da meta desautorizam, em tese, uma queda da Selic no curto prazo, a fraqueza da economia e a perda de fôlego dos preços na margem eliminam a perspectiva de novo aperto monetário.

O DI para janeiro de 2015 ? que espelha as apostas sobre o rumo da Selic neste ano - declinava de 10,74% para 10,71%. A taxa do DI para janeiro de 2016 cedia de 10,94% para 10,91%.

Ao quadro econômico indigesto soma-se a especulação eleitoral. Espera-se que pesquisa do Ibope para a corrida presidencial confirme os resultados dos levantamentos do Datafolha e do Instituto Sensus ? ou seja, mostre uma disputa acirrada entre a presidente Dilma Rousseff e o candidato tucano Aécio Neves em um eventual segundo turno.

"O IPCA-15 veio muito bom, com núcleos baixos e difusão menor, o que agradou o mercado. E, com Treasuries para baixo e essa perspectiva de vitória do Aécio, não há como lutar contra o fechamento da curva", afirma Paulo Petrassi, chefe de renda fixa da Leme Investimentos.

Entre os contratos mais longos, o DI para janeiro de 2017 recuava de 11,13% para 11,06%. O DI janeiro/2021 saía de 11,47% para 11,38%.

Mercados internacionais

As principais bolsas internacionais têm um dia positivo nesta terça-feira, com os investidores ainda acompanhando com atenção as notícias geopolíticas, mas reagindo mais a indicadores, com várias ações se recuperando das quedas de ontem.

Por volta das 14h, o índice Dow Jones subia 0,39%, enquanto o Nasdaq e o S&P 500 tinham alta de 0,80% e 0,58%, respectivamente.

Na agenda de indicadores, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) avançou 0,3% em junho na comparação com maio, como previsto pelos analistas. O indicador avançou 2,1% em junho, na comparação com igual mês de 2013. O núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, subiu 0,1%, quando a estimativa dos economistas era de 0,2%.

A Associação Nacional de Corretoras (NAR, na sigla em inglês) informou que as vendas de casas usadas avançaram 2,6% em junho ante o mês anterior, em mais um sinal positivo para o setor imobiliário no país - esse dado ajuda a impulsionar os índices hoje.

O foco está hoje menos na geopolítica, mas o mercado segue acompanhando com atenção as notícias envolvendo a Rússia. Ministros da União Europeia se reúnem hoje e podem anunciar mais sanções contra o país. Além disso, continuam os trabalhos para a retirada dos corpos das vítimas da queda de um avião no leste da Ucrânia. Os EUA e outras nações suspeitam que a aeronave da Malaysia Airlines tenha sido abatida por um míssil disparado da área controlada pelos rebeldes separatistas pró-Moscou. Putin disse hoje que atuará para convencer os separatistas a colaborar com as investigações no caso.

No Oriente Médio, continuam os confrontos entre as forças israelenses e os grupos militantes palestinos, especialmente o Hamas. O número de mortos nos confrontos passou de 600, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Israel admitiu que um de seus soldados sumiu durante a operação militar.

Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em alta de 1%, Frankfurt avançou 1,25% e Paris teve alta de 1,53%, após as quedas da sessão anterior pela maior tensão geopolítica.