Bovespa perde 8% em agosto com incertezas externas e domésticas
Agosto não deixou boas lembranças para a bolsa brasileira. Em meio a turbulências na China, incertezas sobre a política monetária americana e uma coleção de notícias negativas no ambiente doméstico, o Ibovespa acumulou perda de mais de 8% neste mês.
Neste último pregão de agosto, o noticiário local foi a principal fonte de aversão ao risco, embora o dia no exterior também não tenha sido dos melhores. Investidores reagiram mal à intenção do governo de apresentar ao Congresso uma proposta de orçamento deficitário para o ano que vem, algo jamais visto na história recente do país. A proposta é consequência da desistência do plano de recriar a CPMF, diante da polêmica gerada em torno do imposto nos últimos dias.
Analistas acreditam que, com um déficit de R$ 30,5 bilhões (ou 0,5% do PIB) no Orçamento de 2016, é praticamente inevitável a perda do grau de investimento soberano no ano que vem. O mercado também voltou a questionar se o ministro Joaquim Levy conseguirá se sustentar no cargo. "Há uma piora sensível no ambiente interno. Não há nada que aponte para uma recuperação sustentável do mercado no curto prazo", comentou o estrategista da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira.
No exterior, permanecem as dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento da economia chinesa, bem como o apoio do governo ao mercado local. Segundo o "Financial Times", o governo da China mudará sua estratégia de sustentar as bolsas locais por meio de compras de ações em larga escala e, em vez disso, vai intensificar os esforços para localizar e punir os suspeitos de desestabilizarem o mercado.
Nos Estados Unidos, a possibilidade de aperto monetário ainda neste ano segue em aberto, especialmente após as discussões no simpósio de Jackson Hole. O vice-presidente do Fed, Stanley Fischer, sugeriu que o banco central americano não devem esperar a inflação convergir para a meta de 2% para elevar os juros.
O Ibovespa fechou em baixa de 1,12%, para 46.625 pontos, com volume expressivo de R$ 9,166 bilhões. Com o desempenho de hoje, a bolsa brasileira encerra agosto com perda de 8,33% e acumula no ano recuo de 6,76%.
A queda hoje não foi maior graças a Petrobras PN (2,11%) e Vale PNA (3,20%). As ações da estatal pegaram carona na alta de mais de 8% do petróleo no mercado internacional. O minério mostrou estabilidade hoje, mas fecha o mês com recuperação de 6%. Analistas chamaram atenção para alta ainda mais forte das ações ON da Vale (3,52%) e da Petrobras (3,30%), mais sensíveis ao comportamento dos ADRs (recibos de ações) negociados em Nova York.
Em contrapartida, as ações de bancos - principais componentes do Ibovespa - repercutiram o estresse doméstico: Itaú PN caiu 3,55%, Bradesco PN perdeu 4,07%, Banco do Brasil ON recuou 5,05% e Santander Unit registrou baixa de 1,50%.
No topo do índice terminaram Braskem PNA (4,84%), CSN ON (4,16%) e Suzano PNA (3,59%). Na ponta negativa apareceram Localiza ON (-6,62%), Banco do Brasil ON, Cosan ON (-4,97%) e Bradesco ON (-4,69%).
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