Comércio das favelas sofre com explosão das bets
As apostas online estão prejudicando profundamente o comércio nas favelas brasileiras, e os números são alarmantes.
Segundo a pesquisa "Casas de apostas bets nas favelas do Brasil", realizado pelo Instituto de Pesquisas Favela Diz, mais de 53,5% dos moradores afirmam que estão comprando menos em lojas locais por conta das apostas. Além disso, 24,2% relataram que estão frequentando menos restaurantes e bares, e 61,1% acreditam que as apostas online estão contribuindo para o fechamento de comércios locais.
O impacto econômico nas comunidades é profundo. Pequenos empresários, que dependem da clientela local, enfrentam uma queda drástica nas vendas. Muitos moradores estão direcionando seu dinheiro para apostas online, onde os gastos médios por mês podem chegar a valores que variam entre R$ 101 e R$ 500, com uma parcela, inclusive, apostando mais de R$ 500.
Essa mudança no comportamento financeiro tem gerado uma retração no consumo local, levando muitos comerciantes a reduzir o quadro de funcionários ou, em casos mais graves, fechar as portas.
A crise do vício em jogos também é um fator significativo nesse cenário. O vício em apostas online já afeta a saúde mental e financeira de milhares de brasileiros. A dependência em jogos de azar é classificada como um transtorno mental pela OMS (Organização Mundial da Saúde), e estudos apontam que indivíduos viciados em apostas têm maiores chances de desenvolver depressão, ansiedade e até comportamentos suicidas.
A saúde pública também sente os impactos. O aumento no número de pessoas buscando tratamento para vícios em apostas levou à sobrecarga de serviços de apoio, como os Caps (Centros de Atenção Psicossocial). As políticas públicas precisam se adaptar a essa nova realidade e incluir o tratamento do vício em jogos como uma prioridade.
Se nada for feito, o ciclo vicioso das apostas nas favelas continuará a impactar não apenas o comércio local, mas também a saúde e o bem-estar das populações mais vulneráveis. O governo e o Congresso Nacional precisam envidar esforços para regulamentar e fiscalizar mais efetivamente esta modalidade de jogatina.
Mais do que isso, é preciso enxergar este fenômeno como de desordem da sociedade, pois as consequências são inúmeras, e de forma acelerada vem devastando pessoas e famílias.
A potência econômica de mais de 18 milhões de brasileiros, que consomem mais de R$ 200 bilhões anualmente, está entregando R$ 37 bilhões às apostas, e com isso atrasando em uma década o desenvolvimento da nossa sociedade que já vive à margem - desde sempre.
Marx Rodrigues é presidente do instituto Favela Diz
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