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Carla Araújo

Bolsonaro quer ganhar tempo para contar com aposentadoria de Celso de Mello

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o advogado-geral da União, José Levi, durante cerimônia de posse deste último na AGU - Alan Santos/PR
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o advogado-geral da União, José Levi, durante cerimônia de posse deste último na AGU Imagem: Alan Santos/PR

Do UOL, em Brasília

16/09/2020 23h37

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O silêncio de auxiliares do presidente Jair Bolsonaro e do próprio sobre a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Celso de Mello, que determinou o depoimento presencial do presidente, tinha uma estratégia.

Nesta quarta-feira (16) à tarde, antes da notícia de que a Polícia Federal (PF) já havia oferecido três datas para cumprir a intimação ao presidente, auxiliares de Bolsonaro afirmavam que o recurso da AGU ainda estava na gaveta.

A leitura feita no governo era de que se a PF demorasse mais para fazer a intimação seria possível ganhar tempo e com isso, quem sabe, contar com a aposentadoria do decano Celso de Mello, que deixará a Corte em novembro.

Defesa novata

O advogado-geral da União, José Levi, que assina o recurso traça sua primeira grande defesa de Bolsonaro desde que chegou ao cargo em abril deste ano. Nos dias que se seguiram à decisão de Celso de Mello, Levi foi figura frequente no Planalto.

Em uma dessas reuniões, ficou definido que Bolsonaro não enfrentaria o STF, como fez em maio passado, quando chegou a falar: Acabou, porra!", referindo-se à decisão monocrática do ministro Alexandre de Moraes, que autorizou operações da PF no âmbito do inquérito das fake News.

No recurso apresentado pela AGU para tentar impedir o depoimento presencial de Bolsonaro, Levi também pede que Celso de Mello reconsidere a própria decisão ou suspenda a determinação até o "colegiado competente" julgar o recurso, o que pode levar o caso ao Plenário.

Os poucos auxiliares do presidente que comentaram o caso afirmaram que em breve o "decano será página virada".

Com a saída de Celso de Mello, caberá ao presidente Bolsonaro indicar o seu substituto. Hoje no governo um dos favoritos para o cargo é atual ministro da Justiça, André Mendonça.

Em junho, o ministro da Justiça, André Mendonça disse à coluna que esperava que o depoimento de Bolsonaro não acontecesse de forma presencial. "Esperamos que seja por escrito, conforme precedentes do STF quanto a Presidentes da República", afirmou, na época.

Em 2017, o ministro Luís Roberto Barroso autorizou que o então presidente Michel Temer prestasse depoimento à PF por escrito, no âmbito do inquérito aberto pela Corte para investigar o suposto favorecimento da empresa Rodrimar S/A por meio da edição do chamado Decreto dos Portos.

Agora, no caso de Bolsonaro, o decano do STF decidiu que Bolsonaro deveria prestar depoimento de forma presencial.