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Carla Araújo

'Ameaça' de Maia obriga ministros e líder do governo a desmentir Bolsonaro

Do UOL, em Brasília

18/12/2020 15h44Atualizada em 18/12/2020 18h28

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Quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu culpar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de barrar o pagamento do 13º do Bolsa Família, a articulação do governo previu que teria problemas.

Desde cedo, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentaram traçar uma estratégia para minimizar os estragos da declaração.

O motivo era simples: foi o governo que fez um acordo para que a medida não prosperasse. Enquanto trabalhavam para demover o presidente da Casa da ideia, Maia decidiu dar o seu recado publicamente.

Logo cedo, o chefe da Câmara colocou na pauta a medida provisória que tratava da extensão do auxílio emergencial e acertou com o relator a inclusão do 13º para beneficiários do programa social.

Maia sabia que o governo precisaria admitir que o "culpado" pelo fato de a medida não avançar não era ele. O deputado foi ao plenário da Casa, fez uma fala dura contra o governo e chamou ao vivo o presidente de mentiroso.

Ramos, Barros e Guedes não podiam fazer o mesmo nem admitir em público um erro de Bolsonaro. Mas, nos bastidores, reconheceram que a declaração do presidente estava equivocada. Os três passaram então costurar um acordo com parlamentares para que o item fosse retirado da pauta, o que Maia acabou fazendo no início da tarde.

Articulação em xeque

Maia, que tenta trabalhar por uma candidatura que possa fazer o seu sucessor no comando da casa a partir de fevereiro, fez uma manobra considerada por alguns membros do governo como "irresponsável". Outros reconhecem que dificilmente ele ficaria quieto diante da mentira de Bolsonaro.

Guedes, que acumula episódios de desafetos com Maia, teve que admitir publicamente que o governo não tinha como arcar com os custos do 13º do Bolsa Família. "Ou você comete um crime de responsabilidade ou fica sujeito a um impeachment", afirmou.

Barros foi às redes sociais e reconheceu que a decisão de não conceder o benefício foi do governo. "A medida provisória 898 previa o 13 do Bolsa Família que foi pago em 2019. O relator, senador Randolfe, incluiu um abono natalino para o BPC no valor de um salário mínimo. Não havia recursos disponíveis para isso segundo o Ministério da Economia. Por isso a MP não foi votada", afirmou.

Ramos, que trabalhou no acordo para evitar que a pauta bomba fosse adiante, até o momento, preferiu não fazer declarações públicas. Auxiliares do ministro dizem que a hora é de falar menos e evitar novas confusões.

Enquanto Brasília tem uma sexta-feira agitada, com idas e vindas e trocas de acusações, os beneficiários de programas sociais, aqueles em situação de maior vulnerabilidade, continuam com incertezas e sem resposta concreta à pergunta: "vai ter ou não auxílio em 2021?"