Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Carla Araújo

Sindicalistas afirmam que "fuga" da Ford afeta mais de 50 mil empregos

Trabalhadores da Ford protestam em Taubaté após anúncio de fechamento da fábrica - Rogério Marques/Futura Press/Estadão Conteúdo
Trabalhadores da Ford protestam em Taubaté após anúncio de fechamento da fábrica Imagem: Rogério Marques/Futura Press/Estadão Conteúdo

Do UOL, em Brasília

12/01/2021 16h46Atualizada em 12/01/2021 17h52

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A decisão da Ford de fechar fábricas e encerrar a produção no Brasil, na avaliação de sindicalistas, afeta "cerca de 50 mil empregos na cadeia produtiva em torno das três plantas desativadas" e é consequência da ausência de um projeto de retomada da economia brasileira, que contemple a reindustrialização do país.

Em nota divulgada nesta terça-feira (12), CUT e Força Sindical afirmam que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, condenam o país a uma rota de desindustrialização e desinvestimento.

"O governo despreparado e inepto de Bolsonaro e Guedes finge ignorar a importância da indústria como motor do desenvolvimento nacional, não apresenta qualquer estratégia para a atuação da indústria no Brasil e condena o país a uma rota de desindustrialização e desinvestimento, como vínhamos alertando há tempos", diz o texto.

O ministério da Economia lamentou a decisão da Ford deixar o país e montou um grupo de trabalho para tentar dar um rumo para as fábricas da montadora.

Até mesmo o Ministério Público Federal, por meio do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, tem articulado com governos e investidores em busca de uma solução. No caso, o foco é pela fábrica em Camaçari, na Bahia.

Contexto político e custo Brasil

O presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah, disse que o governo brasileiro foi pego de surpresa "porque quis" e que o foco de Bolsonaro é a reeleição.

"Em 2019, a Ford fechou a sua grande montadora de São Bernardo. Não custava nada ter feito o acompanhamento da vida econômica da empresa. Mas o que vale para o atual governo é a eleição de 2022, e a coisa foi deixada de lado. Agora veio a conta", disse, em nota.

Patah diz ainda que a Ford percebeu o pouco peso político e econômico e o grande custo Brasil e por isso decidiu deixar o país. "(a Ford) Vai criar empregos em outros países e deixou três "puxadinhos" para ver o que acontece - um na Bahia, outro em Tatuí (SP) e a sede regional na capital paulista".

Na avaliação do sindicalista, os estados atingidos - São Paulo, Bahia e Ceará - não terão força para fazer nada e a "tragédia social no Brasil vai aumentar, com mais desemprego e o crescimento da informalidade". "O caos social virá com o fim do auxílio emergencial, já valendo a partir deste mês", afirma.

Subsídios

Hoje, o presidente Jair Bolsonaro disse a apoiadores que a Ford não 'falou a verdade' sobre a decisão de fechar as fábricas no Brasil. Na avaliação do presidente, a empresa queria subsídios para continuar produzindo veículos no país.

Neste ponto, os sindicalistas parecem estar ao mesmo lado do presidente e afirmam que "a Ford "foge" do Brasil deixando um rastro de desemprego e desamparo, após ter se valido durante muitos anos de benefícios e isenções tributárias dos regimes automotivos vigentes desde 2001, e que definiram a instalação da empresa em Camaçari, bem como a permanência das suas atividades no Ceará".

Por outro lado, os sindicalistas dizem que "é incontestável a desconfiança interna e internacional e o descrédito quanto aos rumos da economia brasileira com este governo que aí está". "Não se toma uma decisão empresarial como essa sem considerar a total incapacidade do governo Bolsonaro", diz a nota.

"No momento em que a indústria automobilística global passa por uma das mais intensas ondas de transformação, orientada pela eletrificação e pela conectividade, assistimos à criminosa omissão, e até boicote, do subserviente governo brasileiro à indústria, com consequências nefastas para a classe trabalhadora, ante um presidente incapaz de conduzir qualquer diálogo sobre a inserção do país no cenário que se configura rapidamente", afirmam os sindicalistas.

A nota é assinada pelo presidente da Força Sindical, Miguel Torres; pelo presidente da CNM-CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT), Paulo Cayres; e pelo presidente da INDUSTRIALL Brasil, Aroaldo Oliveira da Silva.

Outro lado

Segundo a Ford, a decisão faz parte da reestruturação global e também no mercado sul-americano. Além disso, a montadora alegou que a pandemia de covid-19 "ampliou a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas".

De acordo com a empresa, a estimativa é que 5 mil funcionários sejam demitidos no Brasil e também na Argentina.