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Carla Araújo

Governo ainda acredita que greve dos caminhoneiros está sob controle

Replan, refinaria da Petrobras em Paulínia (SP), durante a greve dos caminhoneiros em 2018 - Rovena Rosa/Agência Brasil
Replan, refinaria da Petrobras em Paulínia (SP), durante a greve dos caminhoneiros em 2018 Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil

Do UOL, em Brasília

28/01/2021 08h36

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O clima entre governo e representantes de caminhoneiros piorou com o aumento de 4,4% no preço do diesel, anunciado nesta semana pela Petrobras e lamentado por membros do governo, que negociam para minimizar uma possível greve dos caminhoneiros, convocada para 1º de fevereiro.

Apesar disso, fontes do governo ouvidas pela coluna afirmam que o movimento continua "sob controle". A avaliação no momento é que o aumento do diesel elevou o descontentamento da categoria, "mas não gerou engajamento".

Ministros garantem que o governo tem mantido um canal de diálogo com a categoria, mas dizem que não se pode menosprezar o potencial de gerar crises da categoria.

Fontes da área de inteligência, que acompanharam a paralisação de 2018, dizem que a crise foi uma das piores do então governo Michel Temer e que o país pode ter sérios problemas de abastecimento se a greve ganhar corpo. Em 2018, a greve durou 10 dias e gerou falta de alimentos, combustíveis e até medicamentos.

Agora, as negociações estão sob responsabilidade do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, mas diversas outras pastas estão acompanhando os movimentos da categoria: Casa Civil, Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Ministério da Justiça e Advocacia-Geral da União têm articulado ações e conversas com intuito de mitigar efeitos de uma possível greve.

O governo segue na linha de que não vai abrir mão de aplicação de multas para evitar que haja fechamento de rodovias.

Lição aprendida

Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ressaltam que o presidente tem pedido mais medidas para anunciar e tentar reconquistar o apoio da categoria, que o apoio majoritariamente em 2018. Salientam, porém, que Bolsonaro já aprendeu que não se pode fazer nenhum sinal de interferência na política de preços da Petrobras.

Em abril de 2019, ainda no começo do governo, Bolsonaro chegou a anunciar que havia ligado para o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, e mandado adiar o reajuste de 5,7% no preço do diesel que a estatal tinha anunciado. A tentativa de interferência, admitida por Bolsonaro, acendeu o temor de investidores de que a estatal poderia voltar aos tempos de controle de preços.

Nesta quarta-feira (27), ao ir até o ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro falou que não interferiria na política de preços da companhia, mas pediu que a equipe econômica busque formas de aliviar o bolso dos caminhoneiros.

"Estamos estudando medidas. Agora não tenho como dar uma resposta de como diminuir o impacto, na verdade foram R$ 0,09 (de aumento) no preço do diesel (na refinaria). Para cada centavo no preço do diesel que por ventura nós queremos diminuir, no caso o PIS/Cofins, equivale a buscarmos em algum outro local R$ 800 milhões. Então não é uma conta fácil de ser feita", afirmou o presidente, que fez um apelo para que os caminhoneiros não façam greve.

Segundo fontes da área econômica, há dúvidas sobre a eficiência da medida de redução do PIS/Cofins, já que por se tratar de livre mercado novos aumentos nos preços do diesel podem acontecer. Além disso, será preciso encontrar algum tipo de compensação aos cofres públicos, o que poderia até significar alta de outros impostos, o que o ministro Paulo Guedes não quer. E que Bolsonaro também diz que não. Mas, de fato, a conta não é simples.

Mobilização

Apesar de ser considerada como uma categoria pulverizada, o descontentamento dos caminhoneiros tem aumentado, principalmente nas redes sociais. Muitos já estão distribuindo vídeos com caminhões que estariam prontos para protestar.

Ao colunista do UOL Chico Alves, o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, que foi uma das lideranças do movimento de greve em 2018, disse que a "temperatura está aumentando" e que o apelo do presidente não convence.

Demandas e medidas

Além de reclamar do preço do diesel, os caminhoneiros reclamam do alto custo do pedágio e da demora na aplicação da lei do preço mínimo do frete. Essa última questão, que foi um dos acertos vindos após a greve de 2018, está parada no STF (Supremo Tribunal Federal).

Outras demandas da categoria são a concessão de uma aposentadoria especial e a melhoria da jornada de trabalho excessiva.

Do lado do governo, além de incluir os caminhoneiros no grupo de prioridades para a vacinação contra o coronavírus, algumas outras medidas foram anunciadas como a redução do imposto de importação de pneus.