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Carla Araújo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro terá que acatar decisão da Câmara sob o risco de romper com Lira

Os presidente da República, Jair Bolsonaro, e da Câmara, Arthur Lira, na saída do Palácio do Planalto, nesta quinta-feira - Ueslei Marcelino/Reuters
Os presidente da República, Jair Bolsonaro, e da Câmara, Arthur Lira, na saída do Palácio do Planalto, nesta quinta-feira Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Do UOL, em Brasília

06/08/2021 18h55Atualizada em 06/08/2021 19h38

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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deixou claro em sua fala nesta sexta-feira (6) que quer encerrar as divergências em torno das suspeitas levantadas pelo presidente Jair Bolsonaro em relação às urnas eletrônicas e fez um alerta de que o momento de "lua de mel" com o Centrão pode acabar se o presidente não respeitar a decisão do Plenário.

Na Câmara, a expectativa da maior parte dos partidos e parlamentares é de que a PEC do voto impresso seja derrubada no Plenário. A data da votação deve ser acertada em uma reunião de líderes na segunda-feira, mas a ideia é que o tema seja votado já na semana que vem.

Lira fez um jogo calculado. Por um lado, agrada Bolsonaro ao não deixar o tema morrer ainda na comissão. Por outro, avisa que se o Plenário rejeitar a matéria, ela terá que ser sepultada.

"O Plenário será o juiz dessa disputa que já foi longe demais", disse nesta sexta-feira (6) o presidente da Câmara.

O desafio, no entanto, é conseguir conter o comportamento impulsivo do presidente Bolsonaro, que, por mais que ensaie momentos de calmaria, acaba sempre mostrando seu jeito de governar no confronto.

Bolsonaro está acuado, mostra em alguns momentos incômodo profundo com a possibilidade de perder as eleições e tem nessa narrativa do voto impresso sua principal bandeira atualmente. Com o Judiciário já rompeu as pontes e ampliou a escalada da crise. Com o Congresso, o presidente - que acabou de 'casar' com o ministro Ciro Nogueira - ainda mantém uma relação de trocas.

Acontece que se a PEC for realmente derrubada, Bolsonaro ficará em uma sinuca de bico. Se continuar a insistir no tema, o presidente arriscará o casamento com o Lira e, consequentemente, com o Centrão.

"O botão amarelo continua apertado. Segue com a pressão do meu dedo. Estou atento. 24 horas atento. Todo tempo é tempo", disse Lira nesta tarde. É o presidente da Câmara que tem o poder também de abrir ou não os processos de impeachment.

Bolsonaro terá que calcular se vai querer manter o casamento com o centrão ou se, além das brigas com o Judiciário, ficará cada vez mais isolado enfrentando também o Congresso. E também se estará disposto a romper com Lira.

E a agenda econômica?

Não teve jeito. Por mais que o ministro da Economia, Paulo Guedes, estivesse otimista com a retomada da agenda econômica no Congresso, a decisão de Lira de levar ao Plenário a PEC do voto impresso terá impacto na votação das propostas que o governo pretendia avançar na próxima semana, que incluem a MP do BEm e a reforma tributária.

Apesar disso, há quem defenda que o presidente Bolsonaro vá ao Congresso no início da próxima semana levar pessoalmente a PEC dos precatórios

Auxiliares de Lira dizem que a intenção do presidente da Câmara é resolver a votação da PEC do voto impresso na semana que vem, enterrar de vez este assunto no Congresso e não perder o ritmo que vinha tentando impor nas votações.

Não por acaso, Lira fez questão de iniciar sua fala de hoje justamente destacando a agenda econômica.

"O Brasil tem enormes desafios, como as reformas tributária, administrativa, questões ambientais, o combate à pandemia com o avanço da vacinação, além da criação de condições sócio-econômicas para a geração de emprego e renda", disse, depois de reconhecer que a discussão em torno do voto impresso está pautando o Brasil.

Apesar disso, como Guedes já está acostumado, mais uma vez por problemas de ordem política, a discussão de pautas econômicas deve ficar para a outra semana.

Isso, se ainda existirem as pontes entre o governo Bolsonaro e o Congresso.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL