Falta de aviões e peças faz aéreas cancelarem rotas e pode encarecer voos
A falta de peças e aviões já está afetando a indústria aeronáutica mundo afora. Diversas companhias aéreas já estão precisando readequar suas malhas e cancelando rotas devido a falhas na cadeia de suprimentos do setor da aviação.
Mesmo diante de todos esses problemas, ainda é esperado que o setor tenha um lucro recorde para o ano de 2025, ultrapassando a marca de US$ 1 trilhão em receitas pela primeira vez.
O que causa o desabastecimento?
Entre os principais fatores que causam o desabastecimento da indústria aeronáutica, podemos destacar os seguintes:
- Paralisações durante a pandemia: Houve redução ou interrupção da produção e perda de mão de obra qualificada em todo o mundo.
- Aumento rápido da demanda: Causado, principalmente, pela retomada do transporte aéreo no pós-pandemia e pela modernização das frotas.
- Escassez de materiais: Existem dificuldades em obter alumínio, titânio e outros compostos essenciais.
- Conflitos geopolíticos: Um exemplo é a Guerra na Ucrânia, além de sanções comerciais dificultando o acesso a materiais.
- Dependência de poucos fornecedores: Limitação de opções no setor, que é altamente especializado.
Com falta de escala, ou seja, realizando menos voos, os preços podem ser pressionados, resultando em um aumento na média dos valores nos próximos meses. Soma-se a isso o custo maior para se manter uma aeronave mais antiga ou com uma tecnologia menos econômica quanto aquela presente nos aviões mais recentes.
Empresas ainda estão adotando a canibalização de aeronaves, inclusive novas, para suprir a demanda por peças. Nesse processo, um avião, em condições de voo ou não, é desmontado para fornecer peças para outras aeronaves da frota da empresa e mantê-las com capacidade operacional.
Rotas canceladas
Essa falta de peças já está afetando diversas empresas, que precisam readequar seus voos planejados para a nova realidade. Em diversos casos, até foi necessário cancelar algumas rotas.
De acordo com levantamentos de diversos veículos de mídia especializada, entre as empresas que já cancelaram rotas por falta de aeronaves ou de peças (incluindo motores), se destacam as seguintes:
- Virgin Atlantic (Reino Unido): A empresa cancelou rotas que seriam inauguradas com destino a Acra (Gana) e postergou o retorno dos voos a Tel Aviv (Israel).
- British Airways (Reino Unido): Redução na frequência de voos entre Londres (Inglaterra) e Nova York (EUA) e entre Londres e Doha (Qatar), além de postergar a rota entre Londres e Kuala Lumpur (Malásia).
- Air India (Índia): A empresa cancelou 60 voos entre o país asiático e os EUA devido à falta de aviões de fuselagem larga, tipicamente usados em viagens de longa distância.
- Copa Airlines (Panamá): A empresa irá suspender, temporariamente, voos do Panamá com destino a Santiago de los Caballeros (República Dominicana), Tulum (México), Aeroporto Internacional Felipe Ángeles (próximo à Cidade do México) e Armênia (Colômbia), devido ao atraso na entrega de novos aviões.
- Lufthansa (Alemanha): A rota entre o Rio de Janeiro e Frankfurt deve sofrer uma redução na frequência dos voos.
Avião usado ou nada
John Rodgerson, presidente-executivo da Azul Linhas Aéreas, relatou a dificuldade em conseguir manter as operações com a falta de aviões e peças mundo afora. Como exemplo, ele cita a necessidade da empresa em passar a voar com um avião usado de outra empresa, que não tem o mesmo interior e padrão de conforto da companhia brasileira.
"Pegamos uma aeronave da Air Asia [um A330]. Não era algo preto ou branco, era cinza. Não era o padrão da Azul, mas vai me levar para Orlando (EUA). Então, é voar ou não voar", disse o executivo em entrevista à Flap TV.
"Hoje, eu estou usando aqueles dois motores [como peças de reposição] para voar porque há uma crise mundial [da cadeia de abastecimento]. Às vezes, a gente toma decisões que, para pessoas de fora não fazem sentido, mas são para proteger uma coisa maior. Nós estávamos olhando pra frente, sabendo que ia faltar aeronave e motor no mundo, [então, pensamos] 'temos uma oportunidade. Esta aeronave é uma merda, mas tem um motor bom, então, vamos incorporá-la em nossa frota'", disse Rodgerson.
Gigantes com entregas reduzidas
Os principais fornecedores de aeronaves do mundo, Airbus e Boeing, também reduziram o ritmo de entregas durante 2024. A Boeing, desde as quedas do Boeing 737 Max, ainda não mantém o ritmo de entregas desejado.
Soma-se a isso, uma série de atrasos devido a paralisações de trabalhadores ocorridas durante o ano de 2024 e a redução na entrega de aeronaves, fazendo com que as entregas caíssem para apenas 13 unidades em novembro.
Esse ritmo já vinha abaixo do esperado pela empresa, principalmente após o acidente com avião da Alaska Airlines, que teve uma porta tampão se desprendendo durante o voo no começo do ano passado. O ritmo de entregas só passou de 30 unidades do 737 Max após o mês de junho.
A própria Airbus começou o ano de 2024 com mais entregas no primeiro trimestre do que o mesmo período de 2023. Entretanto, nos períodos seguintes, esse número sofreu uma leve queda.
Receita recorde
A Iata (International Air Transport Association, ou, Associação do Transporte Aéreo Internacional) acredita que os problemas na cadeia de suprimentos da aviação continuarão a gerar problemas para o setor em 2025. Isso eleva a idade média da frota em uso, passando da média de 13,6 anos entre 1990 e 2024 para 14,8 anos.
Ao mesmo tempo, a quantidade de aeronaves entregues ano a ano ainda não se recuperou, estando longe do recorde de 2018, quando 1.813 aeronaves foram entregues aos seus donos. Em 2024, a estimativa é de que esse número não tenha passado de 1.254 aviões, mas 2025 pode chegar a um total de 1.802 novas unidades, valor ainda abaixo da previsão anterior, de o ano contaria com 2.293 novos aviões entregues.
Mesmo assim, o setor aéreo deve alcançar a marca recorde de US$ 1 trilhão em receitas em 2025, com uma alta de 4,4% frente a 2024, segundo a Iata. Os custos do setor podem chegar a US$ 940 bilhões em 2025, com lucro líquido global previsto de US$ 67,5 bilhões.
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