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Mortalidade das franquias: apenas 6,7% sobrevivem após 2 anos de operação

Imagem: Getty Images

Márcia Rodrigues

Colaboração para o UOL, de São Paulo

12/01/2025 05h30

Iniciar o processo de expansão de uma marca por meio de franquia pode diminuir os riscos da operação, mas não é garantia de sucesso. Quem diz isso é Rodrigo Abreu, diretor de marketing e comunicação da ABF (Associação Brasileira de Franchising).

O que aconteceu

Mortalidade de franquias é alta. E os números comprovam a afirmação. Levantamento feito pela consultoria Rizzo Franchise aponta que das 357 novas franquias são lançadas anualmente no Brasil, apenas 24 conseguem chegar ao segundo ano de operação, ou seja, a taxa de sobrevivência é de 6,7%.

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O principal motivo desta alta mortalidade é a absoluta falta de conhecimento e experiência sobre o próprio negócio e por esses empresários acreditarem que bastará vender produtos para franqueados que tudo vai acontecer.
Marcos Rizzo, diretor da Rizzo Franchise

Pandemia ainda afeta negócios. Para Abreu, vários fatores podem contribuir para a taxa de mortalidade da empresa, além da falta de experiência. Ele cita os impactos da pandemia, por exemplo. "Em breve não poderemos pontuar os efeitos da pandemia nos negócios, mas ainda há empresas com dívidas, que estão pagando empréstimos devido ao período que precisaram fechar as portas", diz Rodrigo Abreu, diretor da ABF.

ABF estima mortalidade menor

Taxa considera apenas associados. Diferentemente de Rizzo, a estimativa da ABF é de que o número de redes que fecha as portas no início da operação é de 5%. A entidade, porém, considera apenas os números de franquias associadas neste cálculo.

Quantidade de franquias é maior do que associadas. Atualmente, a ABF tem 1.692 associados em todo o território nacional, incluindo fornecedor e outros tipos de empresas. Desse total, 1.209 são franqueadoras. A entidade estima que mais de 3 mil marcas estão em operação no Brasil.

Franquias x pequenos negócios. Abreu afirma que o percentual é um dado histórico que a entidade trabalha, já que não há monitoramento da mortalidade das franquias. Além disso, a ABF não atua como entidade reguladora do mercado de franquias. Abreu acrescenta, porém, que o número é considerado baixo, já que é inferior ao registrado em negócios independentes.

Taxa de sobrevivência de MPE é de 86,9% no 2º ano

Primeiro ano dos pequenos negócios tem melhor resultado. Dados do Sebrae Nacional apontam que a taxa de sobrevivência para empresas de todos os portes é crítica, particularmente, no segundo ano. As EPP (Empresa de Pequeno Porte) e as MPE (Micro e Pequenas Empresas) exibem as maiores taxas de sobrevivência, de 94,7% e 92,6% no primeiro ano, respectivamente, declinando para 89,6% e 86,9% no segundo ano.

Sobrevida cai significativamente até quinto ano. E esta tendência decrescente prossegue nos anos subsequentes. Os pequenos negócios iniciam com uma taxa de sobrevivência de 84,5% no primeiro ano, caindo para 75,4% no segundo ano, atingindo até 56,4% no quinto ano.

MEI tem pior resultado. Dentre os negócios que se enquadram na categoria, os MEI (microempreendedor individual) têm a menor sobrevivência, partindo de 81,9% no primeiro ano, para 71,6% no segundo e chegando a 50,5% no quinto ano. Diferentemente dos MEIs, as MPE possuem taxa de sobrevivência maior que 80% no segundo ano, chegando a ficar com mais de 70% no quinto ano.

43% dos franqueadores lançam negócio sem experiência

Rizzo diz que começou a fazer o levantamento em 2010 e, desde então, constatou dois aspectos que contribuem para a mortalidade de novas marcas no início da operação:

  • 43% dos franqueadores lançavam franquias sem ter a experiência e o conhecimento gerado pela operação de unidades próprias;
  • 31% dos franqueadores tinham menos de um ano de experiência (data de fundação do negócio X data de lançamento da franquia);

Erro no plano de negócio afeta desempenho. "Anualmente percebia que era enorme e crescente o número de franquias lançadas no mercado e, na sua maioria, eram (e são) negócios sem conceito, que possuíam modelos confusos e com nenhuma estruturação, o que reflete na mortalidade das marcas", diz Rizzo.

Ter experiência faz a diferença na saúde da empresa. E, para ter sucesso no mercado de franquias, "a base é o conhecimento do negócio e a experiência acumulada na operação daquele conceito e modelo que será multiplicado pelo programa de franquias", explica ele.

Unidade pode fechar por vários motivos

Para Abreu, nem sempre o fechamento de unidades indica que uma rede morreu.

Ela pode ter encerrado as operações no Brasil, por exemplo, ou mudado sua estratégia de negócio. Há casos, também, de o franqueado não gostar do ramo de atividade, ou não se adequar à vida empreendedora e resolver voltar para o mundo corporativo.
Rodrigo Abreu, diretor da ABF

Nos casos de desistência de um franqueado, o franqueador ainda tem a chance de fazer repasse de unidade para outro empreendedor.

Brasil em relação a outros países

Segundo o especialista, o Brasil tem hoje aproximadamente 3 mil franqueadores e uma rede de 203 mil franquias (média 67,6 unidades por franqueador). Nos Estados Unidos existem cerca de 1.900 franqueadores para uma rede de 1,8 milhão de franquias (947,36 unidades por franqueador).

"Nossa rede de franquias é muito pequena e mal estruturada para o tamanho do nosso mercado. Acredito que somos os campeões mundiais em mortalidade de franquias. Mas sou muito otimista e sei (como aconteceu nos USA) vamos dar uma virada", pontua Rizzo.

Como não "morrer" nos primeiros anos de operação

A pedido do UOL, os especialistas pontuaram algumas dicas para ajudar o empreendedor que deseja iniciar sua expansão por meio de franquia. Confira:

Rede não deve ser "uma revenda de produtos": uma marca que transforma a rede em uma revenda de produtos e, sem margem, o franqueado explode rapidamente, diz Rizzo.

Testar negócio antes de virar franquia: iniciar o processo de franquia antes do prazo de 2 anos de operação como loja própria é considerado um dos principais motivos que levam uma rede a quebrar.

Dedicação total no início do negócio: o novo franqueador deve fazer como Ray Kroc, dono do McDonald's, fez, orienta Rizzo: passar 24 horas do seu dia, por pelo menos dois anos, junto dos seus franqueados, não delegar e/ou abandonar seu escritório.

Unidade própria: o ideal é ter mais de uma unidade própria para demonstrar o contínuo conhecimento do negócio e testá-lo amplamente em diversos cenários e de todas as formas antes de começar a franquear.

Treinamento: oferecer treinamento constante para os franqueados. "Quando seus franqueados começarem a vender a sua franquia, este será o seu selo de excelência. Afinal, não adianta vender, tem que entregar e manter", enfatiza Rizzo.

Suporte ao franqueado: tanto franqueador quanto franqueado querem que o negócio dê certo. Então, a saúde financeira da rede e de suas unidades é importante para os dois lados do negócio. "Antes de escolher o ponto, franqueado e franqueador devem avaliar a situação do local para ver o capital de giro exigido para fazer a obra e conseguir o alvará pagando aluguel pelo período que ficará fechado, por exemplo. É preciso conversar abertamente com o empreendedor para saber se ele terá condições para se manter nesse período", conta Abreu.

Logística: antes de expandir, é preciso ver a viabilidade logística do negócio. Afinal, controle de estoque e logística refletem na saúde financeira de uma empresa.

Candidato deve estudar a rede: quem quer abrir uma franquia deve fazer a lição de casa, segundo Abreu. A dica é: visitar franqueados ativos e ex-franqueados para saber como funciona o negócio, qual o suporte que a rede dá, quais as dificuldades e o porquê da desistência da loja, no caso de quem saiu da rede.

Seleção de franqueado: assim como o empreendedor deve estudar e avaliar muito bem a rede que deseja trabalhar, a mesma regra vale para a franqueadora. "A seleção do franqueado precisa ser criteriosa", diz Abreu.

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