Eles vendem sandália sustentável com palmilha de cortiça e faturam R$ 1 mi
Claudia Varella
Colaboração para o UOL, em São Paulo
03/01/2025 05h30
Os amigos João Henrique Tucci, 41, e Guilherme Reis, 47, se uniram em 2021 para abrir a Le Cork, uma empresa que produz sandálias com palmilha de cortiça, mais sustentável. A matéria-prima é importada de Portugal e vem do sobreiro, uma árvore nativa portuguesa. O calçado é montado com couro, fivela e sola de EVA na fábrica de parceiro em Igrejinha (RS). Em 2023, a empresa faturou R$ 1 milhão.
Inspiração para criar a empresa
Os dois sócios são donos de marcas de roupa. Tucci é fundador da Samburá, marca de moda praia sediada na Riviera de São Lourenço, em Bertioga (SP). Já Reis é fundador da Vaca Loca, marca de roupas que nasceu como um evento de música. Ele tem lojas em Araçatuba (SP) e em São Paulo.
Calçados de cortiça trazem mais conforto, segundo Tucci. "Por vivermos o dia a dia no varejo, acabamos identificando algumas tendências e oportunidades. Uma delas é que as pessoas procuram cada vez mais produtos que tragam bem-estar para suas vidas. E os pés são chave para isso, pois, além de serem os membros com mais terminações nervosas, suportam o peso do nosso corpo por todo o dia", diz.
A Le Cork foi criada em 2022, após pesquisa e desenvolvimento de um protótipo. O investimento no negócio foi de R$ 200 mil. "Começamos vendendo para familiares e amigos e depois em nossas lojas. Nosso crescimento tem sido orgânico desde então", afirma Tucci, que é diretor de finanças e operações da empresa.
Como as sandálias são feitas
O processo produtivo é binacional. Tucci diz que a principal matéria-prima é a cortiça extraída da árvore do sobreiro, um "parente do carvalho". "O sobreiro é uma árvore de porte médio, com uma copa ampla, que pode atingir os 25 metros de altura. A sua casca é a cortiça, um produto natural com propriedades únicas, como ser leve, impermeável, elástica, isolante térmico e acústico, além de ser 100% renovável", afirma.
Portugal é o primeiro produtor de cortiça do mundo. "Nossa cortiça é extraída pela primeira vez após 25 anos do plantio do sobreiro. Após nove anos do primeiro descortiçamento, uma nova cortiça se regenera permitindo assim uma nova extração.
Após extraída, a cortiça é primeiramente utilizada para produção de rolhas de vinho. "O material que sobra é triturado e, então, utilizado por nós para produção das palmilhas. A produção da palmilha é iniciada em Portugal e, em seguida, trazemos o produto semi-acabado para o Brasil para continuar sua industrialização com mão de obra e materiais nacionais", declara.
No Brasil, o calçado é montado com couro, fivela e sola de EVA. A produção é feita em uma fábrica parceira, em Igrejinha (RS). São produzidos cerca de 500 pares por mês. O centro de distribuição fica em Araçatuba.
Sandálias custam R$ 499,90
O modelo mais vendido é a sandália Lisboa. Ele é feito de palmilha de cortiça, sola de EVA, tiras de couro legítimo e fivelas de metal inoxidável. Custa R$ 499,90.
A marca tem ainda as sandálias de dedo "Cascais" e outra de duas tiras sem fivelas, chamada "Nazaré". Todos os calçados têm palmilha de cortiça e custam R$ 499,90.
A cortiça, o látex e a espuma amortecedora de 3 mm garantem uma maior absorção de impacto. Segundo Tucci, esse material também possui características que ajudam a manter o calor e o frio isolados, em decorrência das propriedades da cortiça.
Além disso, o desenho da palmilha foi feito para um encaixe perfeito e suporte do arco plantar. Dizemos que a Le Cork é como uma cama para os pés, pois, de fato, foi desenhada para trazer o máximo de conforto e cuidado a eles.
João Henrique Tucci, sócio e cofundador da Le Cork
Onde os produtos são vendidos? Os principais canais de venda são as lojas de roupa dos sócios e o e-commerce da marca. A empresa vende também por meio de revendedores autorizados, Instagram, WhatsApp e telefone. "Temos feito parcerias também com outras marcas consolidadas no mercado da moda. Isso tem nos dado visibilidade, reforçado o nosso posicionamento e aumentado a nossa distribuição dos produtos", diz Tucci.
Em 2023, a empresa faturou R$ 1 milhão. O lucro não foi revelado. Mas Tucci diz que a empresa é lucrativa desde seu primeiro ano de operação. "O lucro é 100% reinvestido, e nós, sócios, não fazemos retiradas ainda", diz. Para 2025, a meta é abrir uma loja própria em São Paulo.
O couro pode ser sustentável
Tucci diz que a empresa tem estudado como diminuir ou retirar os metais pesados do processo de curtição do couro. Segundo ele, a empresa está buscando essa certificação junto a fornecedores. "Mas a sustentabilidade nas nossas sandálias passam também pela durabilidade do produto. Elas duram muitos anos", afirma.
A marca vai lançar em 2025 a oficina Le Cork. "O consumidor pode levar as sandálias para trocar alguma das peças, como a sola, que pode desgastar ao passar dos anos", diz Tucci. A oficina ficará na loja da marca que será aberta em São Paulo neste ano.
Outra novidade é o lançamento de um produto vegano em 2025. "Está na nossa meta lançar um produto que seja 100% sem qualquer insumo de origem animal. A gente entende essa preocupação e está desenvolvendo um produto para atender o público vegano", afirma.
Focar em matéria-prima e processo produtivo
O que uma empresa precisa considerar para trazer um produto sustentável? Em geral, ela deve ter olhar crítico para dois pontos: sua matéria-prima e seu processo de produção. É o que diz Helen Camargo, analista técnica do Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS), gerido pelo Sebrae-MT.
"Qualquer empresa em busca da sustentabilidade deve saber de onde vem a matéria-prima e os insumos que usa, se esse fornecedor tem práticas sustentáveis, se tem licenciamento ambiental, etc.", diz ela.
Outro ponto é saber otimizar o seu processo produtivo. "A empresa pode otimizar o seu processo de produção gradualmente. Nem sempre uma empresa vai conseguir colocar no mercado um produto 100% sustentável. Mas é importante ser transparente com o seu cliente sobre o que você faz em relação à sustentabilidade", afirma.
Certificações ajudam a dar credibilidade. Helen diz que, aos poucos, uma empresa pode avançar o seu modelo de gestão em relação à sustentabilidade. "Vale buscar certificações, que ajudam a dar credibilidade para a empresa e o produto em si", afirma.
Sobre o uso de couro, ela diz que é preciso fazer o manejo correto do produto. "O couro não é, necessariamente, uma coisa ruim. Isso depende, por exemplo, se o couro vem de uma produção orgânica, se o seu processo de tratamento tem baixo impacto no meio ambiente, se a empresa faz tratamento dos resíduos químicos usados, entre outros aspectos", diz ela.
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