Reforma exige mais tempo para se aposentar, mas terei emprego aos 60 anos?
Resumo da notícia
- Reforma da Previdência cria idade mínima para todos os trabalhadores se aposentarem
- Empresas ainda resistem em contratar profissionais mais velhos, dizem especialistas
- População está envelhecendo e empresas terão de contratar mais idosos
- Estudo aponta que jovem tem maior dificuldade para conseguir emprego atualmente
Com a aprovação da reforma da Previdência, mulheres precisarão de 62 anos para se aposentar e homens 65. Um dos argumentos a favor das mudanças é que parte da população consegue se aposentar mais jovem, na faixa dos 50 anos, deixando de contribuir e pesando no rombo dos gastos públicos.
Mas existirão vagas de trabalho para essa parte da população que ficará mais alguns anos no mercado?
Empresas resistem em manter mais velhos, diz professor
O professor George Sales, da Faculdade Fipecafi, afirma que hoje as empresas têm uma resistência maior a empregar pessoas acima dos 50 anos, principalmente por vê-los como profissionais mais caros, com maior dificuldade de se adaptar a novas tecnologias e por, em tese, produzirem menos conforme se aproximam da aposentadoria.
Mas Sales acredita que, no futuro, essa mentalidade tenderá a mudar, conforme crescer a necessidade de contratação de pessoas mais velhas.
Brasil terá menos jovens
O professor Hélio Zylberstajn, da Faculdade de Economia e Administração da USP, não vê motivos para preocupação com a falta de emprego no futuro para quem está nessa faixa etária.
"A razão é muito simples: a população está envelhecendo. A quantidade de idosos está aumentando muito mais rapidamente do que a quantidade de jovens", afirma. "Penso que a própria tendência demográfica da população vai mostrar para as empresas que elas vão precisar prolongar as carreiras dos trabalhadores."
O Brasil está vivendo uma inversão da pirâmide demográfica, ou seja, as pessoas estão vivendo mais e tendo menos filhos. Essa é uma das razões apontadas pelo governo e economistas para a necessidade da reforma, inclusive.
Assim, para Zylberstajn, as empresas terão que contratar ou manter profissionais mais velhos, por causa da falta de jovens no mercado.
Quem tem menos estudo sofre mais
Mauro Rochlin, professor dos MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas), avalia que o mercado é fechado para pessoas mais velhas, principalmente para trabalhadores com menor instrução, e não vê perspectivas de melhoras.
Ele acredita que esse seja um problema que tende a se manter no futuro.
"Como a maior parte da população não tem nível superior, a grande massa vai ser prejudicada em relação a isso. Não vejo com bons olhos o que vai acontecer nessa faixa etária", afirma. "Infelizmente, a gente não tem um quadro mais alentador no curto prazo."
Rochlin diz que o problema é mais intenso para empregados que dependem do físico, como na construção civil, já que a tendência é que a capacidade produtiva caia conforme os anos passam.
Estudo diz que há menos emprego para jovens
Estudo publicado pela Consultoria do Senado no ano passado, porém, contraria a visão de que há menos vagas de trabalho para idosos.
Trabalhadores mais jovens têm maior chance de ficarem desempregados do que os mais velhos, segundo o artigo elaborado com base em dados do IBGE de 2017.
"A grande dificuldade de se arranjar emprego é na fase da juventude, quando se dispõe de pouca experiência no mercado de trabalho", afirmam Pedro Nery, Gabriel Nemer e Claudio Shikida, autores do estudo.
No caso dos homens, a probabilidade de arranjar emprego aos 65 anos é parecida com a de alguém de 30 anos, inferior a adultos entre 45 e 50 anos, mas bem superior à dos jovens, dizem.
As mulheres na faixa dos 65 anos são as que têm mais chances de arranjar trabalho, afirmam os pesquisadores. "Os resultados aqui descritos constituem óbice [obstáculo] relevante à tese de que trabalhadores mais velhos têm menor empregabilidade do que jovens ou adultos, depauperando tal argumento contra a idade mínima de aposentadoria."
Pessoas terão que trabalhar mais e aprender sempre
Hélio Zylberstajn diz que, no futuro, as pessoas terão de trabalhar por mais tempo e trocar de atividade ao longo da carreira, por causa das mudanças constantes no mercado e os avanços tecnológicos.
"O aprendizado contínuo e permanente é uma exigência daqui para frente para idosos e jovens. Uma pessoa que saiu da faculdade há cinco anos talvez tenha que voltar à escola, porque as coisas mudam muito rapidamente", afirma.
Economia precisa crescer para haver vagas
O crescimento da economia nos próximos anos será decisivo para que trabalhadores, idosos ou não, consigam continuar no mercado de trabalho.
"Se o país não voltar a crescer mais fortemente, não começar a galgar números próximos ou superiores a 3% (de alta do PIB por ano), vai ficar difícil vermos uma recuperação mais consistente do emprego formal", diz Mauro Rochlin.
Hélio Zylberstajn afirma que o Brasil está entrando num novo ciclo de crescimento e prevê melhora no mercado de trabalho nos próximos anos.
"Provavelmente estamos hoje no início de um novo ciclo de crescimento, e a demanda de mão de obra aumenta. Isso acaba ajudando a resolver qualquer problema de empregabilidade, porque as empresas precisam contratar."
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