App, rodízio, alerta de faxina: como empresas organizam volta ao escritório
Agendamento de presença via aplicativo, alerta de uso da estação de trabalho para o serviço de faxina, rodízio de funcionários. Com a volta gradual ao trabalho presencial, empresas que haviam adotado o home office integralmente estão criando novas rotinas e tecnologias para receber os funcionários.
É o caso da escola online de inglês English Live que substituiu um escritório para 250 pessoas por um espaço de coworking em São Paulo com apenas 50 vagas. Para organizar as escalas, a empresa determinou dias específicos para cada setor.
"Quem se sente seguro já está indo uma vez na semana. Estamos determinando ainda dias específicos para cada departamento: um dia para o marketing, outro dia para TI e um outro dia optativo", afirmou Wagner Leme Domingues, 43, gerente nacional da escola.
A ideia é que, em outubro todos compareçam um dia por semana no novo endereço. Em janeiro, dois dias por semana.
Escritórios menores
Foi depois de uma pesquisa interna com os funcionários que a Ravelo, empresa de tecnologia no setor de recursos humanos, decidiu substituir dois andares de salas comerciais, com capacidade para até 250 funcionários, por uma sala com apenas 12 posições, também em um espaço de coworking na capital paulista.
Durante a pandemia, o número de funcionários da empresa até aumentou, para 280, com empregados que trabalham de forma remota em outros estados e também em outros países na América do Norte, América Latina e Europa.
A empresa diz que a redução dos espaços ocorreu de forma gradual ao longo dos últimos meses e levou em consideração a preferência dos empregados por passar a maior parte do tempo em casa.
Agora, para trabalhar presencialmente, os funcionários precisam avisar o superior da área sobre o interesse em comparecer ao escritório.
A gerente de negócios Larissa Silva Fernandes, 22, é uma das funcionárias que prefere o modelo híbrido, apesar de demorar uma hora e meia no trajeto entre sua casa e a empresa.
Eu me sinto melhor no escritório, apesar de ser longe. Sinto que sou mais produtiva. Em casa, interrompo um pouco mais o trabalho. Por isso tenho a preferência por vir de duas a três vezes na semana de forma não obrigatória.
Larissa Silva Fernandes, 22
Agendamento de postos de trabalho e áreas comuns
Na Vtex, plataforma de comércio digital para empresas, funcionários usam um aplicativo para agendar o uso de postos de trabalho e áreas comuns nos escritórios. Até o momento, a utilização dos espaços é totalmente voluntária e restrita a colaboradores vacinados com dose única ou duas doses.
"Também é uma maneira de monitorarmos as reservas e fazermos eventuais ajustes, como ampliar ou reduzir a disponibilidade nos escritórios conforme as recomendações dos órgãos de saúde", diz a diretora de pessoas da Vtex, Bruna Bueno.
A empresa tem 1.200 funcionários e escritórios no Rio de Janeiro, Teresópolis (RJ), São Paulo, Curitiba, João Pessoa e Recife. Os escritórios não foram reduzidos —a empresa até expandiu nos últimos meses.
Alerta para limpeza após o uso
A empresa de projetos de segurança BHC Sistemas, com 35 funcionários e sede em São Paulo, usa um aplicativo para limitar em 50% o acesso dos profissionais ao escritório e implantou uma plataforma que emite notificações para que o setor de limpeza providencie a higienização de salas e outros ambientes após o uso. O comparecimento é opcional.
"O aplicativo exige ainda um check-in na chegada ao trabalho, por meio da geolocalização do colaborador. Ele não permite a abertura de salas não agendadas e dispara notificação para o administrativo solicitar a limpeza do ambiente", afirma o CEO da empresa, Adalberto Bem Haja.
A companhia também fornece o sistema para outras empresas.
Retorno para vacinados, com autorização do gestor
A Ticket, de benefícios, também implementou um site com sistema de agendamento de espaços. A companhia, que fica em São Paulo, diz que reformou seu escritório para que o espaço seja mais adequado ao modelo de trabalho híbrido
Desde agosto, dos 600 funcionários, só podem voltar ao presencial aqueles que assim o desejam e que tiveram autorização da empresa.
"Para solicitar a aprovação para o retorno voluntário, o colaborador deve falar com o gestor e responder o mapeamento de saúde com informações sobre as doses de vacina", declara José Ricardo Amaro, diretor de recursos humanos.
'Circular faz bem para a saúde mental'
Em São Paulo, a Lendico, fintech de empréstimo pessoal, também integra a lista de empresas que organizam o retorno ao trabalho presencial. O comparecimento ao escritório não será obrigatório e também terá um sistema de reserva.
O analista de marketing, Diego Souza Geraldo, 35, funcionário da Lendico, contou ao UOL que está adaptado ao novo formato, mas que prefere poder comparecer ao escritório um ou dois dias na semana.
Uma coisa de que sinto falta é ver a cidade. Circular faz bem para nossa saúde mental e, por isso, acho bem interessante esse movimento de ir para o trabalho uma ou duas vezes na semana. A gente tem mais qualidade de vida, consegue se livrar dos horários mais complicados do trânsito. É possível fazer uma reunião de casa e mais tarde ir para o escritório, é uma mudança positiva.
Diego Souza Geraldo, 35
Preocupação com processos legais
De acordo com a professora de direito da FGV-RJ, Juliana Bracks, é muito importante que as companhias garantam os protocolos de saúde nos escritórios para evitar, inclusive, problemas na Justiça, em caso de contágio.
"Se verificado que a empresa não cumpre os protocolos básicos de saúde e segurança, como rodízio de pessoas e distanciamento social, pode haver presunção de que a doença foi adquirida no trabalho. Nesse caso, é importante avaliar o ambiente. Se a empresa não cumpre os cuidados, ela vai responder pelos danos que tiver causado".
Preferência por modelo híbrido
Mais da metade das empresas que adotaram o home office têm intenção de retomar o trabalho presencial ainda no segundo semestre deste ano, 40% se organizam para a retomada no primeiro semestre de 2022 e 8% devem retornar apenas no segundo semestre do ano que vem, de acordo com uma pesquisa da KPMG no Brasil, feita entre julho e agosto.
O estudo mostra ainda que 58% devem manter o trabalho remoto duas ou três vezes na semana; 15% não devem manter; 11% permitirão o home office durante os cinco dias da semana; 9% quatro vezes na semana; 7% uma vez na semana.
Outra pesquisa, feita pela consultoria global de recursos humanos Randstad, mostra que 80% dos líderes de recursos humanos consideram alguma política permanente de trabalho remoto.
Para Fabio Battaglia, CEO da Randstad, o período atual é de transição e de testes para as empresas. "É uma tendência. Grandes e médias corporações vão propiciar um modelo híbrido, ainda por definir, pois há muitas opções possíveis —semana sim, semana não; dois dias em casa e três no escritório. Mas isso está sendo desenhado", diz.
Ele destaca que as corporações que não forem flexíveis vão enfrentar dificuldades para gerir o quadro de funcionários.
Hoje em dia, se não existe flexibilidade no modelo de trabalho, é muito difícil que você consiga atrair ou reter os melhores talentos, pois as pessoas começaram a ver que existe espaço para a saúde mental e física, para ficar mais próximo da família.
Fabio Battaglia, CEO da Randstad
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