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Especialistas comentam o significado da estréia da Bovespa como ação

Sophia Camargo

26/10/2007 11h37

26 de outubro é um dia para ficar na história do mercado de ações do Brasil. Afinal, é a data da estréia da Bovespa como mais um papel a ser negociado em Bolsa. E o que isso significa? Significa que mudou tudo.

Afinal, a Bolsa deixa de ser uma associação, um clube sem fins lucrativos onde os corretores eram os sócios, para se tornar uma sociedade por ações, com fins lucrativos, onde os corretores poderão ser apenas mais um dos acionistas. É o processo denominado desmutualização.

Novidade mesmo, só aqui no Brasil, porque esta já é uma tendência mundial das Bolsas há alguns anos. A Chicago Mercantile Exchange (CME), foi a primeira a se desmutualizar há sete anos, em 13 de novembro de 2000. A Nasdaq e a Bolsa de Nova York, as Bolsas de Londres, de Hong Kong, da Austrália, da Suécia e de Toronto, entre outras, seguiram o mesmo caminho.

O professor Valdir Carlos Pereira Filho, do Ibmec São Paulo, explica que a maior vantagem desse negócio é que a Bolsa se mantém atualizada.

"É um negócio caro, que envolve muito dinheiro. Quanto mais uma Bolsa se desenvolve, mais ela atrai liquidez. Para continuar atraindo fundos, precisa ter um ambiente de negociação bom, transparente, seguro e eficiente para os investidores. E para que possa manter um pessoal de ponta, softwares atualizados, produtos atrativos, manter-se competitiva, ela necessita cada vez mais de dinheiro, e ser negociada em Bolsa é uma maneira de atrair e aumentar o capital", explica.

O professor Ricardo Humberto Rocha, colega de Pereira no Ibmec São Paulo e também coordenador do Laboratório de Finanças da USP concorda. "Vejo como muito saudável e um sinal da pujança econômica que o mercado acionário brasileiro vive", diz.

Para ele, a abertura irá significar mais vantagens para o investidor porque, quando uma empresa abre seu capital, ela obrigatoriamente tem de dar mais informações ao mercado. "O que é muito positivo para o investidor."

Os especialistas concordam que a grande questão será como a Bolsa conseguirá compatibilizar a função de auto-regulação que exerce sobre si mesma com a finalidade lucrativa. "A independência tem que ser garantida", avalia Pereira Filho.

Ele explica que é interesse da própria Bolsa manter uma fiscalização e regulação boas, porque, se ela relaxar e permitir que o mercado fique menos sólido, isso irá significar menos gente investindo, o que contraria seus próprios interesses.

"A Bovespa vive de manter o manter o mercado forte, seguro. A preocupação de abrir a porteira e deixar entrar qualquer um enfraquece o mercado que é a principal fonte de renda da própria entidade", declara.

Gilberto de Souza Biojone Filho, diretor-superintendente da Ancor (Associação Nacional das Corretoras de Valores, Câmbio e Mercadorias), lembra que não é necessário temer nenhuma ingerência com relação à regulamentação, já que, em última instância, a fiscalização sobre as companhias de capital aberto cabe à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Especializado em Direito Bancário e Financeiro, o professor Valdir Pereira Filho esclarece que o mecanismo de regulação da nova companhia será parecido com o adotado pela NYSE, a Bolsa de Nova York.

"No próprio prospecto do IPO da Bovespa, já está informado que uma nova entidade, a BSM (Bovespa Supervisão de Mercados), será quem irá cuidar da regulação, enquanto a Bovespa será a companhia em busca de lucros."

De acordo com o prospecto, a BSM será uma associação sem fins lucrativos criada com o objetivo de analisar, supervisionar e fiscalizar o mercado de forma independente. A BSM também irá administrar o fundo de Garantia da Bovespa e terá autonomia financeira. O seu patrimônio foi constituído através de contribuições iguais da BVSP (Bolsa de Valores de São Paulo) e da CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia).