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OPINIÃO

FGTS: Vai comprar Eletrobras? Cuidado, ação é diferente de Vale e Petrobras

Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Imagem: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Rafael Bevilacqua

06/06/2022 09h36

Esta é a versão online da edição de hoje da newsletter Por Dentro da Bolsa, que fala sobre as diferenças entre as ações da Eletrobras e da Vale e da Petrobras, por ocasião da liberação de parte do FGTS para comprar papéis da elétrica, e traz mais destaques de investimentos. Para receber esse e outros boletins diretamente no seu email, cadastre-se. Os assinantes UOL ainda têm direito a mais duas newsletters exclusivas sobre investimentos.

Desde o anúncio de que os trabalhadores poderão utilizar recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para comprar ações da Eletrobras (ELET6) durante o processo de privatização da companhia, inúmeras comparações com os casos de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) têm surgido na mídia e nas redes sociais.

Tanto a mineradora quanto a petrolífera já ofereceram a possibilidade de os investidores adquirirem ações com recursos do FGTS durante ofertas de ações realizadas no passado, e os retornos acumulados ao longo dos anos superaram —e muito— a rentabilidade de aproximadamente 3% ao ano oferecida pelo fundo.

Rentabilidade impressionante

Os fundos que investiram em ações da Petrobras com recursos do FGTS no início dos anos 2000 acumulavam alta de mais de 1.200% desde sua criação até maio deste ano, o que significa que cada R$ 1.000 investidos na época se transformaram em R$ 12.000. No caso da Vale, a valorização é ainda mais expressiva: 2.800% desde a criação dos fundos até maio deste ano.

Ao comparar essa valorização expressiva com a baixa rentabilidade do FGTS —que perde até mesmo para a inflação acumulada nos últimos 20 anos—, o trabalhador tende a se sentir tentado a embarcar nessa nova oferta de ações da Eletrobras. Mas, como diz a máxima do mercado financeiro, rentabilidade passada não é garantia de retornos futuros —especialmente quando se analisa ativos distintos.

Mais diferenças do que semelhanças

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que a valorização expressiva desses Fundos Mútuos de Privatização (FMP) porque eles compraram as ações da Petrobras e da Vale em momentos nos quais esses ativos estavam desvalorizados e se beneficiaram de um movimento de alta do mercado brasileiro de ações como um todo ao longo dos últimos anos.

Além disso, por investirem em ativos de renda variável, esses fundos nem sempre superaram a rentabilidade do FGTS, e chegaram a registrar perdas expressivas em momentos de crise de ambas as companhias.

A Eletrobras, por outro lado, vive um bom momento, é negociada na Bolsa a um preço compatível com o seu potencial no curto prazo e não apresenta um espaço para uma alta tão expressiva quando as outras companhias apresentavam quando realizaram suas ofertas de ações.

Commodities versus utilities

Existe ainda outro fator que precisa ser levado em consideração e que, por mais óbvio que possa parecer, tem passado despercebido para muitas pessoas: a Eletrobras é uma companhia totalmente diferente de Petrobras e Vale.

Enquanto a petrolífera e a mineradora atuam no setor de commodities, um segmento da economia considerado cíclico, cujos resultados dependem dos preços das matérias-primas no mercado internacional, a Eletrobras é uma empresa de utilidade pública, que atua no segmento de energia elétrica.

Esse é um dos segmentos mais perenes e previsíveis da economia brasileira, o que faz com que as ações de companhias que atuam com geração, transmissão e distribuição de energia elétrica oscilem muito menos de preço do que as empresas que atuam na exploração e comércio de matérias-primas.

Petrobras e Vale se beneficiaram de uma disparada dos preços do barril de petróleo e da tonelada do minério de ferro nos mercados internacionais nos últimos anos, o que abriu caminho para a alta das ações dessas companhias.

No caso da Eletrobras, não há tanto espaço para uma disparada do preço da energia elétrica, o que significa que a companhia não deve se beneficiar de movimento semelhantes aos que favoreceram as petrolíferas e as mineradoras nos últimos anos.

Antes de decidir entrar nessa oferta de ações, é preciso analisar cuidadosamente o verdadeiro potencial da Eletrobras e ponderar se o investimento vale o risco. Contudo, não se deixe levar pela empolgação do momento e por comparações simplistas, que tratam maçãs e bananas como se fossem a mesma coisa.

Leia no 'Investigando o Mercado' (exclusivo para assinantes UOL, que possuem acesso integral ao conteúdo de UOL Investimentos): a Anatel deu um desconto na dívida da Oi, mas o mercado queria mais.

Um abraço,

Rafael Bevilacqua
Estrategista-chefe e sócio-fundador da Levante

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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo estrategista-chefe e sócio-fundador Rafael Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL