'Lama tomou uvas e máquinas', diz dona de vinícola que perdeu R$ 300 mil
Vinícolas das áreas atingidas pelas enchentes no RS perderam máquinas, uvas e vinhos ainda em produção e até garrafas já prontas. É o caso da vinícola familiar Valparaíso, que fica em Vila Rica, no município de Barão (RS), na Serra Gaúcha. Naiana Argenta, sócia e filha do fundador, o engenheiro-agrônomo Arnaldo Antonio Argenta, diz que a cantina onde estavam armazenadas as frutas foi tomada pela enchente por dias, levando água com lama para garrafas, barris e maquinários.
Produtos perdidos. "Encheu de água com lama acima de um metro de altura por três dias. Tanques que estavam fermentando vinho tombaram, fazendo com que aquele material fosse perdido", diz. Em alguns desses tanques, estavam uvas nebbiolo, uma das mais nobres da Itália.
Cálculos ainda devem ser feitos. Os estragos ainda não foram completamente contabilizados por falta de acesso à área dos vinhedos, mas o pouco já contado soma cerca de R$ 300 mil de prejuízo para a vinícola, tendo em vista o estoque de vinhos e estruturas danificadas. O faturamento da empresa familiar é de R$ 480 mil por ano, sem descontar os custos, como salários e impostos.
A Valparaíso é o sonho do meu pai. É a vida dele. Agora, a gente nem dorme de noite pensando que tudo vai por água abaixo de novo.
Naiana Argenta, sócia e filha do fundador
A família recebeu ajuda com mão de obra emprestada por outras vinícolas para uma força-tarefa de limpeza na cantina e nos produtos. Agora, o foco por lá é retomar as atividades quanto antes para reduzir o prejuízo.
Qual foi o tamanho do impacto
O Rio Grande do Sul é responsável por pouco mais de 60% da produção de uvas no Brasil. Metade é destinada ao consumo "in natura", segundo dados do IBGE de 2022. A outra parte é destinada à produção de sucos, vinhos e espumantes, tanto artesanal quanto industrial, que abastece o país.
É estimado que 500 hectares de videiras foram comprometidos Com as enchentes e inundações causadas pelas fortes chuvas do início do mês. O levantamento é da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS Ascar), ligada ao governo estadual. Esse número representa pouco mais de 1% das videiras do estado, que somam 46,8 mil hectares (IBGE, 2022).
O número deve crescer, já que a chuva ainda não acabou. "Ainda é difícil dar números precisos. O que podemos fazer é dar uma prévia, com base em conversas com produtores locais", diz Luís Bohn, adjunto da gerência da Emater-RS. "A tendência é que esse dano seja absorvível [pelo setor], com incremento de produção, tecnologia e crescimento de área de plantio", diz.
Vai faltar vinho e suco de uva?
Inicialmente não. Isso porque, segundo Bohn, o período de colheita das uvas já estava no fim quando as tempestades começaram no Sul. A safra foi colhida entre dezembro e março. Porém, fatores como estradas obstruídas pelas enchentes podem fazer com que haja atraso no transporte das frutas e dos produtos pelo país.
Mas a próxima safra pode ser impactada. Ainda não se sabe se o impacto será significativo, já que neste momento os produtores ainda não conseguiram avaliar totalmente suas propriedades, a situação das vinhas que restaram e o próprio solo, que ficou encharcado.
Caso vinhas antigas tenham sido danificadas, plantar novas mudas no lugar pode atrasar a próxima colheita. O tempo médio para que o parreiral comece a produzir uvas com plenitude é de cerca de três anos, de acordo com Maurício Bonafé, engenheiro-agrônomo e gerente Agrícola da Cooperativa Vinícola Aurora.
E o custo para novas plantações é alto. Bonafé estima que cada novo hectare pode representar um investimento de até R$ 150 mil para novas plantações, caso a vinha antiga tenha sido danificada com as enchentes. Esse valor varia para mais ou para menos conforme a variedade plantada, que vai desde as americanas e híbridas (para produção de suco e vinhos de mesa) até as viníferas (destinadas para elaboração de vinhos finos).
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Quero receberPrioridade é cuidar das famílias. A Aurora, uma das maiores produtoras do país, divulgou um comunicado em que diz que o foco atual é no atendimento às famílias atingidas para que estejam em segurança e com suas necessidades básicas atendidas. Depois, "haverá a avaliação dos impactos materiais e seus reflexos nas questões produtivas e logísticas", diz a nota.
Leilão beneficente
União pelas vítimas. É na esteira da retomada que, mesmo afetadas e ainda sem sequer conseguir contabilizar o prejuízo, vinícolas de todo o estado se uniram para auxiliar as vítimas do Rio Grande do Sul.
Rótulos raros de vinhos gaúchos foram a leilão para arrecadar fundos destinados às vítimas das chuvas e enchentes do estado. A campanha é divulgada pela jornalista Lucia Porto, na plataforma Brasil de Vinhos. São rótulos que não estão à venda em outros locais, de safras antigas e itens de colecionadores que estavam em adegas particulares.
Campanha para compra de vinho. A ação faz parte da campanha encabeçada por Porto, #comprevinhogaucho, que busca incentivar o consumo de vinho gaúcho neste momento, para que o setor consiga se reerguer tão logo as chuvas acabem.
Governo Federal anuncia financiamento
Liberação de recursos. Na última semana, por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), o Governo Federal anunciou a liberação de R$ 1 bilhão para a subvenção de juros para o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).
Financiamento para reconstrução. Os agricultores familiares gaúchos poderão solicitar financiamentos para reconstruir suas lavouras de até 120 meses (com até 36 meses de carência), com descontos para reduzir a taxa de juros para 0% nominal ao ano (apenas a devolução do principal, sem a correção). O impacto da medida é estimado em R$ 1 bilhão para desconto de juros pelo programa.
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