IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

OPINIÃO

Guedes conta com estatais para realizar sonho de colocar as contas no azul

Guedes prometeu colocar as contas no azul já no primeiro ano do governo, o que não aconteceu - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Guedes prometeu colocar as contas no azul já no primeiro ano do governo, o que não aconteceu Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Rafael Bevilacqua

26/07/2022 09h37

Esta é a versão online da edição de hoje da newsletter Por Dentro da Bolsa. Para assinar este e outros boletins e recebê-los diretamente no seu email, cadastre-se aqui.

Quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) assumiu o cargo, em 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, abraçou a missão de entregar as contas públicas com superávit, ou seja, com as receitas superando as despesas —o que tinha acontecido pela última vez em 2013.

O projeto inicial do economista incluía alcançar esse objetivo já no primeiro ano de governo, o que não foi possível: as contas públicas fecharam 2019 com um déficit de R$ 61,8 bilhões.

Não podemos dizer que o resultado foi de todo ruim, uma vez que a deterioração das contas públicas havia atingido níveis insustentáveis, e a resistência da classe política aos cortes de gastos que vinham sendo propostos desde o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) sempre se mostrou implacável.

Além disso, o déficit de 2019 havia sido o menor desde 2014, mostrando que, mesmo com as contas no vermelho, o país vinha em uma trajetória de redução da diferença entre gastos e receitas, movimento imprescindível para a estabilização da economia brasileira.

Contudo, o resultado foi insuficiente, e o ano seguinte reservava uma amarga surpresa para todo o planeta: a pandemia do coronavírus.

O preço de uma pandemia

Com o início da crise sanitária, governos ao redor do mundo se viram forçados a implementar uma série de políticas públicas custosas para garantir que as pessoas cumprissem o distanciamento social enquanto vacinas ainda não estavam disponíveis.

Não é preciso dizer que essas medidas, embora necessárias, pesaram nas contas públicas brasileiras, e frustraram novamente os planos de Guedes de perseguir o superávit fiscal. Em 2020, o Brasil teve um déficit primário recorde, de R$ 702,9 bilhões —mais de 11 vezes o déficit do ano anterior.

Em 2021, ainda sofrendo com os efeitos da pandemia, o resultado primário do governo melhorou significativamente, mas permaneceu no vermelho, com déficit de R$ 35,1 bilhões.

Isso significa que este ano pode ser a última oportunidade do ministro de alcançar o tão sonhado superávit primário das contas públicas, uma vez que, mesmo que Bolsonaro seja reeleito, não há nenhuma garantia de que Guedes permanecerá no cargo.

Contudo, o próprio presidente e a ala política do governo têm defendido sucessivos novos gastos públicos, que têm transformado em tarefas árduas o cumprimento do teto de gastos e a busca por um resultado primário positivo.

Mais gastos, menos arrecadação

Estima-se que a chamada "PEC kamikaze" deve custar aos cofres públicos cerca de R$ 41,2 bilhões em despesas extras, acrescidas do custo de R$ 16,5 bilhões referente à desoneração dos combustíveis, totalizando R$ 57,7 bilhões em gastos adicionais neste ano.

Além disso, o Ministério da Economia estima que aproximadamente R$ 71,1 bilhões deixarão de ser arrecadados pelo Tesouro devido a isenções e reduções de impostos —um cenário caótico para um país que enfrenta dificuldades em fechar no azul.

A esperança pelos dividendos

Nesse cenário, Guedes e sua equipe depositam suas esperanças nas empresas estatais, mais especificamente nos dividendos que essas companhias pagam ao seu acionista controlador, o governo federal.

Até o momento, o governo conta com R$ 26 bilhões conseguidos com a privatização da Eletrobras (ELET6/ELET3) e R$ 18 bilhões em dividendos já pagos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas o montante é insuficiente para cobrir as despesas extravagantes do ano eleitoral.

Assim, os proventos a serem pagos por Petrobras (PETR4/PETR3), Banco do Brasil (BBAS3) e Caixa Econômica Federal entram na mira do governo como uma fonte de receita que pode vir a compensar o aumento dos gastos e as desonerações.

Em virtude da necessidade de garantir que esses recursos estarão à disposição, o Ministério da Economia enviou ofícios às estatais tratando de possíveis mudanças na distribuição de dividendos.

Caso as companhias optem por aumentar o payout, ou seja, a fatia do lucro líquido distribuído na forma de dividendos, além de antecipar o pagamento de dividendos previstos para 2023, pode ser que Paulo Guedes consiga cumprir, com atraso, seu objetivo de colocar as contas públicas no azul.

Leia no 'Investigando o Mercado' (exclusivo para assinantes UOL, que possuem acesso integral ao conteúdo de UOL Investimentos): informações sobre a retomada das exportações de frango pela BRF, dona das marcas Perdigão e Sadia, para a Arábia Saudita.

Um abraço,

Rafael Bevilacqua
Estrategista-chefe e sócio-fundador da Levante

**********

NA NEWSLETTER A COMPANHIA

A newsletter A Companhia analisa as ações da BB Seguridade, o braço de seguros do Banco do Brasil. A companhia obteve lucro líquido de R$ 1,2 bilhão no primeiro trimestre, com alta de 21% frente a igual período do ano passado. O balanço do segundo trimestre está agendado para 8 de agosto. Para se cadastrar e receber a newsletter semanal, clique aqui.

Queremos ouvir você

Tem alguma dúvida ou sugestão sobre investimentos? Mande sua pergunta para duvidasparceiro@uol.com.br.

Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo estrategista-chefe e sócio-fundador Rafael Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.