Com juros altos e crise, é hora de investir em bancos ou devo fugir?
Os juros altos em tese favorecem os bancos, mas a crise bancária nos EUA e na Suíça é motivo para assustar investidores no Brasil?
O que está acontecendo?
- Itaú, Bradesco, Santander e BTG Pactual estão sofrendo na Bolsa. Só o Banco do Brasil está em alta nos últimos 12 meses. A inadimplência e os juros altos estão pressionando essas ações.
- Analistas dizem que o risco de uma crise bancária no Brasil é muito baixo. Mas, na hora de recomendar o investimento nas ações das instituições financeiras, eles se dividem.
- Os bancos são normalmente tidos como empresas com ações menos sujeitas a variações. Por isso, são vistos como boas opções para quem quer entrar na Bolsa e sofrer menos com o sobe e desce. E agora, o que fazer? Veja o que dizem especialistas.
Bancos brasileiros caem na Bolsa de Valores
- As ações ordinárias do Bradesco (BBDC3) caíram 23,69% em 12 meses, até 21 de março. As ações preferenciais (BBDC4) caíram 28,82% no mesmo período, segundo levantamento do Trademap.
- As ações do Banco do Brasil caíram 29,76% (BBAS3).
- O Itaú caiu 7,98% (ITUB3) e 7,99% (ITUB4).
- Santander perdeu 24,69% (SANB3), 21,42% (SANB4) e 23,37% (SANB11) no último ano.
- Em 2023, todas essas ações estão no negativo.
Bancos estão com dificuldade no mundo
- Nos Estados Unidos, recentemente quebraram os bancos Silicon Valley Bank, Signature Bank e First Republic Bank. O Credit Suisse, na Europa, também estava em dificuldades, e foi comprado pelo rival UBS.
- Até Warren Buffett, um dos maiores investidores do mundo, estaria preocupado. O bilionário estaria conversando com o governo Biden sobre a situação bancária do país, segundo o New York Times. Sua empresa de investimentos, a Berkshire Hathaway, injetou bilhões de dólares em capital para escorar o banco Goldman Sachs durante o momento mais perigoso da crise financeira de 2008.
Inflação e juros altos afetam o setor
- Bancos centrais no mundo elevaram os juros nos últimos meses para tentar conter a inflação. Os juros altos, em princípio, são bons para os bancos, porque eles ganham ao cobrar taxas mais altas.
- Nos EUA, porém, as altas taxas afetam o crescimento das empresas, que são clientes dos bancos. Então elas sacam depósitos que haviam feito.
- Quando esses saques são feitos em massa, os bancos têm prejuízo. Foi o caso do Silicon Valley Bank, que teve sua falência decretada dia 13 de março.
- Os bancos americanos não estavam acostumados - como estão os daqui - a um ambiente de juros altos. Por isso, não estavam preparados para esses saques em massa dos clientes, diz Luiz Fernando Araújo, presidente da Finacap Investimentos, de Recife.
Mas há motivo para se preocupar com uma crise bancária no Brasil?
- Não, já que a saúde financeira dos bancos está forte. A segurança do dinheiro investido nos bancos brasileiros mostra isso. Isso é medido pelo Índice de Basileia, que é um conjunto de regras e regulamentos internacionais que estabelecem requisitos mínimos de capital que os bancos devem manter em relação aos seus ativos.
- O índice de bancos brasileiros é considerado alto pelo mercado. O SVB nem tinha o índice de Basileia. Desde a administração de Donald Trump, esses bancos pequenos americanos não precisam oferecer garantias como os maiores.
- Além disso, os americanos oferecem bem mais empréstimos que os brasileiros.
- No Brasil, o problema é a inadimplência. Quando os juros são altos demais, os clientes não conseguem mais pagar suas dívidas. A inadimplência aumentou no Santander e no Bradesco, por exemplo. Por isso as ações estão em queda.
Aqui, por conta de um histórico de juros altos que temos há muito tempo, as pessoas e as empresas até evitam pedir empréstimos.
Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, de Minas Gerais
A situação financeira dos bancos brasileiros é sólida, com indicadores saudáveis de empréstimo por depósitos. Portanto, não esperamos que os eventos recentes contagiem os bancos brasileiros.
Rachel de Sá, chefe de economia e Julia Aquino, analista quantitativa, ambas da Rico Investimentos, em documento para investidores
Situação política também afeta os bancos brasileiros
- O setor bancário brasileiro é mais afetado pelas questões locais. A nova regra de gastos do governo, que será divulgada em abril, pode impactar o setor, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
- O fator político também vem afetando os bancos, segundo Larissa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito críticas aos juros altos.
- A recuperação judicial das Americanas não deve afetar os bancos. A empresa publica seu balanço no dia 29. Só então se saberá, com certeza, quanto a empresa deve. Seus principais credores são Bradesco, BTG Pactual, Safra, Itaú e Santander. No mercado, estima-se que o número dessa dívida estaria em astronômicos R$ 48 bilhões. Mas os bancos já garantiram provisões para o não-pagamento desse valor, diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.
Vale a pena investir em bancos?
- Consideradas ações que valorizam bem, muitos analistas estão deixando elas de lado. Para Mastromonico, por exemplo, é melhor esperar. Isso porque com todos esses acontecimentos, as ações estão subindo e caindo a todo momento.
- "Eu aguardaria mercado normalizar um pouco", afirma Lage, da Valor Investimentos. Para ele, esse vai e vem dos preços não é sadio para o investidor agora.
- Araújo, da Finacap, porém, acredita que investir agora pode ser uma boa se o investidor não ligar muito para esse sobe e desce. "Elas são defensivas e boas para cenários de juros altos, como agora", afirma.
- A Empiricus recomenda apenas o Itaú e BTG Pactual. No Bradesco, há 13 recomendações de compra e uma recomendação neutra - melhor não comprar nem vender.
- A XP recomenda compra do Banco do Brasil. O preço alvo para o final do ano é de R$ 61, um potencial de valorização de 62,41%. O Itaú também é recomendado pela XP. O preço alvo para o fim do ano para a ação ITUB4 é de R$ 34, alta de 40,55%.
- Já para o Santander, a XP tem recomendação neutra. O preço alvo para a ação SANB11 é de R$ 34 até o fim do ano, alta de 12,81%.
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
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