Renda fixa é queridinha dos brasileiros, que têm R$ 7 trilhões investidos
Os brasileiros investiram 7,6% mais no começo deste ano, e já somam mais de R$ 7 trilhões aplicados. O destaque ficou para a renda fixa e a previdência, que registraram mais de 10% de alta. Os dados firam divulgados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Todos investiram mais
Todas as faixas de renda investiram mais. Isso vale para clientes do varejo tradicional, do varejo alta renda (investidores com aplicações abaixo de R$ 5 milhões) e do private (investidores com mais de R$ 5 milhões aplicados). O varejo tradicional avançou 9,5%, somando R$ 2,3 trilhões, e o alta renda cresceu 9,7%, chegando a R$ 2,4 trilhões. Os dois segmentos correspondem a 68,6% do volume investido no primeiro semestre, segundo a Anbima. Já o cliente private cresceu 3,3%, totalizando R$ 2,2 trilhões, e soma 31,4% do total.
Diferença é o tipo de conta. Segundo Myrian Lund, planejadora financeira e professora de finanças na FGV, cliente varejo tradicional é aquele que não tem conta em segmentos especiais nos grandes bancos, como Personnalité (Itaú), Prime (Bradesco), Select (Santander) e Estilo (BB), por exemplo. Quem tem contas nesse segmento são chamados de varejo de alta renda.
Pessoas têm mais conhecimento. "Esse crescimento mostra como o varejo está se expandindo, crescendo e se interessando mais por investimentos, principalmente o varejo tradicional", diz Lund.
Foco é na renda fixa
A preferência dos investidores do varejo foi para a renda fixa: 57,8% de todo o novo dinheiro aplicado foi nesse segmento. Esses investimentos aumentaram 10,1% no primeiro semestre de 2024 em comparação a dezembro de 2023, chegando a R$ 4 trilhões.
Outro destaque foi para a previdência, que chegou a R$ 1,15 trilhão de tudo o que investidores têm na carteira. "O varejo está cada vez mais bem informado e pensando a médio e longo prazo", disse Ademir A. Correa Júnior, presidente do Fórum de Distribuição da Anbima.
"O varejo concentra a maior parte das aplicações em instrumentos de renda fixa, que são favorecidos pela Selic ainda em dois dígitos. Já o private tem a carteira mais diversificada, com 30% da fatia alocada em renda variável, mais influenciada pelas incertezas dos cenários interno e externo", diz Correa.
"A preferência pela renda fixa e previdência faz parte da cultura brasileira e temos que entender que aqui é diferente dos outros países. O Brasil tem uma taxa de juros real elevada que leva as pessoas a terem mais afinidade com esse tipo de investimento", disse Lund.
Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) subiram 13,1%, enquanto a alta dos títulos públicos foi de 15,5%. As debêntures tradicionais cresceram 22,3%, somando R$ 43 bilhões ao final da primeira metade deste ano.
Os fundos de investimento também tiveram um bom desempenho. O produto cresceu 20,9%. "Com o semestre marcado pela aversão a risco e pelas mudanças nas regras de títulos isentos, esses fundos e outros produtos de renda fixa, como CDBs e as debêntures, ficaram mais atrativos", diz Correa Júnior.
Destaque para investimentos sem cobrança de IR
Dentro da renda fixa, o maior crescimento foi em títulos e valores mobiliários, que são o CRI, CRA e debêntures.
Investimentos em títulos isentos de imposto de renda tiveram um aumento de 7,3% na comparação com o fechamento de 2023. O montante chegou a R$ 1,1 trilhão. Esse avanço aconteceu em meio às novas regras do CMN (Conselho Monetário Nacional), que, em fevereiro deste ano, limitaram a emissão e ampliaram o prazo de carência desses títulos. As novas regras reduziram o percentual e o volume do avanço, em comparação ao crescimento que foi visto nos semestres anteriores.
As aplicações em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) cresceram 22,9%. Já em CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), tiveram alta de 25,5%.
Tanto as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) quanto as LCIs (Letras de Crédito Imobiliários) avançaram 3,6%. Essas letras detêm o maior volume de investimentos entre os títulos de renda fixa isentos de IR. A alta também foi em LIGs (Letras Imobiliárias Garantidas), de 4,3%. Já as debêntures incentivadas, que não foram incluídas nas regras do CMN, ganharam atratividade, com aumento de 13,7% na comparação com dezembro de 2023.
"Apesar das mudanças, o atual patamar da taxa de juros e as alterações no regime de tributação dos fundos exclusivos e de previdência contribuem para a procura por produtos de renda fixa com benefício fiscal. A demanda por títulos isentos, que já vinha forte desde o ano passado, continua", diz Correa Júnior.
Renda variável tem destaque para fundos
Os fundos imobiliários também tiveram resultado positivo no semestre, com alta de 20,4%. "Já nos fundos, isso também tem um pouco da tradição do brasileiro em investir em imóvel. É uma possibilidade de investir em pequenas parcelas, mas sem necessariamente ter que comprar um imóvel", diz Correa Júnior.
Os outros destaques vão para FIPs (Fundos de Investimento de Participação), com aumento de 34%. Os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) avançaram 17,7%, e os ETFs tiveram crescimento de 38,5%.
Por outro lado, os multimercados recuaram 4,2%. Assim como os fundos de ações (inclui fundos mútuos de participação), que caíram 1,6%, totalizando R$ 245,2 bilhões ao fim do semestre, e os cambiais, com baixa de 17,8%, para R$ 1,8 bilhão no mesmo período de comparação.
"Os fundos de multimercado se justificam quando estamos vivendo uma taxa de juros real baixa e ele tenta buscar outras oportunidades. Mas se você tem uma taxa de juros elevada, é preciso aproveitar até em opções que estejam garantindo esse ganho extraordinário", explica a professora da FGV sobre a baixa.
Mais investidores no Centro-Oeste
Todas as regiões do país registraram aumentos no primeiro semestre deste ano, mas o destaque fica para o Centro-Oeste, com crescimento de 10,1%. No Sul, a alta foi de 9,9%, enquanto no Norte houve um aumento de 8,6%. No Nordeste foi de 8,2%, e no Sudeste, de 6,6% em relação a dezembro de 2023. O Sudeste é a região com o maior volume de investimentos.
"É muito bom ver que as regiões que mais cresceram foram o Centro-Oeste, seguida de Sul, Norte e Nordeste, e a menor foi Sudeste. Rio de Janeiro e São Paulo são os lugares que concentram o grosso do mercado, a maior parte das instituições do mercado financeiro. Mas agora podemos ver esse crescimento a nível Brasil. O relatório mostra como o brasileiro está se preparando, investindo mais e sabendo como aproveitar as oportunidades", disse Lund.
Deixe seu comentário