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Detroit, símbolo da indústria automobilística, declara falência

19/07/2012 16h24

DETROIT, Estados Unidos / Michigan, 19 Jul 2013 (AFP) - A cidade de Detroit, berço da indústria automobilística dos Estados Unidos, tornou-se na quinta-feira a maior cidade americana a se declarar em concordata e a pedir ajuda legal diante desta situação, segundo documentos judiciais.

Esta cidade, que chegou a ser a quarta maior do país, perdeu a metade de sua população desde 1950, expulsa pela violência de gangues armadas e em busca de melhores oportunidades, devido à crise na indústria automobilística, que derrubou a economia local.

Em coletiva de imprensa, o governador Rick Snyder defendeu a decisão de declarar a quebra da cidade e tentou acalmar os cidadãos.

"Queremos tranquilizar os cidadãos: tudo vai continuar funcionando normalmente", expressou. "Chegou ao momento de encaminhar Detroit".

"Agora é a oportunidade de interromper 60 anos de decadência", disse Snyder, que insistiu que a cidade vai sair fortalecida deste processo.

A cidade, no noroeste dos Estados Unidos, tem uma dívida recorde de 18,5 bilhões de dólares e as autoridades municipais já haviam anunciado mês passado que entraria em moratória em parte da dívida.

Amy Brundage, porta-voz da Casa Branca, declarou à AFP que o presidente Barack Obama e sua equipe "seguem supervisionando" a situação.

"Os dirigentes em Michigan e os credores da cidade sabem que precisam encontrar uma solução para o sério desafio financeiro de Detroit, e nós seguimos comprometidos em colaborar com Detroit enquanto trabalha para revitalizar e manter seu status de uma das maiores cidades americanas", acrescentou o porta-voz em um comunicado.



=== Casas abandonadas e recordes de criminalidade ===



A cidade oferece um aspecto desolador, há 78.000 edificios abandonados na cidade e 40% dos serviços de iluminação não funcionam.

A falta de fundos para manutenção e reparações significa que apenas um terço das ambulâncias da cidade funcionam e os carros de polícia e dos bombeiros também estão em mau estado.

A taxa de homicídios é a maior em quase 40 anos e, por mais de duas décadas, Detroit esteve na lista de cidades mais perigosas dos Estados Unidos.

Kevyn Orr, o administrador de emergência com experiência em falência nomeado pelo governador de Michigan para enfrentar o problema, resumiu a situação como resultado de "uma má gestão financeira, uma população em queda e uma erosão da base fiscal dos últimos 45 anos".

Por sua vez, a câmara de comércio da cidade elogiou a declaração de quebra e considerou como uma "decisão valente".

Os fundos de pensão, aos que Detroit deve 9 bilhões de dólares, lançaram uma ação judicial para evitar o corte das pensões dos seus assinantes, apesar de a falência tender a parar temporariamente o processo.

Agora, um juiz terá de pronunciar-se sobre se Detroit pode se beneficiar da lei de falências, permitindo renegociar sua dívida.

"O maior desafio que temos é que não houve muitas quebras de cidades ao longo da história [...], por isso temos pouca experiência nesta área", disse à AFP Douglas Bernstein, um advogado especializado em falência.

Para além dos aspectos legais e financeiros, o colapso de Detroit é um reflexo do declínio da indústria automobilística nos Estados Unidos, que teve sua idade de ouro no início do século XX.

Detroit foi o berço dos pesos pesados da indústria, o "Big Three" (Ford, Chrysler, General Motors). A cidade foi marcada por décadas de cultura automobilística, com bandas de rock como MC5 ("Motor City 5") ou a lendária Motown (abreviação de "Motor Town").

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