Não é só por causa do Lula: dólar sobe em 84 países

Um levantamento comparando 118 moedas do mundo todo mostra que não é só o real que está perdendo valor em relação ao dólar. Outras 84 divisas também estão se desvalorizando ante a moeda americana.

O real, porém, é a quinta que mais se enfraqueceu em 2024, segundo levantamento da Austin Rating, considerando a Ptax de 3 de julho. A Ptax é a taxa média diária do dólar, calculada pelo Banco Central.

Confira:

  1. Nigéria/naira -42,6%
  2. Egito/libra -35,8%
  3. Sudão do Sul/libra sudanesa -29,9%
  4. Gana/cedi -21,9%
  5. Brasil/real -13,3%
  6. Japão/iene -12,4%
  7. Argentina/peso -11,7%
  8. Seychelles/ rúpia -10,7%
  9. Turquia/lira -9,2%
  10. Suíça/franco suíço -7,0%
  11. México/peso -6,8%
  12. Chile/peso -6,5%
  13. Bangladesh/taca -6,4%
  14. Tailândia/bath -6,3%
  15. Ucrânia/hryvnia -6,3%
  16. Colômbia/peso -6,0%
  17. Coreia do Sul/won -6,0%
  18. Indonésia/rúpia -6,0%
  19. Taiwan/novo dólar -6,0%
  20. Ilhas Mauricio/rúpia -5,6%

Fonte: Austin Rating, considerando 1 de janeiro a 3 de julho de 2024

Nesta quarta-feira (3), o dólar comercial estava em queda e a Bolsa de Valores de São Paulo em alta. "Sinais de desaceleração no mercado de trabalho nos Estados Unidos enfraquecem a moeda americana globalmente no dia de hoje", diz Sérgio Brotto, cofundador e diretor executivo da Dascam Corretora de Câmbio.

E a reunião do ministro da economia, Fernando Haddad, nesta da tarde, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as questões das contas públicas ajuda a cotação a cair. Por volta de 16h, o dólar caia 1,90%, para R$ 5,55. A Bolsa tinha valorização de 1,23%, chegando a 126.186,73. Confira a cotação em tempo real no UOL: https://economia.uol.com.br/cotacoes/cambio/.

Mas, no acumulado do ano, o dólar já se valorizou 17,07% em relação ao real, conforme dados da consultoria Elos Ayta. Levando-se em conta o ganho do dólar frente a outras moedas, o Brasil também está em quinto lugar nesse parâmetro.

Por que o dólar está se valorizando tanto?

O problema é a inflação nos Estados Unidos e em outros países. Para controlá-la, os governos sobem os juros e isso desvaloriza as moedas. Depois da pandemia, quando a economia mundial precisou parar por conta do coronavírus, os preços de alimentos, produtos básicos e vários outros itens dispararam no planeta.

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Os países subiram os juros para conter a alta de preços. Nos Estados Unidos, o juro era de 0,25% ao ano em 2021. Agora, está em 5,5%.

Tradicionalmente, quando havia inflação, os países desenvolvidos subiam um pouco os juros e logo a inflação cedia. Mas isso não está acontecendo agora
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating

Por que a inflação não está cedendo?

Os economistas não conhecem a razão ao certo. Mas sabe-se que as cadeias de suprimentos globais ainda não foram totalmente restabelecidas depois da pandemia. E isso influencia. Além disso, guerras como a da Rússia e Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio pioram essa situação no planeta todo. "É uma panela de pressão. E soma-se a isso tudo a transição energética", acrescenta Agostini.

Com as mudanças climáticas, as cadeias de suprimentos também sofrem. As enchentes na Ásia, no final do ano passado, por exemplo, atingiram em cheio a indústria de vestuário que supre, de lá, a maior parte dos varejistas de moda no mundo todo.
Diante disso, mesmo com inflação, os países precisam investir para fazer a transição energética. E os gastos pressionam mais a alta dos preços.

Então, os juros permanecem altos...

Com juros altos, os investidores saem de investimentos de risco para aplicar nos juros dos EUA. O tesouro americano, além de pagar bem, é a aplicação mais segura do mundo. "O Federal Reserve (o Fed, o banco central americano) tem sinalizado que pode manter as taxas altas por mais tempo para garantir que a inflação continue a diminuir de forma sustentável sinalizando eventuais reduções somente a partir de setembro ou dezembro", diz Brotto.

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Por que os dados de emprego influenciam?

Por que, principalmente nos EUA, quanto mais emprego há, mais os consumidores gastam. E, se compram mais, os preços não caem. Nesta quarta-feira, o dólar está em queda por conta do relatório de emprego da ADP. O número de vagas de emprego no setor privado em junho diminuiu e encerrou o mês em 150 mil, quando analistas esperavam que subisse para 158 mil.

E por que o Brasil sofre mais que outros emergentes?

Por que os investidores, nesse ambiente, precisam se desfazer de aplicações de risco. "Não é porque os investidores odeiam o Brasil. Eles só estão migrando porque estão buscando a segurança e os ganhos nos juros americanos", diz Agostini.

O problema é que aqui o risco piorou. Nos 30 anos após a implantação do Plano Real, diz Agostini, o país teve cerca de 15 anos de contas públicas no azul e 15 no vermelho. Então, o governo gastar mais do que arrecada não é novidade.

O que é novo, agora, é que o mercado prevê uma piora. "O governo não tem como arrecadar mais. E tem dificuldade para cortar gastos. Ao mesmo tempo, com a calamidade no Rio Grande do Sul, só para dar um exemplo, ele vai ter que gastar mais. Essa conta não fecha", diz o economista.

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Então, para continuar colocando dinheiro no Brasil, o investidor exige uma compensação. As ações ficam mais baratas, o juro continua alto e o real se desvaloriza. "É como se ele aumentasse o seguro para investir aqui, desvalorizando a moeda", diz Agostini.

Onde o dólar vai parar?

O dólar sobe de elevador, mas desce de escada, explica Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital. "Não é possível saber se a moeda americana vai chegar a R$ 6 — ou até mesmo mais", diz ele. Mas voltar para a faixa dos R$ 5 é difícil. "No passado, o dólar chegou a R$ 5,80 ou até um pouco mais, e levou meses, praticamente mais de um ano, para retroceder", diz ele.

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