'Bund' negativo leva dívida europeia a nova dimensão
Paris, 14 Jun 2016 (AFP) - A taxa do bônus alemão a dez anos registrou pela primeira vez nesta terça-feira valores negativos em consequência da demanda dos valores refúgio diante da incerteza econômica e do risco de Brexit.
"O patamar é simbólico, embora há tempos fosse previsto. Mas não esperávamos que fosse tão rápido", afirmou à AFP Patrick Jacq, especialista da dívida no BNP Paribas.
Embora a tendência a taxas negativas já se notasse na dívida de mais curto prazo, o fato de o 'bund' a dez anos chegar a terreno negativo "leva o mercado a uma nova era do ponto de vista psicológico", acrescentou.
A queda do 'bund' se explica pela política acomodatícia dos bancos centrais e, no curto prazo, pelo temor de uma "Brexit", como resultado do referendo de 23 de junho.
"Por um lado há a Brexit, com uma incerteza que leva todo mundo a optar por ativos seguros à espera que a tempestade passe. Por outro lado, há o Banco Central Europeu (que faz compras maciças de dívida pública)", aponta René Defossez, especialista da dívida da Natixis, com sede em Londres.
Nesse clima incerto, os investidores buscam refúgio em investimentos mais sólidos, como o ouro ou a dívida pública, começando pela alemã, que é considerada a mais segura da Europa.
O 'bund' é também uma referência para fixar o prêmio de risco da dívida, tanto pública como privada. Esse prêmio se calcula medindo a diferença em relação ao bônus alemão: quanto menor for essa diferença ('spread') mais seguro se considera o investimento.
Por isso, ainda que a dívida soberana da Suíça e do Japão já tenha alcançado taxas negativas, o caso da Alemanha, a maior economia da Europa, é muito significativo.
Defossez lembra que a Alemanha é um dos poucos países do mundo com nota AAA das três agências de classificação de risco.
Contra a lógica financeiraNa prática, a taxa negativa significa que os investidores que hoje compram dívida pública alemã a dez anos terão que pagar caso conservem o bônus até a data de vencimento, ou seja, perderão dinheiro, contradizendo a lógica financeira.
"Um investidor que hoje compre um título da dívida alemã a 105 euros receberá 100 euros dentro de 10 anos se o guardar até o final", explica Patrick Jacq.
"A consolidação dos rendimentos abaixo de zero demonstra de novo os enormes desafios atualmente enfrentados pelos mercados financeiros", lembra Ulrich Kater, economista-chefe no DekaBank.
Essa situação "não é a lógica normal do mercado", em que se supõe que os investidores ganham dinheiro emprestando, explica Jacq, mas se explica, segundo ele, pelo contexto atual, onde há muito poucos investimentos seguros.
Apesar das taxas negativas, o 'bund' continua sendo um investimento seguro, pelo o qual os investidores estão dispostos a pagar.
A taxa em negativo dá, na verdade, muita margem orçamentária aos países emissores.
Foi o caso da Alemanha, que nos últimos anos aproveitou para reduzir os juros de sua dívida em aproximadamente 20 bilhões de euros anuais entre 2008 (quando os juros representavam 40 bilhões) e 2015 (de apenas 21 bilhões).
Esse dado foi chave em 2014, quando o ministro das Finanças Wolfgang Schauble apresentou pela primeira vez desde 1969 um orçamento equilibrado.
abx-cc-bur/boc/pb/pc/mb/cc/mvv
NATIXIS
BNP PARIBAS
"O patamar é simbólico, embora há tempos fosse previsto. Mas não esperávamos que fosse tão rápido", afirmou à AFP Patrick Jacq, especialista da dívida no BNP Paribas.
Embora a tendência a taxas negativas já se notasse na dívida de mais curto prazo, o fato de o 'bund' a dez anos chegar a terreno negativo "leva o mercado a uma nova era do ponto de vista psicológico", acrescentou.
A queda do 'bund' se explica pela política acomodatícia dos bancos centrais e, no curto prazo, pelo temor de uma "Brexit", como resultado do referendo de 23 de junho.
"Por um lado há a Brexit, com uma incerteza que leva todo mundo a optar por ativos seguros à espera que a tempestade passe. Por outro lado, há o Banco Central Europeu (que faz compras maciças de dívida pública)", aponta René Defossez, especialista da dívida da Natixis, com sede em Londres.
Nesse clima incerto, os investidores buscam refúgio em investimentos mais sólidos, como o ouro ou a dívida pública, começando pela alemã, que é considerada a mais segura da Europa.
O 'bund' é também uma referência para fixar o prêmio de risco da dívida, tanto pública como privada. Esse prêmio se calcula medindo a diferença em relação ao bônus alemão: quanto menor for essa diferença ('spread') mais seguro se considera o investimento.
Por isso, ainda que a dívida soberana da Suíça e do Japão já tenha alcançado taxas negativas, o caso da Alemanha, a maior economia da Europa, é muito significativo.
Defossez lembra que a Alemanha é um dos poucos países do mundo com nota AAA das três agências de classificação de risco.
Contra a lógica financeiraNa prática, a taxa negativa significa que os investidores que hoje compram dívida pública alemã a dez anos terão que pagar caso conservem o bônus até a data de vencimento, ou seja, perderão dinheiro, contradizendo a lógica financeira.
"Um investidor que hoje compre um título da dívida alemã a 105 euros receberá 100 euros dentro de 10 anos se o guardar até o final", explica Patrick Jacq.
"A consolidação dos rendimentos abaixo de zero demonstra de novo os enormes desafios atualmente enfrentados pelos mercados financeiros", lembra Ulrich Kater, economista-chefe no DekaBank.
Essa situação "não é a lógica normal do mercado", em que se supõe que os investidores ganham dinheiro emprestando, explica Jacq, mas se explica, segundo ele, pelo contexto atual, onde há muito poucos investimentos seguros.
Apesar das taxas negativas, o 'bund' continua sendo um investimento seguro, pelo o qual os investidores estão dispostos a pagar.
A taxa em negativo dá, na verdade, muita margem orçamentária aos países emissores.
Foi o caso da Alemanha, que nos últimos anos aproveitou para reduzir os juros de sua dívida em aproximadamente 20 bilhões de euros anuais entre 2008 (quando os juros representavam 40 bilhões) e 2015 (de apenas 21 bilhões).
Esse dado foi chave em 2014, quando o ministro das Finanças Wolfgang Schauble apresentou pela primeira vez desde 1969 um orçamento equilibrado.
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