'Minerar' bitcoins: venezuelanos tentam fugir da inflação
Caracas, 19 Out 2017 (AFP) - Um prédio comercial Caracas esconde o mesmo segredo que muitos outros: num quarto nos fundos, trancado, 20 computadores "mineram" bitcoins, atividade proibida, mas cada vez mais popular, como forma de ganhar dinheiro e fugir da inflação.
Em galpões, escritórios e casas, os venezuelanos escapam do controle cambial ferrenho com as criptomoedas. Alguns conseguem milhares de dólares por mês com dezenas de computadores especiais. Outros adaptam o computador pessoal para conseguir cerca de 15 dólares neste período - ou 500 mil bolívares no mercado negro.
Fundador do BitcoinVenezuela.com, Randy Brito explicou que o crescimento dessas transações no país começou em 2014, quando teve início a crise econômica provocada pela queda dos preços do petróleo, fonte de 96% das divisas venezuelanas.
A chamada "mineração" consiste em operações matemáticas que verificam a validade de transações em bitcoins em computadores potentes. As máquinas são recompensadas com bitcoins, que podem ser trocados por dólares, outras criptomoedas, cartões de presente, ou bolívares.
Verônica, uma funcionária do prédio que pediu para usar um nome fictício, disse à AFP que seu chefe instalou as máquinas de bitcoins no começo de 2015, por recomendação do filho de um sócio.
"Há máquinas que rendem 800 dólares ao mês (mais de 26 milhões de bolívares). Essas dão menos, porque são velhas. Ficam ligadas o dia todo e, de tempos em tempos, meu chefe recebe um e-mail dizendo quando dinheiro renderam", explicou.
"Você recebeu 0,00847178 BTC (bitcoins) que valem 35,55 dólares", dizia a mensagem mais recente. Um bitcoin está avaliado em 5.615,05 dólares.
De olho nos lucros, Verônica entrou no mundo das criptomoedas.
"Comprei uma máquina, uma amiga, outra, e um rapaz, 20. Vamos instalá-las na casa de uma senhora. A minha custou 2.280 dólares e produz entre 20 e 25 litecoins - outra moeda digital - ao mês. Cada litecoin é trocado por 46 dólares, são 920 dólares mensais", explicou.
- Fugindo da inflação -Na Venezuela, as pessoas usam os bitcoins para se proteger de uma inflação que pode alcançar 1.400% neste ano, segundo a Ecoanalítica, e de uma desvalorização do bolívar - de 96% ante o dólar.
"Quem compra bitcoins com bolívares ganha valor pelo aumento do preço do bitcoin em relação ao dólar e escapa da inflação", disse Brito à AFP.
Eugenia Alcalá, fundadora da Dash Caracas - organização que ensina sobre criptomoedas -, explicou que os venezuelanos também as utilizam para comprar alimentos e medicamentos, muito escassos.
"Queria ter acesso a mercados de outros países", disse à AFP Liliana Carvajal, uma administradora de 45 anos que participou de uma palestra da Dash Caracas.
Segundo o portal LocalBitcoins, na última semana de setembro, na Venezuela, as transações em bitcoins alcançaram quase 40 bilhões de bolívares (1,1 milhão de dólares).
Brito estima que em torno de 100 mil venezuelanos "estão minerando", mas esclarece que não é possível apontar com precisão, pois muitos se escondem com servidores de outros países.
"As pessoas estão comprando máquinas como loucos. Compram pela Internet da China", afirmou Verónica.
Cada computador custa entre 1.310 e 2.280 dólares.
Adquiri-los não é o único obstáculo: "para que as deixem passar (na imigração), precisa pagar pelo menos 800 dólares", afirmou à AFP Simón, empresário de 32 anos que importa o equipamento.
- 'Underground' -Como subsidia a eletricidade, explica o economista Asdrúbal Oliveros, o governo socialista de Nicolás Maduro torna "muito rentável 'produzir' bitcoins", atividade que gasta muita energia.
No escritório de Verónica, quatro aparelhos de ar condicionado evitam que as máquinas superaqueçam.
"Só em eletricidade gastamos 15 mil bolívares ao mês", indicou.
Agentes do serviço de Inteligência (Sebin) - garantiu Simón - visitam casas e prédios onde o consumo dispara inesperadamente.
"Se encontram máquinas, os donos são detidos", relatou.
O advogado Jesús Ollarves explicou que operar criptomoedas não é ilegal na Venezuela.
"A polícia política (Sebin) detém quem o faz por furto de energia", afirmou.
"Enquanto não houver regulamentação, precisa ser 'underground', os 'mineradores' são perseguidos", afirmou Alcalá.
Andreas Antonopoulos, empresário especialista em bitcoin, disse que as criptomoedas não podem ser paradas na Venezuela, porque "ajudam as pessoas a escapar da hiperinflação".
Christian, que vive em um bairro pobre de Caracas, adaptou seu computador pessoal para minerar 15 dólares ao mês. Apesar de ter abandonado a atividade pode medo de ser detido, pensa em voltar.
"O dinheiro do meu trabalho - venda de silenciadores de carros - dá só para comer", admite o jovem.
avs-axm/mis/yow/gm/jb/ll/tt
Em galpões, escritórios e casas, os venezuelanos escapam do controle cambial ferrenho com as criptomoedas. Alguns conseguem milhares de dólares por mês com dezenas de computadores especiais. Outros adaptam o computador pessoal para conseguir cerca de 15 dólares neste período - ou 500 mil bolívares no mercado negro.
Fundador do BitcoinVenezuela.com, Randy Brito explicou que o crescimento dessas transações no país começou em 2014, quando teve início a crise econômica provocada pela queda dos preços do petróleo, fonte de 96% das divisas venezuelanas.
A chamada "mineração" consiste em operações matemáticas que verificam a validade de transações em bitcoins em computadores potentes. As máquinas são recompensadas com bitcoins, que podem ser trocados por dólares, outras criptomoedas, cartões de presente, ou bolívares.
Verônica, uma funcionária do prédio que pediu para usar um nome fictício, disse à AFP que seu chefe instalou as máquinas de bitcoins no começo de 2015, por recomendação do filho de um sócio.
"Há máquinas que rendem 800 dólares ao mês (mais de 26 milhões de bolívares). Essas dão menos, porque são velhas. Ficam ligadas o dia todo e, de tempos em tempos, meu chefe recebe um e-mail dizendo quando dinheiro renderam", explicou.
"Você recebeu 0,00847178 BTC (bitcoins) que valem 35,55 dólares", dizia a mensagem mais recente. Um bitcoin está avaliado em 5.615,05 dólares.
De olho nos lucros, Verônica entrou no mundo das criptomoedas.
"Comprei uma máquina, uma amiga, outra, e um rapaz, 20. Vamos instalá-las na casa de uma senhora. A minha custou 2.280 dólares e produz entre 20 e 25 litecoins - outra moeda digital - ao mês. Cada litecoin é trocado por 46 dólares, são 920 dólares mensais", explicou.
- Fugindo da inflação -Na Venezuela, as pessoas usam os bitcoins para se proteger de uma inflação que pode alcançar 1.400% neste ano, segundo a Ecoanalítica, e de uma desvalorização do bolívar - de 96% ante o dólar.
"Quem compra bitcoins com bolívares ganha valor pelo aumento do preço do bitcoin em relação ao dólar e escapa da inflação", disse Brito à AFP.
Eugenia Alcalá, fundadora da Dash Caracas - organização que ensina sobre criptomoedas -, explicou que os venezuelanos também as utilizam para comprar alimentos e medicamentos, muito escassos.
"Queria ter acesso a mercados de outros países", disse à AFP Liliana Carvajal, uma administradora de 45 anos que participou de uma palestra da Dash Caracas.
Segundo o portal LocalBitcoins, na última semana de setembro, na Venezuela, as transações em bitcoins alcançaram quase 40 bilhões de bolívares (1,1 milhão de dólares).
Brito estima que em torno de 100 mil venezuelanos "estão minerando", mas esclarece que não é possível apontar com precisão, pois muitos se escondem com servidores de outros países.
"As pessoas estão comprando máquinas como loucos. Compram pela Internet da China", afirmou Verónica.
Cada computador custa entre 1.310 e 2.280 dólares.
Adquiri-los não é o único obstáculo: "para que as deixem passar (na imigração), precisa pagar pelo menos 800 dólares", afirmou à AFP Simón, empresário de 32 anos que importa o equipamento.
- 'Underground' -Como subsidia a eletricidade, explica o economista Asdrúbal Oliveros, o governo socialista de Nicolás Maduro torna "muito rentável 'produzir' bitcoins", atividade que gasta muita energia.
No escritório de Verónica, quatro aparelhos de ar condicionado evitam que as máquinas superaqueçam.
"Só em eletricidade gastamos 15 mil bolívares ao mês", indicou.
Agentes do serviço de Inteligência (Sebin) - garantiu Simón - visitam casas e prédios onde o consumo dispara inesperadamente.
"Se encontram máquinas, os donos são detidos", relatou.
O advogado Jesús Ollarves explicou que operar criptomoedas não é ilegal na Venezuela.
"A polícia política (Sebin) detém quem o faz por furto de energia", afirmou.
"Enquanto não houver regulamentação, precisa ser 'underground', os 'mineradores' são perseguidos", afirmou Alcalá.
Andreas Antonopoulos, empresário especialista em bitcoin, disse que as criptomoedas não podem ser paradas na Venezuela, porque "ajudam as pessoas a escapar da hiperinflação".
Christian, que vive em um bairro pobre de Caracas, adaptou seu computador pessoal para minerar 15 dólares ao mês. Apesar de ter abandonado a atividade pode medo de ser detido, pensa em voltar.
"O dinheiro do meu trabalho - venda de silenciadores de carros - dá só para comer", admite o jovem.
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