Crise na Turquia afeta moeda de emergentes, como Brasil, Rússia e África do Sul
Paris, 13 Ago 2018 (AFP) - Do rand sul-africano ao peso argentino, passando pelo real brasileiro e pelo rublo russo, a maioria das moedas de países emergentes afunda há uma semana por causa da queda vertiginosa da lira turca, o que indica a vulnerabilidade destas economias, muito dependentes dos capitais estrangeiros.
A crise entre EUA e Turquia, primeiro política --pelo desacordo sobre o destino de um pastor americano julgado na Turquia por terrorismo e espionagem--, se estendeu rapidamente para o terreno econômico. As sanções, como dobrar as tarifas americanas sobre o aço e o alumínio turcos, se sucederam às declarações diplomáticas ameaçadoras, deixando os mercados mundiais nervosos.
A lira turca perdeu 19% frente ao dólar na sexta passada. Apesar de ser a protagonista da crise, outras moedas emergentes entraram no bolo. Em uma semana, o rand sul-africano e o rublo russo perderam 8% ante o dólar, alcançando seu nível mais baixo em dois anos, na manhã desta segunda. A mesma tendência foi seguida pelo real e o peso argentino, que cedeu quase 6% desde segunda passada.
O índice MSCI, que agrupa cerca de 20 moedas estrangeiras, caiu a seu nível mais baixo em um ano.
O efeito dominó desta crise turco-americana fica evidente, principalmente, no nível de vulnerabilidade frente ao dólar e, de maneira geral, frente aos investidores das economias emergentes. A rúpia indonésia, por exemplo, está em seu nível mais baixo frente ao dólar desde outubro de 2015, depois que o país anunciou no fim de semana seu maior déficit de contas correntes em quatro anos, um indicador da dependência da Indonésia do financiamento estrangeiro.
"O contexto atual é cada vez mais preocupante para os mercados emergentes. Em particular, para a África do Sul, já que nos tornamos dependentes das entradas de capital estrangeiro", afirmou o economista sul-africano Gavin Keeton no jornal "Business Day".
Círculo vicioso
Desde o início do ano e da aceleração do aumento dos juros nos Estados Unidos, as moedas destes países se ressentem. O fim da política monetária americana complacente pune, em primeiro lugar, esses países, que se financiam nos mercados internacionais para incentivar seu crescimento e desenvolvimento, mostrando, assim, sua fragilidade interna.
Os investidores estrangeiros preferem migrar para o mercado americano, mais lucrativo, e abandonar os mercados emergentes. Este mecanismo cria um círculo vicioso: a divisa local perde terreno frente ao dólar, o custo das importações aumenta de maneira automática e, com este, a inflação, animando os investidores estrangeiros a recuperar o que foi investido.
"As ameaças protecionistas de Donald Trump, que vão necessariamente contra a perspectiva de crescimento dos intercâmbios mundiais, de igual maneira são nefastas para o mundo emergente", afirmou a economista Véronique Riches-Flores.
"Se a isso se soma a alta dos juros nos Estados Unidos, nos vemos diante de um conjunto que se torna muito negativo e autodestrutivo", disse.
Um exemplo é a moeda da Argentina, que obteve recentemente um empréstimo de US$ 50 bilhões do FMI para enfrentar a desvalorização do peso, e desabou 35% entre abril e junho.
E o mesmo na Turquia, onde a escalada das tensões com os Estados Unidos não fez mais do que agravar a situação da lira, que já perdeu muito terreno desde janeiro (-40% frente ao dólar). A inflação, por exemplo, atingiu 16% em julho.
Nesta segunda, o Banco Central turco tentou tranquilizar os mercados anunciando que tomará todas as medidas necessárias para garantir a estabilidade financeira. No entanto, até agora não tomou a decisão de aumentar seus índices para estimular a lira, o que responde ao "controle" do presidente Recep Tayyip Erdogan, hostil a qualquer endurecimento monetário, segundo Nora Neuteboom, do banco holandês ABN Amro.
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