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Brasil, um mau aluno da reciclagem de plástico

24/05/2019 15h59

Rio de Janeiro, 24 Mai 2019 (AFP) - Parada entre pilhas de sacolas de supermercado usadas, garrafas de refrigerante e embalagens de detergente, Evelin Marcele expressa seu desprezo ante os esforços do Brasil para reciclar os resíduos plásticos.

"Quase nada", diz a diretora, de 40 anos, do CoopFuturo, um centro de classificação de material reciclável no Rio de Janeiro, onde o plástico representa 60% das aproximadamente 120 toneladas de lixo que são entregues à instalação por mês.

O Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, superado apenas pelos Estados Unidos, China e Índia, segundo um informe recente publicado pelo World Wildlife Fund (WWF).

Mas o país latino-americano recicla apenas 1,28% das 11,4 milhões de toneladas que gera por ano, uma cifra que está muito abaixo da média global de 9%, segundo o WWF.

Estima-se que 7,7 milhões de toneladas de plástico terminam em lixões.

"As pessoas consomem mais, geram mais lixo e os governos não prepararam as cidades com a infraestrutura necessária para enfrentar este problema", disse à AFP Anna Lobo, do WWF-Brasil.

"Noventa por cento da população do Brasil ouviram falar de sustentabilidade e dizem que compreendem os problemas do meio ambiente. Na verdade, poucas pessoas mudam seus hábitos".

Atualmente, o mundo produz mais de 300 milhões de toneladas de plástico por ano, e há ao menos cinco bilhões de peças de plástico flutuando em nossos oceanos, calculam os cientistas.

Em uma reunião da ONU no Quênia em março, os países se comprometeram a "reduzir significativamente" os plásticos de uso único durante a próxima década.

Mas o Brasil está "muito atrasado", diz Marcele, enquanto funcionários do CoopFuturo, usando luvas pretas, remexem uma pilha de sacos de lixo em busca de material que possa ser reciclado.

Precisa-se de mais investimento do governo em infraestrutura, como fábricas de classificação e reciclagem, e ações individuais.

"Infraestrutura, ajuda... não temos nenhuma das duas", se queixa.

Os líderes políticos "não estão preocupados com isto, estão preocupados com outras coisas".

- Maus hábitos -Os brasileiros são grandes consumidores de plástico descartável, em particular das sacolas de compras que são gratuitas em grande parte do país e que são oferecidas inclusive para as compras menores.

Nos supermercados do Rio de Janeiro, as sacolas de plástico com frequência são forradas com uma segunda para garantir que não rasguem.

A maioria das pessoas não compra as bolsas reutilizáveis, que custam cerca de cinco reais.

Comprar um suco em um dos bares da cidade tem como resultado o uso de ao menos um copo e uma tampa de plástico, junto com uma sacola desse mesmo material para levá-lo.

Uma refeição para viagem costuma ir acompanhada de um jogo de talheres e uma sacola de plástico.

"Neste momento não tenho outra forma de levar minhas compras para casa", diz Israel Washington enquanto se senta em um bar junto com várias sacolas de plástico com comida.

"Deveria ter uma bolsa (reutilizável) comigo mas não tenho".

Mas também culpa o governo.

"Seu foco não é o meio ambiente, estão mais preocupados em armar as pessoas".

- Proibir o plástico -A legislação aprovada em algumas partes do Brasil teve certo sucesso ao obrigar os brasileiros a adotarem hábitos melhores.

Recentemente, o Rio proibiu o uso de canudos de plástico, enquanto São Paulo proibiu as sacolas de plástico à base de petróleo.

O Senado está considerando uma proposta de proibir a fabricação, distribuição e venda de plástico descartável, incluindo canudos e sacolas em todo o país.

O CoopFuturo é um dos 22 coletivos que participam da classificação do lixo no Rio, uma cidade com mais de seis milhões de habitantes.

Recebem os resíduos do serviço governamental Coleta Seletiva e depois vendem o material classificado a empresas especializadas em reciclagem.

Mas a Coleta Seletiva e os coletores independentes só obtêm 7% dos 40% de lixo doméstico que são potencialmente recicláveis, disse um funcionário do governo, que culpa as famílias por não separarem o lixo adequadamente.

Os ativistas ambientais estão tentando encorajar os brasileiros a assumirem a responsabilidade de seus resíduos.

Mas muitas pessoas ainda "não reconhecem o problema que o lixo causa no mar", disse Paulo Salomão, biólogo do aquário do Rio.

"Até agora, as pessoas não adquiriram a consciência para mudar seus hábitos", acrescentou Lobo, do WWF. "As pessoas não param para pensar nisso".