Por falta de armazenamento, petróleo despenca nos EUA
Nova York, 20 Abr 2020 (AFP) - A queda dos preços do petróleo atingiu níveis históricos na segunda-feira: investidores e especuladores pagam para encontrar compradores no momento em que as capacidades de armazenamento atingem seu limite nos Estados Unidos.
Em um mercado saturado, os detentores de contratos para maio - que expiram no fechamento desta terça-feira - devem encontrar compradores de óleo físico o mais rápido possível. Entretanto, como as reservas estão quase no limite nos Estados Unidos, elas devem corroer os preços.
O preço barril de petróleo WTI, que estava sendo negociado a US$ 60 por unidade no início deste ano e a US$ 18,27 na tarde de sexta-feira, despencou nesta segunda-feira, fechando em -37,63 dólares.
Isso significa que muitos pagam para se livrar desse petróleo bruto, caro demais para ser armazenado. "E pagaram caro", avalia Louise Dickson, especialista em mercado de petróleo da Rystad Energy.
O petróleo nunca caiu abaixo de US$ 10 desde que esses contratos futuros foram criados em 1983.
A situação pode melhorar nos próximos dias, segundo alguns analistas. "É um pouco enganoso focar no contrato de maio", explicou Matt Smith, especialista da ClipperData.
"Há muito mais movimento nos barris para entrega em junho", disse ele sobre o contrato, que, ainda em declínio, mantém os preços acima de US$ 20.
O barril de Brent do Mar do Norte, em Londres, foi menos afetado, com uma queda de 9%, a US$ 25,57 no final desta segunda-feira.
As restrições de mobilidade para combater o coronavírus em grande parte do mundo e a paralisia econômica afundaram o consumo de combustível. Os investidores esperam que a situação piore.
Além disso, a oferta de petróleo é abundante após uma guerra de preços entre o líder da Opep, Arábia Saudita e Rússia, que não chegou a um acordo de redução de produção no início de março.
A disputa terminou no início de abril ao concordar com uma redução de 10 milhões de barris por dia para tentar sustentar os preços nos mercados afetados pelo coronavírus.
Os preços, contudo, continuaram a cair quando ficou claro que esse corte não seria suficiente para compensar a queda na demanda.
Nesse contexto de mercado "extremamente desequilibrado" entre excesso de oferta e demanda em queda, os investidores "correm para se desfazer" de suas compras de petróleo, disse Craig Erlam, da Oanda.
- Demanda fraca -Os Estados Unidos "têm os maiores problemas de armazenamento", disse Jasper Lawler, do London Capital Group.
"A demanda é tão menor que a oferta que as reservas podem ter atingido 70% a 80% da capacidade", estimou.
Sukrit Vijayakar, analista da Trifecta Consultants, observa que as refinarias dos EUA não conseguem transformar o petróleo com rapidez suficiente, o que explica por que as reservas estão se enchendo.
"O mundo está usando cada vez menos petróleo, e os produtores veem como isso se reflete nos preços", diz o analista Bjornar Tonhaugen, da Rystad Energy.
"Embora a Opep tenha aceitado uma redução sem precedentes na produção, o mercado está inundado de petróleo", disse o banco ANZ em nota.
- WTI, desvinculado do Brent -Michael McCarthy, especialista da CMC Markets, afirma que a queda do WTI "evidencia um excesso" das reservas de petróleo no terminal de Cushing (Oklahoma, sul dos Estados Unidos).
O valor de referência dos EUA agora é "desvinculado" de Brent, o valor de referência da Europa para o petróleo, e "a diferença entre os dois atingiu seu nível mais alto em uma década", ressaltou.
A Agência de Informação Energética dos Estados Unidos (AIE) garantiu que as reservas de petróleo subiram 19,25 milhões de barris na semana passada no país.
"Os corretores compraram barris baratos e encheram os espaços de armazenamento", disse Louise Dickson.
Assim, em Cushing, onde o petróleo que serve de referência ao WTI está armazenado, as reservas aumentaram 48% no final de fevereiro para 44 milhões de barris e "não resta espaço para mais de 21 milhões de barris a mais", disse o analista.
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