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Vale venderá usina de níquel na Nova Caledônia

05/11/2020 10h56

Nouméa, 5 Nov 2020 (AFP) - O grupo Vale-CN venderá sua usina de níquel na Nova Caledônia para um consórcio nacional e internacional, integrado, entre outros, pela suíça Trafigura - anunciou o grupo brasileiro.

As duas partes pretendem negociar até 4 de dezembro para concluir a negociação em janeiro de 2021.

"Temos uma solução para assegurar a perenidade do local, e é uma boa notícia", declarou o presidente da Vale-NC, Antonin Beurrier, em uma entrevista coletiva em Numeia.

A usina estava ameaçada de fechamento, se um comprador não fosse encontrado até o fim de outubro. O local representa cerca de 3.000 empregos diretos e indiretos.

Batizado como Prony Resources, o consórcio estará integrado em 50% por interesses neocaledônios (coletividade provincial, trabalhadores e sociedade civil), 25% pela Trafigura, que tem sede na Suíça, uma das maiores negociadoras independentes de petróleo e metais do mundo, e 25% de uma empresa de investimento com vários acionistas.

Fabricantes de automóveis, como a Tesla, produtores de baterias, ou fundos de investimento, provavelmente entrarão no capital por meio dessa sociedade.

A oferta foi apoiada pelo governo francês, envolvido na operação com um empréstimo de 200 milhões de euros (234 milhões de dólares) anunciado em 2016 para a Vale, além de concessões fiscais.

No total, foi reunido "um financiamento de 1,2 bilhão de dólares para garantir o futuro da empresa", disse Beurrier, insistindo na "grande contribuição da Vale" e no "colossal apoio do Estado".

Apoiada na enorme jazida de níquel de Goro (sul), a usina metalúrgica da Vale, onde investimentos muito significativos em manutenção e equipamentos são essenciais, busca comprador desde dezembro de 2019. Uma primeira oferta de um grupo australiano fracassou no início de setembro.

A unidade, cujo modelo foi reformulado, fornece um produto intermediário - Nickel Hydroxyde Cake (NHC) - destinado a baterias de veículos elétricos.

"Toda a produção está vendida nos próximos cinco anos. A demanda por esse produto está explodindo no mercado", garantiu Beurrier, de volta da Europa e que falou por videoconferência do hotel onde está em quarentena. O coronavírus não está circulando na Nova Caledônia.

A planta, que pode atingir o equilíbrio em 2021, deve produzir 30.000 toneladas de NHC este ano, 35.000 toneladas em 2021 e depois 40.000 toneladas a toda velocidade. A Vale se beneficia de um acordo de compra de 10% e, depois, de 20% dessa produção em 13 anos.

No local, no entanto, esta transação desperta forte hostilidade dos partidos separatistas, dos líderes Kanak e das associações indígenas unidas em um coletivo que defendem uma oferta concorrente de um consórcio caledoniano e sul-coreano.

Essa opção foi descartada pelo grupo brasileiro, enquanto, segundo nota confidencial de Bercy, divulgada pela Nova Caledônia no dia 1º, foi considerada "pouco documentada e muito preliminar".

"Se sair a oferta da Trafigura, bloquearemos (a fábrica de Goro) e lançaremos um movimento nacional", alertaram os opositores à proposta na quarta-feira, que eram 3.000 manifestando-se no dia 30 de outubro nas ruas de Numeia.

Segundo eles, a oferta apresentada pela Sofinor (Sociedade Financeira da Província do Norte) e pelo grupo Korea Zinc foi prejudicada pela Vale, que "se recusa a permitir o acesso ao local aos seus especialistas para a realização da fase de diligência prévia ('due diligence')".

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