O que são os 'experimentos naturais' premiados com o Nobel de Economia?
Os trabalhos de David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens, premiados nesta segunda-feira (11) com o Nobel de Economia, se baseiam em experimentos naturais, um método inovador para a pesquisa empírica nascido nos anos 1990.
Os experimentos naturais são situações da vida real que os economistas estudam e analisam para determinar relações de causa e efeito.
Eles se aproximam, em parte, dos ensaios clínicos que permitem aos pesquisadores avaliar a eficácia de novos medicamentos, separando de forma aleatória grupos distintos de pessoas que são submetidos a testes.
"Imitamos um pouco o que poderia ser feito em um laboratório", resumiu Julien Pinter, pesquisador da Universidade do Minho, em Portugal, e economista do 'think-tank' BSI Economics.
Contudo, os experimentos naturais se distinguem dos ensaios terapêuticos, pois, ao contrário dos cientistas nos laboratórios, os economistas não controlam os parâmetros do protocolo experimental.
Além disso, o campo de aplicação desses estudos é muito amplo, como, por exemplo, educação, mercado de trabalho e imigração.
Salário mínimo e emprego
O canadense David Card e seu colega americano Alan Krueger, que faleceu em 2019, estudaram, por exemplo, a relação entre salário mínimo e emprego graças a um experimento natural no início dos anos 1990.
Para isso, eles compararam a situação do mercado de trabalho na zona fronteiriça entre os estados de Nova Jersey e Pensilvânia, no nordeste dos EUA.
Naquele momento, houve aumento do salário mínimo no primeiro, enquanto na Pensilvânia os ganhos se mantiveram estáveis.
Ao focalizar a análise em uma zona geográfica homogênea, as pesquisas de Card e Krueger mostraram que o aumento do salário mínimo não havia gerado uma queda no número de pessoas empregadas.
Essa conclusão representava uma contradição à teoria dominante da época, segundo a qual o aumento do salário mínimo resultaria na diminuição dos postos de trabalho.
Card, por sua vez, estudou a relação entre imigração e mercado de trabalho com base em um caso concreto: a instalação em Miami, na Flórida, de dezenas de milhares de cubanos que o presidente Fidel Castro permitiu que deixassem o país em 1980.
Os trabalhos do economista mostraram que a onda de novos chegados não teve impacto negativo no emprego.
Já o americano-israelense Joshua Angrist, também em colaboração com Alan Krueger, se interessou pela relação entre nível de escolaridade e salário.
O acadêmico comparou o tempo passado no sistema educacional por pessoas nascidas no mesmo ano, em função de seu mês de nascimento.
Os nascidos nos primeiros meses do ano, que puderam deixar a escola um pouco antes dos demais, tinham estudado, em média, por um período mais curto do que os nascidos no último trimestre, e seus salários eram mais baixos.
Isso permitiu que Angrist determinasse que um nível de educação mais alto leva, geralmente, a melhores salários. Mais tarde, o americano-holandês Guido Imbens colaborou com Angrist para refinar a interpretação desses resultados.
'Um prêmio formidável'
Os experimentos naturais deram início ao que se chamou de "revolução de credibilidade" na economia, um campo de estudo em que os dados empíricos não eram levados a sério antes.
Para a economista Esther Duflo, que dividiu o Nobel há dois anos por seu pioneirismo em outro método de experimentos econômicos no campo, a escolha da Academia Sueca deste ano foi uma decisão "formidável".
"A 'revolução da credibilidade' na economia mudou tudo!", disse Duflo à AFP.
No entanto, alguns economistas afirmam que os experimentos naturais devem ser usados com precaução, pois o tamanho da amostragem e a baixa frequência dos acontecimentos observados não permitem extrair sempre conclusões em grande escala.
"Não podemos ter 100% de certeza que os resultados seriam exatamente os mesmos em outro contexto", frisou Julien Pinter.
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