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Bloqueios no Canadá são 'inaceitáveis' e ameaçam economia, diz Trudeau

Justin Trudeau, primeiro ministro canadense - Dave Chan / AFP
Justin Trudeau, primeiro ministro canadense Imagem: Dave Chan / AFP

09/02/2022 17h42Atualizada em 09/02/2022 19h23

Ottawa, 9 Fev 2022 (AFP) - A polícia canadense ameaçou nesta quarta-feira (9) prender os manifestantes liderados por caminhoneiros que bloquearam o centro de Ottawa e interromperam o comércio fronteiriço em protesto contra as medidas anticovid, uma mobilização que já dura 13 dias e que o governo classifica de "inaceitável".

"Os bloqueios, as manifestações ilegais, são inaceitáveis e estão impactando negativamente os negócios e fábricas", declarou o primeiro-ministro, Justin Trudeau, à Câmara dos Comuns. "Temos que fazer de tudo para que isso acabe", completou.

Centenas de caminhões paralisam as ruas do centro de Ottawa. Ao mesmo tempo, o prefeito afirma que a situação está fora de controle.

"Estamos avisando que quem bloquear ruas ou ajudar outras pessoas a bloqueá-las pode estar cometendo um crime", ameaçou a polícia em comunicado. "É preciso encerrar imediatamente qualquer atividade ilegal ou responder à Justiça".

O chamado "Comboio da Liberdade" começou em janeiro no oeste do Canadá, conduzido por caminhoneiros que rejeitam a vacinação ou testes obrigatórios para cruzar a fronteira com os Estados Unidos. O movimento levou a um protesto mais amplo contra todas as medidas sanitárias aplicadas contra a covid-19.

"Estamos todos cansados dessa pandemia, mas esses bloqueios ilegais devem parar", disse o ministro canadense da Indústria, François-Philippe Champagne.

A ponte que leva aos Estados Unidos, observou Champagne, "é a passagem terrestre mais importante da América do Norte e é fundamental para nossas cadeias de suprimentos. Milhares de trabalhadores e empresas dependem dela para sua subsistência".

Mais de 40.000 passageiros, turistas e caminhoneiros carregando mercadorias no valor de US$ 323 milhões cruzam a ponte diariamente.

Dezenas de câmaras de comércio e associações industriais no Canadá e nos Estados Unidos exigiram que a ponte fosse liberada.

"À medida que nossas economias emergem dos impactos da pandemia, não podemos permitir que nenhum grupo prejudique o comércio além-fronteiras", disseram.

Outra importante conexão comercial entre Coutts (em Alberta) e Sweet Grass (Montana) também foi bloqueada por vários dias.

Além disso, as ruas ao redor do Parlamento em Ottawa permaneceram fechadas, bloqueadas por centenas de caminhões com bandeiras canadenses e faixas contra o governo Trudeau.

Ameaça dramática

"Esta é uma situação dramática que está afetando o bem-estar da relação do Canadá com os Estados Unidos e tem um grande impacto na forma como as empresas podem realizar suas operações", analisou para a .AFP Gilles Le Vasseur, professor da Universidade de Ottawa

Na opinião do professor, ambos os governos devem intervir.

"Estamos todos cansados, todos frustrados" após dois anos de restrições à pandemia, disse Trudeau a repórteres na capital, ao lembrar que as vacinas são imprescindíveis.

Mais de 80% dos canadenses receberam as duas doses de vacinas previstas nos planos oficiais, enquanto 50% dos adultos também receberam uma dose de reforço.

O protesto "Comboio da Liberade" eclodiu em 29 de janeiro. Tudo começou devido à indignação dos caminhoneiros sobre as exigências de vacina, de testes para covid-19 ou de isolamento ao cruzar a fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá.

No entanto, o movimento rapidamente se transformou em repúdio às medidas sanitárias como um todo e, para alguns, contra o governo federal.

A ocupação de Ottawa gerou inclusive manifestações de solidariedade em todo o país e também no exterior, como na Nova Zelândia.

O presidente da Associação Canadense de Fabricantes de Automóveis, Brian Kingston, alertou que o bloqueio da ponte Ambassador Bridge estava "ameaçando cadeias de suprimentos frágeis já sob pressão de escassez e atrasos relacionados à pandemia".

Michelle Krebs, analista da Autotrader em Detroit, explicou que as montadoras norte-americanas dependem de entregas pontuais de peças por aquela ponte suspensa.

O setor automotivo, sublinhou, "é uma parte significativa da economia" e foi afetado no último ano. "Sentimos que chegamos ao fundo dos estoques e interrupções na produção em outubro passado e começamos a ver melhorias, mas esse protesto pode ser um revés se persistir".

Após conversar diretamente com as montadoras, o ministro canadense dos Transportes, Omar Alghabra, também alertou na terça-feira que o bloqueio pode ter "efeitos sérios em nossa economia".

Na capital, Ottawa, o comboio de caminhões continua parado e roncando seus motores, enchendo o centro de fumaça de diesel, após os caminhoneiros serem proibidos de buzinar devido às reclamações dos moradores.