Nota de R$ 740 milhões? Conheça a cédula de R$ 200 e as mais valiosas do mundo
A nova nota de R$ 200 começa a circular nesta quarta-feira no Brasil — passando a ser a maior denominação da moeda nacional. Esta é a primeira vez desde 1994, quando o real foi implementado, que o Brasil cria uma nova nota máxima, superando em valor a atual de R$ 100 lançada por Fernando Henrique Cardoso há 26 anos.
A mudança pode causar alguma dor de cabeça para consumidores e lojistas, em um país em que muitas vezes comerciantes sequer têm troco para uma simples nota de R$ 20 ou R$ 50.
Mas quando comparada com outros países, a nova nota — que estampa um lobo-guará em tons de cinza — ainda está longe de representar um enorme poder de compra.
No Brasil, são necessárias três das novas notas de R$ 200 para pagar o auxílio emergencial concedido pelo governo durante a pandemia de coronavírus.
Já na Europa, a maior nota de euro em circulação vale mais do que três salários mínimos brasileiros (a de 500 euros vale R$ 3.290). Elas raramente são usadas no dia-a-dia e é provável que a maioria dos europeus sequer tenha visto uma — sobretudo com meios de pagamentos eletrônicos desempenhando um papel cada vez maior na economia hoje em dia.
Nos Estados Unidos, a maior nota do dólar americano em circulação (a de US$ 100) equivale atualmente a quase R$ 550 reais.
'Nota de R$ 740 milhões'
Dificilmente alguma nota de dinheiro no mundo vai superar o valor da "titã", como é apelidada uma famosa nota de 100 milhões de libras emitida pelo Banco da Inglaterra. Com a cotação recente, ela equivale a cerca de R$ 740 milhões.
Com o tamanho de uma folha A4 de impressora (29,7 cm por 21 cm) e imagem estampada da Britânia (a personificação feminina do Reino Unido), as notas de titã são guardadas a sete chaves nos cofres do Banco da Inglaterra, em Londres.
Junto a elas, estão notas "menores" de libra esterlina, as "gigantes", com valor nominal de um milhão de libras esterlinas (cerca de R$ 7,4 milhões).
Apesar de não estarem disponíveis para saques em caixas, essas notas desempenham um papel fundamental na economia do país. A Irlanda do Norte e a Escócia — duas nações que fazem parte do Reino Unido, junto com a Inglaterra e o País de Gales — emitem suas próprias notas de dinheiro.
Essas notas possuem o mesmo valor que a libra esterlina, que circula na Inglaterra e no País de Gales, mas são impressas por bancos comerciais diferentes, com cores e símbolos distintos.
Para poderem manter a cotação da libra esterlina, cada nota escocesa e norte-irlandesa impressa precisa ter um equivalente em libra depositada no Banco da Inglaterra.
Seria impraticável manter milhões de notas no Banco da Inglaterra para garantir esse lastro, já que a nota máxima disponível em circulação comum no Reino Unido é de apenas 50 libras (R$ 370).
Por isso, foram criadas as titãs e gigantes, que existem desde 1908 e servem como lastro em libra esterlina. Hoje há mais de 4 mil dessas notas, totalizando um valor aproximado de 8 bilhões de libras (R$ 58 bilhões). A única forma de ver uma delas é visitando o museu do Banco da Inglaterra — há uma nota decorativa de gigante em exibição, assinada pela Rainha Elizabeth 2ª em 2012.
Caso haja uma crise no sistema bancário da Escócia ou da Irlanda do Norte, são as titãs e as gigantes que poderão garantir o valor das notas impressas nessas duas nações.
Trilhões 'que valem adubo'
Mas grandes números nem sempre representam grandes valores.
Países que vivem um processo contínuo de hiperinflação estão constantemente imprimindo novas notas de dinheiro com valores nominais cada vez maiores.
Mas os preços gerais da economia sobem de forma mais acelerada do que os bancos centrais conseguem emitir dinheiro novo.
Portanto o valor real das notas, mesmo sendo alto, representa pouco poder de compra.
No ano passado, o governo da Venezuela lançou notas novas de 50 mil bolívares, mas que na prática valem menos de R$ 30.
Em 2008, o Zimbábue lançou uma nota de 100 trilhões de dólares zimbabuanos — na época equivalente a apenas 30 dólares americanos. Em poucos dias a nota já valia praticamente nada e era rejeitada por comerciantes. Um camelô chegou a dizer na época que usava notas de 100 trilhões de dólares zimbabuanos apenas como adubo no seu jardim.
A Alemanha também sofreu com problemas semelhantes. O marco alemão, que vigorou no século 20 antes da adoção do euro no país, foi durante muito tempo uma das moedas mais estáveis e valiosas do mundo.
Mas na década de 1920, no período entreguerras, o banco central alemão emitiu notas de 100 trilhões de marcos, que pouco valiam.
O Brasil também teve notas com valores nominais enormes. Em 1993 — apenas um ano antes da implementação do real — circulou uma nota de meio milhão de cruzeiros, que estampava o rosto do escritor Mario de Andrade em tons roxos e alaranjados.
Antes disso, no final do século 19, o país também teve a nota de um conto de réis, que na contabilidade da época significava "mil mil réis", ou um milhão de réis.
'Bin Ladens' e maletas
Ainda há notas com valores reais altos em circulação em diversos países.
A mais valiosa é a nota de 10 mil dólares do Brunei, um pequeno país de 400 mil habitantes na ilha de Bornéu, no Sudeste da Ásia.
Apenas uma nota dessas equivale a quase R$ 40 mil reais.
Singapura, uma economia maior e mais relevante, também possui uma nota de 10 mil dólares singapurianos, que tem valor semelhante ao dinheiro do Brunei.
No entanto, notas de altas denominações têm trazido mais dores de cabeça para as autoridades do que benefícios para os cidadãos.
Denominações altas permitem que pessoas ocultem dinheiro das autoridades, facilitando a sonegação, sobretudo para fins como terrorismo e crime organizado.
Em 2017, a Polícia Federal apreendeu R$ 51 milhões em espécie do ex-ministro Geddel Vieira Lima em um apartamento em Salvador — a maior apreensão do tipo na história do Brasil.
O dinheiro em cédulas de reais e dólares ocupava dezenas de caixas e malas no apartamento. Nas altas denominações do dólar de Brunei e de Singapura, bastariam 1,3 mil notas para se atingir o mesmo valor.
Um artigo de 2018 intitulado "Striking the right note" ("Tocando a nota certa"), publicado por uma revista do FMI, afirma que uma maleta de negócios com US$ 1 milhão apenas em notas de US$ 100 estaria com 70% de sua capacidade ocupada.
Usando as altas notas de dólar do Brunei ou de Singapura, apenas 1,5% da maleta seria ocupada.
Os R$ 51 milhões de Geddel apreendidos pela Polícia Federal em 2017 ocupariam menos de 15% de uma maleta.
Por isso, vários países estão deixando de emitir grandes denominações. Desde 2014, Singapura já parou de emitir notas de 10 mil dólares.
Os países europeus também não emitem mais, desde 2016, as notas de 500 euros, que eram conhecidas entre criminosos como "Bin Ladens", por serem amplamente usadas por grupos de criminosos e terroristas. Em ambos os casos, as notas que estão em circulação ainda são aceitas.
As atenções de autoridades e criminosos agora têm se voltado para a Suíça, que segue emitindo sua nota de 1 mil francos suíços, equivalente a quase R$ 6 mil.
Segundo o estudo publicado pelo FMI, é possível carregar US$ 1 milhão em notas de mil francos suíços ocupando apenas 8% de uma maleta executiva.
Apesar de pressões internacionais, a Suíça diz que não tem planos de abandonar a nota.
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