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Brasil: A ousada política cambial que está rendendo bilhões à JBS

Ana Paula Paiva/Valor
Imagem: Ana Paula Paiva/Valor

Gerson Freitas Jr.

29/09/2015 13h00

Com a queda de 35% do real frente ao dólar, o lucro da JBS com os chamados derivativos cambiais (contratos futuros de compra ou venda de dólar por um preço preestabelecido em reais) deve atingir a marca recorde de R$ 15 bilhões em 2015. Embora tenha dado certo até aqui, a estratégia tem seu risco.

Se a companhia tivesse sido pega na contramão do mercado, com uma abrupta valorização da moeda brasileira, as perdas poderiam ter consumido boa parte de suas reservas de caixa.

A JBS é mais conhecida no exterior como a empresa que adquiriu a Pilgrim's Pride, entre outras grandes empresas, em uma série de aquisições que já somam mais de US$ 20 bilhões na última década. Mas nos círculos financeiros essas apostas cambiais renderam outro apelido à empresa: o fundo de hedge (proteção) que vende carne.

O que chama a atenção na posição de derivativos da JBS não é simplesmente o tamanho (cerca de US$ 12 bilhões em apostas contra o real), mas também a lógica por trás da aposta.

A JBS diz que está simplesmente se protegendo contra a desvalorização cambial, que aumenta o valor de sua dívida em dólares quando convertida para reais.

Analistas veem proteção exagerada

Para alguns observadores externos, trata-se de um movimento exagerado, considerando que a empresa obtém mais de 80% de suas receitas em moeda forte, uma espécie de proteção natural, que anularia o impacto do câmbio sobre a dívida externa.

Para alguns analistas, o tamanho do programa de proteção da JBS sugere a existência de um componente especulativo na estratégia.

"Parece uma estratégia agressiva", disse Viccenzo Paternostro, analista do Credit Suisse, de São Paulo.

"A JBS possui muitos ativos em dólar e grandes operações nos EUA, na Europa e na Austrália. Não precisaria fazer proteção de tudo em dólares. Poderia fazer proteção apenas da dívida que está no Brasil."

Os irmãos que controlam a empresa, Wesley e Joesley Batista, ganharam nome apostando alto, muitas vezes assumindo empresas deficitárias e acumulando dívidas, enquanto transformavam o abatedouro aberto pelo pai na maior produtora de carnes do mundo.

Empresa já previa escalada do dólar

Em entrevista concedida em maio na sede da empresa em São Paulo, Wesley Batista, o CEO da JBS, fez uma previsão reveladora da estratégia da empresa.

Enquanto os analistas projetavam que o real cairia apenas mais 6% até o fim do ano, Batista afirmava que o processo de desvalorização da moeda estava "apenas no começo".

Nos bastidores, a JBS estava perto de completar um aumento de quase 50% em sua posição de derivativos, na comparação com dezembro de 2014.

Desde a entrevista, o real caiu mais 26% em meio ao agravamento da recessão, à queda nos preços das commodities e a um escândalo de corrupção que deixou a presidente Dilma Rousseff em situação política delicada.

Enquanto isso, as ações da JBS subiram 49% neste ano, um raro ponto de luz em meio à crise do mercado brasileiro.

A JBS está gastando cerca de R$ 4 bilhões em juros para carregar seus derivativos, duas vezes tudo o que lucrou em 2014, estimam analistas do Credit Suisse e do Bradesco BBI.

Sua posição inclui US$ 5,5 bilhões em contratos futuros negociados na Bolsa de São Paulo, quase o dobro da posição que mantinha no fim de 2014, e cerca de US$ 6,3 bilhões em contratos a termo, operados em mercado de balcão.

"Definitivamente não acreditamos em proteções naturais porque não se pode garantir que as receitas e as margens continuarão constantes em dólares", disse o diretor financeiro da JBS, Jerry O'Callaghan. "Nós consideramos que nossa estratégia é prudente e de nenhuma maneira especulativa."