Motoristas de app influencers e candidatos: quem são? O que pensam?
Na variada fauna de postulantes ao cargo de vereador nas eleições municipais deste ano, há um grupo de candidatos que se encaixa em um perfil bastante peculiar, principalmente nas capitais: os motoristas de aplicativo influenciadores.
Em geral, eles ganharam notoriedade nas redes sociais contando histórias do dia a dia ao volante e compartilhando dicas sobre como ganhar mais dinheiro em plataformas como Uber e 99.
Para turbinar suas candidaturas, vêm aproveitando o recente burburinho em torno do projeto de lei complementar (PLP) 12/2024. Apresentado pelo governo federal em março deste ano e atualmente em discussão no Congresso Nacional, o texto propõe a regulamentação da atividade dos motoristas de app.
No intuito de se cacifarem como "representantes da categoria", os motoristas-influencers investem — às vezes do próprio bolso, segundo eles próprios — em participações em audiências públicas promovidas pela Câmara dos Deputados em Brasília e por Assembleias Legislativas estaduais. Nesses espaços, os discursos tão breves quanto inflamados servem de matéria-prima para a edição de vídeos de impacto, publicados sobretudo no Instagram e no YouTube.
O que pensam esses candidatos?
De forma geral, os motoristas-influencers têm aversão a sindicatos e são filiados a partidos de centro-direita e de direita. Também repudiam a proposta do governo para a profissão, nem sempre espalhando informações precisas sobre o texto, e demonstram mais apreço por um projeto de lei de autoria do deputado federal Daniel Agrobom (PL-GO). Filiado ao partido de Jair Bolsonaro, o congressista é identificado com o agronegócio, mas também lidera a Frente Parlamentar dos motoristas de aplicativo.
Na esfera municipal, os candidatos defendem propostas semelhantes para seus eventuais mandatos: da construção de pontos de apoio para os motoristas, com banheiros e locais para descanso, à criação de zonas específicas de embarque e desembarque de passageiros para acabar com a chamada "indústria da multa".
Marlon Luz, o 'pai de todos'
O pioneiro da categoria dos motoristas-influencers é Marlon Luz, candidato à reeleição na capital paulista pelo MDB de Michel Temer. Após criar o canal "Marlon do Uber" no YouTube, hoje com 717 mil inscritos, ele se elegeu vereador em 2020, com a benção do MBL (Movimento Brasil Livre).
Simpático às plataformas em seus primeiros vídeos, Marlon Luz foi com o passar do tempo encampando um discurso mais crítico às empresas. Hoje, na Câmara Municipal, tem como principais bandeiras um valor mínimo por corrida e uma taxa fixa de desconto para os aplicativos em operação na cidade, propostas que se confundem com a regulamentação em nível federal.
Ele também é uma espécie de padrinho de outros motoristas que tentam entrar para o mundo da política. É o caso de Atan Gama, candidato em Salvador (BA) pelo Podemos, partido que já abrigou Sergio Moro e Deltan Dallagnol, expoentes da Lava Jato.
"O Atan não é só aquela pessoa super alto astral, o que também é fantástico, ele também é sério quando tem que ser sério", garante Marlon Luz em um vídeo postado no Instagram, ao lado de um sorridente Atan, que contabiliza 217 mil seguidores na rede social.
Ao participar de uma audiência pública sobre o PLP 12/2024, promovida pela Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados, Atan abriu sua fala dizendo que "sindicato não me representa", uma crítica ao trecho do projeto de lei do governo que defende negociações coletivas entre motoristas e empresas, tocadas por entidades de trabalhadores.
Ataques ao projeto de lei do governo
Outro influenciador de destaque é Ian Rocha, com 202 mil inscritos no seu canal do YouTube, o "Motorista 6 Estrelas". Engenheiro civil de formação, ele é candidato a vereador pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB), em Belo Horizonte (MG).
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Quero receberNo seu Instagram, Rocha mantém afixado um vídeo com sua participação em uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, realizada em maio, na qual também se manifesta contra o projeto de lei em tramitação no Congresso.
Em recado ao deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos-PE), relator do PLP 12/2024 na Câmara, o youtuber e candidato critica a proposta do congressista de não estabelecer um valor mínimo para corridas. Coutinho afirma que a criação de um piso de remuneração por viagem poderia prejudicar a população mais pobre que utiliza o serviço para distâncias curtas e viagens baratas.
No vídeo, Rocha aproveita para alfinetar o governo, autor original do PLP 12. "Se ele subsidia metrô, ônibus, ele no mínimo tem que subsidiar o motorista de aplicativo, já que está colocando a gente para pagar essa conta", discursa.
A relatoria do projeto de lei, feita pelo deputado pernambucano Augusto Coutinho, é alvo também de seu conterrâneo e candidato a vereador em Recife, Professor Thiago (PSD-PE). Com passagem por formações do RenovaBr, conhecido instituto de capacitação de novas lideranças políticas, ele é outro a sustentar uma retórica de alergia à esquerda.
"O motorista quer ter liberdade pra trabalhar, recebendo um valor justo, sem depender de sindicato para decidir o seu futuro", afirma em uma de suas postagens no Instagram, rede em que acumula mais de 60 mil seguidores.
Para se eleger vereador, ele defende o aumento da "idade veicular" em Recife, tolerando o uso de carros de até 10 anos no transporte de aplicativos, além da criação de áreas específicas para embarque e desembarque de passageiros, para evitar multas.
A lista de motoristas influenciadores, de perfil semelhante e com candidaturas nas capitais brasileiras, inclui ainda os nomes de Denis Moura (MDB) e Moisés Freitas (PRD) no Rio de Janeiro; Sérgio Guerra (PSD) em Curitiba; e Juliano Brum (Podemos), em Porto Alegre. Para além das grandes metrópoles, há diversos motoristas se candidatando por cidades do interior, em todo o país.
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